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"Boom" imobiliário acentua alta de preços
Condições de financiamento ficaram mais favoráveis, e taxas tendem a seguir em queda; o metro quadrado, porém, deve subir
Terrenos caros nas grandes cidades empurram valor do metro quadrado para cima; regiões menos nobres têm maior potencial de crescer
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Aconteceu em todo o mundo
desenvolvido e em vários países emergentes. Onde o juro do
financiamento imobiliário
caiu, o preço dos imóveis subiu,
chegando mesmo a disparar
nos grandes centros urbanos,
segundo o Federal Reserve [o
BC dos EUA] e o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Somada à escassez de terrenos nas regiões nobres das cidades brasileiras, o resultado
leva a uma inflação sem precedentes nos preços dos novos
empreendimentos, que mais
tarde replica também na avaliação dos imóveis usados.
Em São Paulo, o metro quadrado médio dos lançamentos
passou de R$ 724 em 1995 para
R$ 1.833 em maio deste ano, segundo a consultoria imobiliária
Embraesp (Empresa Brasileira
de Estudos de Patrimônio).
A cidade de São Paulo teve só
neste ano 150 lançamentos,
que colocaram 9.968 novas
unidades à venda. Foram vendidos 8.013 unidades no valor
de R$ 2,55 bilhões -oferta e
procura não estão distantes. Os
novos financiamentos somam
R$ 5,5 bilhões -58% mais que
no mesmo período de 2006.
E o mercado imobiliário, que
cresce a reboque da economia,
afirma que isso é apenas o começo. O país tem crédito habitacional de 2% do PIB, enquanto México e Chile, emergentes
com selo de bom pagador do
"grau de investimento", têm
9% e 13%, respectivamente.
Terrenos caros
Como fazer um bom negócio
ao comprar um imóvel em
meio a essa mudança? As condições para a compra da casa
própria são favoráveis.
Na casa de 11% a 12% ao ano,
os juros são os mais baixos já
oferecidos -é verdade que estão longe de "patamares civilizados", como 6% dos EUA e 8%
do México. Mas devem cair
mais nos próximos anos. Neste
caso, vale a pena esperar por juro menor e crédito farto.
O problema é que os preços
do metro quadrado construído
devem subir bastante -pelo
menos nunca caíram no Brasil.
No caso das grandes cidades,
a expectativa é de forte aumento nos preços. Estudo do Fed
afirma que historicamente o
custo do terreno representava
em média 25% do valor de um
imóvel -o restante vinha de
material de construção, mão-de-obra, tributos etc. Nesta década, porém, o Fed afirma que
nas regiões mais disputadas
dos Estados Unidos, como Manhattan, o terreno soma 50%
do valor de uma residência.
No Brasil, isso começa a
acontecer no centro expandido
de São Paulo e na orla da zona
sul carioca. Na média, o terreno
ainda faz 20% a 25% do preço
final da casa brasileira, segundo
estimativas da Abecip (associação das entidades de crédito
imobiliário) e do Secovi (sindicato da habitação).
Em São Paulo, o divisor de
águas foi a nova lei de zoneamento, que entrou em vigor em
2005 e tem reflexos ainda hoje.
A lei limita a verticalização da
cidade e impõe custo adicional
para levantar mais do que o dobro de metros quadrados de um
terreno na região nobre.
Bolha em São Paulo
Com base nessa constatação,
as principais construtoras e incorporadoras levantaram dinheiro abrindo o capital na Bolsa para comprar os melhores
terrenos nas regiões nobres de
São Paulo, levando a uma verdadeira inflação nos terrenos e
nos imóveis novos na cidade.
"Um terço do "boom" imobiliário é especulação. Em São
Paulo estamos próximos do limite de valor. Mas, para quem
vai comprar a casa própria, a dica é não se preocupar tanto
com o preço no futuro. A pessoa
deve pensar na conveniência de
tamanho e localização e ver se
pode pagar", disse Luiz Paulo
Pompeia, diretor da Embraesp.
"Se tiver capacidade de compra, é melhor fazer agora do
que deixar para depois", completa Osvaldo Correia Fonseca,
diretor-geral da Abecip. Com o
aumento dos preços nas regiões nobres, a opção para a
classe média é comprar um
imóvel usado ou se dirigir para
bairros mais afastados.
"Há quem não aceite mudar
do bairro em que cresceu nem
ficar longe dos pais. Então, prefere morar em um espaço menor ou antigo", disse Pompeia.
Razões do "boom"
A analista Amaryllis Romano, da consultoria Tendências,
atribui o "boom" ao crescimento da renda e do emprego, ao lado do aperfeiçoamento de instrumentos que trouxeram maior segurança jurídica.
De acordo com ela, o setor
ganhará um novo impulso
quando forem disseminados os
mecanismos de securitização
de recebíveis -quando as incorporadoras poderão se capitalizar adiantando prestações
que irão receber dos mutuários, como aconteceu no México. Esses papéis vão parar em
fundos, cujos cotistas assumem
o risco da habitação.
A consultoria espera um
crescimento de 90% nos financiamentos neste ano e de 6%
para a construção civil no país.
Para o Sinduscon (sindicato
das construtoras), não há
"boom". "Estamos é a caminho
da normalidade do mercado.
Os preços sobem quando há desequilíbrio. Há crédito para o
tomador, mas não para as empresas oferecerem novos imóveis", afirmou João Robusti,
presidente da entidade.
"Estamos vivendo uma recuperação. Viemos de um mercado deprimido, com preços estagnados. Hoje tudo conspira favoravelmente. Estamos em
um ciclo virtuoso", disse Celso
Petrucci, diretor do Secovi-SP.
Para o banco americano JP
Morgan, o "boom" imobiliário
já aparece no preço das ações
das construtoras brasileiras,
que ficaram mais caras que as
mexicanas. O banco afirma que
o grande "boom" vai acontecer
dentro de três a cinco anos,
quando a construção civil se
voltar para as classes C, D e E,
com imóveis de até R$ 150 mil.
"Em imóvel a gente não olha
nada de forma estanque. As
mudanças demoram para chegar", afirmou Pompeia.
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