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Quebra da Enron e dívida alta explicam crise
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise do setor elétrico é consequência de problemas externos
-a quebra da Enron, gigante do
setor, necessidade de fazer caixa
das corporações, como AES e
EDF- e da política agressiva de
endividamento -praticada,
principalmente, pelas empresas
controladas por estrangeiros.
Os estrangeiros adquiriram as
empresas com recursos captados
no mercado financeiro internacional quando o dólar estava em
torno de R$ 1,20 e o câmbio era fixo. Com a desvalorização de 1999,
a dívida explodiu.
"Hoje essas empresas estão pagando juros e amortizações sem
que o retorno da operação remunere nem sequer o capital próprio", diz Eduardo José Bernini,
presidente da EDP do Brasil.
Segundo ele, quando começou a
privatização do setor, em 1996, o
retorno médio esperado sobre o
capital próprio era de 12% ao ano,
em dólar, padrão obtido no setor
elétrico em termos internacionais. Hoje, o retorno sobre o capital próprio é de 6%. "Menor do
que a poupança", diz.
Além disso, houve frustração de
expectativas. "As empresas foram
compradas por um preço alto,
quando a taxa de câmbio era fixa,
e havia a expectativa de crescimento econômico", observa Alexandra Strommer, analista do JP
Morgan.
Segundo ela, o impacto da inversão desse cenário foi maior para as empresas controladas por
estrangeiros, pois elas adotaram
uma gestão financeira mais agressiva, endividando-se em dólar. "Já
as estatais têm limitações legais
para captar recursos", diz.
As empresas privatizadas que
têm controle do capital nacional
também foram compradas com
financiamentos, mas em reais.
"Para a VBC, por exemplo, era
natural comprar empresas com
recursos captados internamente",
diz Strommer.
Para o estudioso do setor Ildo
Sauer, Ph.D. em engenharia pelo
MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts) e coordenador do
curso de pós-graduação em energia da USP (Universidade de São
Paulo), "os grupos internacionais
endividaram as empresas e estão
entregando a sucata. Mesmo que
vendam barato os seus ativos, já
ganharam muito dinheiro".
Segundo Sauer, desde o início
do processo de privatização os
controladores dessas empresas
remeteram dinheiro para suas
matrizes na forma de lucros, dividendos, contratos de compra de
equipamentos, sem qualquer
controle das autoridades locais.
Ele diz que os investidores internacionais vieram para o Brasil para criar mercado para seus produtos (serviços, engenharia, equipamentos) e remeter dinheiro para
as matrizes, e não para ficar.
"Eles receberam empresas saneadas, com baixo endividamento, e estão entregando empresas
quebradas, como a Cemar, ou sucateadas financeiramente", diz
Sauer. Em concordata, a Cemar
está sob intervenção da Aneel,
que não aprovou a venda da empresa pela americana Pennsylvania Power & Light.
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