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ENERGIA
Só 7 de 24 empresas do setor tiveram lucro no segundo trimestre; estrangeiras têm pior desempenho que as nacionais
Sem racionamento, elétricas dão prejuízo
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Das 24 empresas de capital
aberto do setor elétrico que já divulgaram seus balanços do segundo trimestre deste ano, apenas sete registraram lucro (29%).
Das que operam no azul, três são
controladas por grupos estrangeiros e as demais são estatais.
Esses resultados mostram uma
deterioração em relação ao ano
passado, quando, apesar do racionamento, 21 empresas registraram lucro, num universo de 31
companhias abertas (67%).
Os balanços mostram, também,
que as companhias controladas
pelo capital estrangeiro vêm tendo pior desempenho que as nacionais. Das que operaram no
azul em 2001, oito são estrangeiras e 11 nacionais, das quais oito
são estatais (veja quadro nesta página). Algumas com controle estrangeiro, em pior situação, estão
tendo seus ativos postos à venda e
os investidores ameaçam deixar o
país.
Revisão tarifária
Mergulhadas na crise, as empresas esperam ser içadas por uma
revisão tarifária, prevista para o
ano que vem, que garanta a remuneração do capital investido pelos
acionistas. Isso exigiria tarifas
34% superiores ao patamar atual,
de acordo com simulação feita pela Abradee (Associação Brasileira
das Distribuidoras de Energia elétrica).
As distribuidoras alegam que as
tarifas atuais não remuneram o
capital investido no país adequadamente. "Nos últimos três anos
o nível de remuneração do investimento foi baixo", diz Wilson
Ferreira Júnior, presidente da
CPFL.
Segundo o presidente da Abradee, Orlando Gonzáles, o retorno
sobre os ativos das companhias
caiu de 1,9% em 1997 para -0,2%
no ano passado. "No mercado internacional o retorno sobre o ativo é de 4% a 5% ao ano", diz Luiz
Carlos Guimarães, diretor-executivo da Abradee.
Mas, segundo analistas, nessa
comparação deve-se levar em
conta que os ativos das empresas
lá fora estão praticamente amortizados, o que eleva sua rentabilidade. No Brasil, os investimentos
são recentes e têm cerca de 30
anos para serem amortizados,
prazo das concessões.
Socorro
No ano passado, o setor foi salvo
do prejuízo pelo socorro de R$ 7,5
bilhões do BNDES para repor
perdas provocadas pelo racionamento. Esses recursos serão pagos pelos consumidores, que tiveram reajuste tarifário de 2,9% (residenciais) e 7,9% (comerciais e
industriais), a vigorar por nove
anos e meio.
Tudo em nome da manutenção
do equilíbrio econômico-financeiro das empresas, garantido pelo governo nos contratos de concessão por ocasião das privatizações.
Agora as empresas querem que
essa garantia se consolide na revisão tarifária do ano que vem, garantindo a remuneração do capital com a adoção de uma metodologia de cálculo das novas tarifas
baseada no valor mínimo dos leilões de privatização.
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica), órgão regulador
do setor, quer que o cálculo da remuneração do capital seja feito
sobre o valor dos ativos. Por essa
metodologia, haveria necessidade
de uma correção de 20% nos preços, de acordo com simulação da
Abradee.
As distribuidoras acham que já
estão fazendo uma concessão
nessa negociação ao abrirem mão
de usar como referência para cálculo da remuneração do investimento os valores efetivamente
pagos nos leilões.
"O ágio pago foi risco assumido
pelos investidores", diz Eduardo
José Bernini, presidente da EDP
do Brasil, subsidiária da Eletricidade de Portugal, e membro da
Câmara Brasileira de Investidores
de Energia.
De acordo com ele, a revisão tarifária não significa que haverá
um aumento linear de preços.
"Ela passa pela revisão da estrutura tarifária e a redução de impostos, que hoje representam 30%
dos valores pagos pelo consumidor", diz Bernini.
O físico Luiz Pinguelli Rosa diz
que "não dá para o consumidor
ser o bode expiatório do setor elétrico". Em seminário realizado na
sexta-feira em São Paulo, ele afirmou que é necessário buscar soluções para expandir o setor elétrico
e remunerar o investidor sem
onerar mais o consumidor.
"O governo fala em não quebrar
contratos com as concessionárias
de energia, garantindo-lhes o
equilíbrio financeiro. Mas o primeiro contrato quebrado foi o
com os consumidores que tiveram de apagar as luzes no ano
passado e pagar mais por isso",
afirma Pinguelli.
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