São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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Congresso de petróleo no Rio discute impacto de guerra

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Trazido ao país com o objetivo de atrair investimento externo, o 17º Congresso Mundial do Petróleo foi inaugurado ontem no Rio no momento em que a abertura do setor no Brasil está em xeque.
A recente intervenção do governo no mercado de gás de cozinha fez surgir a desconfiança dos investidores. O governo obrigou a Petrobras a baixar o preço do produto em suas refinarias e as distribuidoras e revendedoras a repassar a redução aos consumidores.
Também incomoda os investidores a decisão da Petrobras de segurar repasses da alta do dólar e da variação do preço do petróleo.
Preço livre era a premissa básica para a abertura do setor, iniciada em 1997, com a criação da Lei do Petróleo e a quebra do monopólio da estatal.
Para não pressionar a inflação, o governo decidiu baixar em 12,4% o preço do gás de cozinha (GLP) na refinaria e investiga a possibilidade de formação de cartel pelas distribuidoras, pois a queda ao consumidor não ocorreu com a mesma intensidade.
Também para não pressionar a inflação, a Petrobras não reajusta os preços dos combustíveis desde o dia 30 de junho, embora o dólar e o preço do petróleo tenham disparado no período.
""A indústria está preocupada com esses sinais. Mas entendemos que é uma situação temporária e excepcional", disse João Carlos de Luca, presidente do comitê organizador do congresso e da Repsol-YPF local.
Segundo Luca, as empresas foram atraídas ao mercado nacional por um quadro regulatório claro e definido. "Qualquer tentativa de mudança dessas regras é um retrocesso", afirmou.
A quase totalidade das companhias desembarcou no país para atuar na exploração e produção de petróleo -atividade até 1997 exclusiva da Petrobras.
Para Luca, o principal tema da reunião será o futuro da cotação do produto em um cenário de possível invasão do Iraque por tropas norte-americanas.
Uma guerra no Oriente Médio, em tese, elevaria o preço do produto no mercado internacional. A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) já considera aumentar a produção dos países-membros para amenizar os efeitos de um eventual conflito.
Estarão no Rio representantes de algumas das principais companhias do setor, entre elas a gigante venezuela PDVSA e a saudita Aramco (a maior empresa petrolífera do mundo).
"A grande discussão será como fornecer energia ao mundo sem impacto ao ambiente", disse à Folha o nigeriano Rilwamu Lukman, presidente da Opep.
Serão quatro dias de discussões, com a presença do secretário-geral da Opep, Álvaro Calderón, e ministros de petróleo de 14 países.
Em videoconferência na abertura do congresso, ontem, o presidente FHC disse que o Brasil foi capaz de reduzir a sua dependência externa em relação ao produto e trabalha para atingir o mais breve possível a auto-suficiência.

Petrobras e Argentina

A Petrobras deverá se desfazer de duas empresas ligadas ao setor de energia nuclear para conseguir concretizar a compra de 58,6% das ações Perez Companc, segunda maior petrolífera argentina.
O negócio, anunciado em julho, envolve US$ 1,125 bilhão e ainda depende da aprovação dos órgãos de defesa da concorrência e do governo argentino.
Segundo o jornal "Clarín", a legislação argentina impede empresas estrangeiras, como a Petrobras, de ter participações no capital de companhias ligadas ao setor de energia nuclear.


Colaborou João Sandrini, de Buenos Aires


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