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LEGISLAÇÃO
Carga de 35 horas semanais teria aberto 53 mil novos postos de trabalho, segundo o governo; sindicato nega
França reduz jornada para criar emprego
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris
A ministra do Emprego e da Solidariedade da França, Martine
Aubry, anunciou anteontem que já
passa de 1 milhão o número de empregados beneficiados por acordos para redução da jornada para
35 horas semanais. Ainda segundo
o governo, a medida já ajudou a
criar 53 mil novos postos de trabalho, colaborando para reduzir o
número total de desempregados.
Esses números vieram acompanhados de dados que mostram
uma redução de 38 mil no número
de pessoas à procura de emprego
no país. A dedução do governo é
que sua política está dando certo.
O combate ao desemprego é uma
das mais fortes bandeiras do governo do primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, líder de uma
frente de partidos de esquerda. E a
chamada Lei Aubry, que prevê a
redução da jornada de trabalho em
1º de janeiro do ano 2000 para empresas do setor privado com mais
de 20 assalariados, é a mais radical
intervenção do governo no mercado de trabalho. Hoje, a jornada na
França é de 39 horas.
No total, são cerca de 13 milhões
os assalariados que podem ser beneficiados pela redução da jornada. Nos cálculos otimistas do governo Jospin, mais de 500 mil empregos novos podem ser criados
pela nova legislação.
A lei prevê também auxílio às
empresas que firmarem acordos
com os empregados, antecipando
a adoção da medida, sob determinadas condições (veja quadro).
Se o governo acha que tem o que
comemorar, as 35 horas ainda causam apreensão entre empresários
e trabalhadores.
O caso do grupo Peugeot-Citröen, cujos funcionários passam a
trabalhar 35 horas por semana em
1º de setembro, ilustra bem a posição do empresariado francês.
O grupo assinou um acordo com
seus funcionários, mas ainda acredita que a jornada menor levará a
um efeito oposto ao esperado - à
redução do nível de emprego, por
causa da perda de competitividade
da indústria francesa frente a países que adotam uma jornada
maior.
Do lado dos trabalhadores, a Lei
Aubry é vista com desconfiança
por permitir a redução proporcional dos salários e por facilitar a flexibilização das jornadas, já que os
acordos possibilitam a criação de
um sistema de banco de horas
anual. Além disso, as principais
centrais sindicais ainda consideram que o número de empregos
criados está abaixo da expectativa
criada pelo governo.
No meio de mês, uma nova lei será encaminhada ao Parlamento,
para tapar os buracos deixados pela primeira lei. Essa nova lei será
interpretada como o fiel da balança que se tornou o governo, pressionado hoje pelos dois lados do
setor produtivo.
As conversas em torno das 35 horas se transformaram no principal
objeto de negociação entre empregadores e empregados.
Os trabalhadores procuram
manter seus salários, muitas vezes
abrindo mão de aumentos futuros.
Os empresários tentam aproveitar
a lei para reorganizar a produção,
concentrando as horas de trabalho
nos períodos em que consideram
mais importantes.
De acordo com a central sindical
CFDT (Confederação Francesa e
Democrática do Trabalho), que assinou quase metade dos mais de
3.300 acordos já firmados entre
empresários e trabalhadores, a Lei
Aubry teve o efeito positivo de favorecer o diálogo entre patrões e
empregados.
Para a central, a lei ajudou na
reorganização das empresas, mas
não criou novos empregos.
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