São Paulo, sábado, 02 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PF prende grupo acusado de fraudar US$ 1 bi em títulos

Grupo é suspeito de falsificar e negociar títulos de crédito no Brasil e em mais 21 países; ontem ocorreram 12 prisões

Operação Bruxelas, que contou com 124 policiais no país, tem como alvos empresários, advogados e um funcionário do Senado


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu 12 integrantes de uma quadrilha que falsificava títulos de crédito de instituições financeiras com valores de face que, somados, chegariam a US$ 1 bilhão e que eram comercializados no Brasil e em mais 21 países.
Os títulos eram falsificados em Goiânia, onde foram presos dois acusados. No mesmo local forjavam-se certificados que garantiam a autenticidade dos documentos, entre os quais os emitidos pelo "Swift" (Society for Worldwide Interbank Financial Telecomunication).
A Swift é uma rede de telecomunicações, criada em 1973 em Bruxelas, que funciona como um sistema integrado de compensação em operações internacionais. Atende mais de 8.000 instituições em 207 países e territórios. No Brasil, 83 bancos estão cadastrados.
Batizada de "Bruxelas", capital da Bélgica, onde está situada a sede da Swift, a operação da PF prendeu, em São Paulo e Curitiba, os investigados acusados de comandar o esquema. A ação contou com 124 policiais.
O delegado David Sérvulo, da PF em Brasília, que coordena a investigação iniciada em junho do ano passado, disse que o grupo atuava desde 1996, segundo depoimentos já colhidos.
A organização teria praticado, entre outros, os crimes de falsificação de títulos de crédito, formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, além de crime contra o sistema financeiro. Somente a emissão dos títulos falsos rendeu aos responsáveis por sua produção lucro de US$ 100 mil no ano passado.
Ganho maior teriam os empresários de São Paulo, Wagner dos Santos, e de Curitiba, Alceu Lima, donos das empresas em nome das quais os títulos de crédito eram emitidos. Recebiam de 3% a 5% do valor de face inscritos nos documentos negociados, diz a PF. Santos teria teria faturado US$ 300 mil com o negócio em 2006. A Folha não localizou os representantes legais dos empresários.
Sérvulo disse que os títulos eram comprados por pessoas de boa e de má-fé no exterior. No primeiro caso, por exemplo, há um empresário norte-americano que adquiriu papéis falsificados no valor de US$ 900 milhões. Iria usá-los como garantia para um empréstimo em uma instituição financeira quando descobriu a fraude e acionou o FBI, a polícia federal dos EUA. Na Romênia, há em circulação dez títulos emitidos pelo grupo, com valor de face de US$ 50 milhões cada um.
A principal linha de investigação tem como foco aqueles que compraram de má-fé, como ocorreu no Equador. A intenção dos adquirentes era usar o título comprado para fazer um empréstimo por meio do qual iriam esquentar dinheiro do narcotráfico.
Emitidos a mando dos empresários de São Paulo e Curitiba, os títulos eram negociados, no Brasil e no exterior, por meio de intermediários, que, em regra, atuavam de má-fé.
Um desses intermediários foi preso ontem em Brasília. É Givon Siqueira Machado Filho, funcionário do Senado, que desde 7 de março se afastou das atividades, mediante licença sem vencimentos. Ele é assessor técnico e já trabalhou nos gabinetes dos senadores Cícero Lucena (PSDB-PB), Sibá Machado (PT-AC) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
O serviço telefônico informa que, a pedido do assinante, o telefone de Machado Filho está programado para não receber chamadas. A PF pediu a prisão de 14 suspeitos. Dois estão foragidos: um no Rio de Janeiro e outro em Portugal.


Texto Anterior: Governo não muda meta de inflação para 2009
Próximo Texto: Brasil tem 29 milhões sem proteção social
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.