São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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Quebra da Enron e dívida alta explicam crise

DA REPORTAGEM LOCAL

A crise do setor elétrico é consequência de problemas externos -a quebra da Enron, gigante do setor, necessidade de fazer caixa das corporações, como AES e EDF- e da política agressiva de endividamento -praticada, principalmente, pelas empresas controladas por estrangeiros.
Os estrangeiros adquiriram as empresas com recursos captados no mercado financeiro internacional quando o dólar estava em torno de R$ 1,20 e o câmbio era fixo. Com a desvalorização de 1999, a dívida explodiu.
"Hoje essas empresas estão pagando juros e amortizações sem que o retorno da operação remunere nem sequer o capital próprio", diz Eduardo José Bernini, presidente da EDP do Brasil.
Segundo ele, quando começou a privatização do setor, em 1996, o retorno médio esperado sobre o capital próprio era de 12% ao ano, em dólar, padrão obtido no setor elétrico em termos internacionais. Hoje, o retorno sobre o capital próprio é de 6%. "Menor do que a poupança", diz.
Além disso, houve frustração de expectativas. "As empresas foram compradas por um preço alto, quando a taxa de câmbio era fixa, e havia a expectativa de crescimento econômico", observa Alexandra Strommer, analista do JP Morgan.
Segundo ela, o impacto da inversão desse cenário foi maior para as empresas controladas por estrangeiros, pois elas adotaram uma gestão financeira mais agressiva, endividando-se em dólar. "Já as estatais têm limitações legais para captar recursos", diz.
As empresas privatizadas que têm controle do capital nacional também foram compradas com financiamentos, mas em reais. "Para a VBC, por exemplo, era natural comprar empresas com recursos captados internamente", diz Strommer.
Para o estudioso do setor Ildo Sauer, Ph.D. em engenharia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e coordenador do curso de pós-graduação em energia da USP (Universidade de São Paulo), "os grupos internacionais endividaram as empresas e estão entregando a sucata. Mesmo que vendam barato os seus ativos, já ganharam muito dinheiro".
Segundo Sauer, desde o início do processo de privatização os controladores dessas empresas remeteram dinheiro para suas matrizes na forma de lucros, dividendos, contratos de compra de equipamentos, sem qualquer controle das autoridades locais.
Ele diz que os investidores internacionais vieram para o Brasil para criar mercado para seus produtos (serviços, engenharia, equipamentos) e remeter dinheiro para as matrizes, e não para ficar.
"Eles receberam empresas saneadas, com baixo endividamento, e estão entregando empresas quebradas, como a Cemar, ou sucateadas financeiramente", diz Sauer. Em concordata, a Cemar está sob intervenção da Aneel, que não aprovou a venda da empresa pela americana Pennsylvania Power & Light.



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