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SERVIÇOS
Avaliação é de especialista em privatização, ao analisar o papel das agências reguladoras e o caso da Telefônica
Conflitos em telefonia tendem a crescer
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
A privatização no setor de telecomunicações não acaba com as
questões políticas associadas à
operação de grandes empresas que
atuam em setores de infra-estrutura. Ao contrário, surgem novas
questões políticas que devem gerar
mais conflitos.
Essa é a opinião de Ricardo Tavares, pesquisador brasileiro que
participa do projeto " A Economia
Política da Privatização e Regulação das Telecomunicações no Brasil", no Instituto das Américas, na
Universidade da Califórnia, em
San Diego, EUA, com apoio da
Fundação Tinker. Tavares é doutorando em relações internacionais na mesma universidade.
Leia, a seguir, os principais trechos de sua entrevista à Folha.
²
Folha - O Brasil começa a ter alguma experiência com agências
reguladoras. Como você avalia o
papel dessas agências no caso da
economia brasileira?
Tavares - A introdução das chamadas "agências reguladoras independentes" no quadro institucional brasileiro ainda é bastante
recente e, sem dúvida, representa
um passo fundamental no processo de reforma do Estado. O investimento privado nos setores de infra-estrutura vai depender muito
mais da performance dessas agências do que de flutuações macroeconômicas conjunturais. As agências reguladoras procuram assegurar que os direitos dos consumidores e os interesses nacionais sejam
garantidos.
Folha - O que é mais importante
numa agência setorial? A regulamentação em defesa do consumidor ou a formulação de diretrizes
que, em última análise, equivalem
a alguma forma de política industrial?
Tavares - Bem, essa é uma pergunta muito delicada e difícil de
responder. É claro que agências reguladoras, em princípio, não têm
nada a ver com política industrial.
Mas a minha visão é que, nesse
particular, ninguém tem as mãos
totalmente limpas. A FCC americana, por exemplo, fez uma enorme concessão de canais de televisão de alta definição gratuitamente! Isso vai permitir às atuais redes
de tevê multiplicarem o número de
canais, por meio do uso da nova
tecnologia. Para mim, isso é política industrial para criar competitividade da indústria dos EUA na
área de tevê de alta definição. Mas
trata-se de uma decisão regulatória. O próprio BNDES está desenvolvendo incentivos financeiros à
localização de indústrias de equipamentos de telecomunicações no
Brasil e à continuidade no mercado das centrais de comutação como a Trópico, que usam tecnologia criada pelo CPqD da Telebrás e
têm uma penetração atual de quase um terço do mercado.
Folha - Temos agora o problema
com a Telefônica. Você tem acompanhado? Poderia dar a sua própria avaliação desse episódio?
Tavares - Eu tenho acompanhado o problema da Telefônica, ainda que a uma certa distância. A
empresa, assim como outras operadoras estaduais, foi multada tanto pelo Ministério da Justiça quanto pela Anatel devido à baixa performance e ao corte de serviços de
um grande número de consumidores paulistas. A multa da Anatel
me pareceu bem interessante, porque estabeleceu pagamentos da
empresa aos consumidores lesados pelo corte de serviços, em vez
de ao governo. O caso da Telefônica chama a atenção porque a qualidade dos serviços da Telesp caiu
após a privatização; essa é uma situação diferente da Telerj, no Rio
de Janeiro, que sempre teve problemas sérios. Haverá muitos outros conflitos -é da natureza do
setor e, em especial, do momento
de transição que o Brasil está atravessando. O excelente resultado do
governo no leilão da Telebrás
transferiu recursos das empresas
para o governo em detrimento dos
consumidores. Ou seja, as empresas pagaram alguns bilhões de dólares ao governo federal para comprar partes do Sistema Telebrás, e
agora estão diante de incentivos
muito fortes para cortar pessoal e
despesas rapidamente a fim recuperar o investimento.
Folha - A regulação, no caso, conviverá agora com uma CPI?
Tavares - O sistema regulatório
criado com a Lei Geral de Telecomunicações de 1997 não dá -por
razões históricas- autonomia regulatória aos Estados na área de
serviços básicos de telecomunicações. No entanto, no Brasil temos
um sistema político federalista. A
Assembléia Legislativa está de certo modo ocupando um vazio institucional, dada a ausência de poder
regulatório estadual nessa área. Eu
não sei se não seria mais conveniente formalizar algum tipo de
poder regulador sobre as redes locais para comissões estaduais de
regulação de serviços públicos, em
vez de deixar as questões regulatórias se politizarem nos Estados. É
muito importante que a Telefônica
ponha a sua casa em ordem, a fim
de evitar uma histeria contra a privatização. A Telefônica, com os
seus problemas, está abrindo grandes oportunidades para competidores entrarem no mercado.
Folha - Nos EUA, tem havido uma
reversão da onda de desmembramento das Baby Bells.
Tavares - O que está acontecendo
é que o mercado, que sempre foi
segmentado (mercado local, longa-distância/internacional, celular/PCS, TV a cabo, serviços de Internet), está se fundindo. As empresas querem oferecer um pacote
só com todos esses serviços e uma
única conta a pagar.
Folha - Poderá ocorrer algo semelhante no Brasil, depois desta
fase inicial da privatização?
Tavares - Tenho certeza que sim,
em dois ou três anos.
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