São Paulo, terça-feira, 02 de junho de 2009

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Montadoras sobreviventes serão menores

Para especialistas, indústria automobilística americana que surgirá da crise será menor, com menos modelos e mais econômicos

Setor terá de conviver com menos pontos de venda; utilitários esportivos, de alto consumo de combustível, serão mercado de nicho

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Seja qual for o resultado da estatização de fato do que um dia foi um dos maiores símbolos do capitalismo americano, um consenso começa a se formar entre analistas e especialistas: o pedido de concordata da GM ontem encerrou uma era da indústria automobilística que já durava décadas.
Nos próximos meses e anos, dizem os estudiosos, o que surgirá da crise será uma indústria menor, que fabricará carros em média menores, com uma variação menor de modelos, a ser comercializados em menos pontos de venda e que gastarão menos combustível, seja qual for o tipo de combustível.
Ainda haverá mercado para os utilitários esportivos, por exemplo, os jipes beberrões conhecidos pela sigla em inglês SUV que na virada do século 21 eram líderes em venda, passando até os carros leves de passeio. Mas esse será um mercado de nicho, como são hoje os esportivos ou os conversíveis.
"O problema é que tanto a GM como a Chrysler estão nesse ramo há cem anos e ainda conduziam seu negócio como se tivessem o domínio total do mercado, o que não é mais verdade", disse à Folha Bruce Belzowski, diretor associado do Instituto de Pesquisa de Transporte da Universidade de Michigan, Estado que é sede das principais montadoras.
O caso dos pontos de vendas é exemplar, segundo o estudioso. Nos próximos meses, a "nova GM" deve fechar perto de 1.100 de suas cerca de 6.000 concessionárias no país. Na nova realidade, diz Belzowski, "alguns vão sair completamente do negócio, outros vão continuar como mecânicas ou vendedores de usados, que é onde está o verdadeiro dinheiro, e uma terceira parte virará multimarcas, com pontos em que poderão vender carros de empresas competidoras".
O mesmo deve acontecer com o número de veículos vendidos, que no ano passado atingiu 17 milhões de unidades e por três momentos na história recente (1987, 2002 e 2005) ultrapassou os 20 milhões. A previsão é que o novo patamar seja algo mais próximo da taxa atual anualizada de 9,3 milhões -para comparar, o Brasil vendeu 2,82 milhões de carros em 2008, o que o deixou em quinto lugar no ranking mundial.
Segundo cálculos do economista Donald Grimes, especializado em mercado automobilístico, de 1970 a 2001 havia 0,76 veículo por habitante nos EUA. A relação baixou para o atual 0,4, na qual ele acha que deve continuar, por uma série de fatores. O mais imediato é a crise financeira-econômica.
Outros são mais preocupantes: o começo da entrada na aposentadoria dos "baby-boomers", como são chamados os que nasceram entre 1946 e 1964; a chegada ao poder de uma geração supostamente mais frugal e com mais consciência ambiental; o aumento da idade média da frota, que passou de 8,3 anos em 2000 para 9,4 anos em 2009; e o choque de realidade causado pelo fim da bolha imobiliária.


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