São Paulo, segunda-feira, 02 de setembro de 2002

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NEGÓCIOS

Estrangeiros investem US$ 300 milhões no empreendimento, que será voltado exclusivamente para a exportação

Suíços vão produzir celulose em Roraima

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada do ciclo de alta dos preços de celulose e papel em 2002 está trazendo ao Brasil uma nova fábrica do ramo.
Investidores suíços, técnicos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e empresários internacionais estão negociando atualmente o investimento de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) na construção da empresa BrancoCel. O local do projeto surpreende: terrenos nos arredores de Boa Vista, em Roraima.
Geralmente, as indústrias do setor no Brasil, que produziram no ano passado 14,8 milhões de toneladas de papel ou celulose, escolhem os Estados do Sul, Sudeste e Nordeste para seus projetos. Os investidores da BrancoCel acabaram por optar por uma região completamente diferente, o Norte do país.
"Roraima vai nos permitir escolher duas vias para escoar a produção. Poderemos usar os rios Branco, Negro e Amazonas para chegar ao Atlântico. Ou transportar por terra a celulose pela Venezuela, chegando ao Caribe", afirma à Folha Israel Coslowsky, vice-presidente de operações da BrancoCel.
A disposição geográfica do novo projeto é fundamental, pois toda a produção anual de 260 mil toneladas será destinada exclusivamente à exportação.
A meta é enviar 85% da celulose para a Europa e 15% para os Estados Unidos e para a Ásia. Isso porque o consumo de papel no Brasil é ainda muito baixo. Cada brasileiro consome em média 40 quilos de papel ao ano, contra os 350 quilos de um norte-americano, por exemplo.
Os suíços querem garantir seu quinhão nos mercados mais lucrativos do mundo. Mesmo porque, com a atual crise cambial brasileira, eles até teriam adiado ou mesmo desistido do projeto, caso fossem vender a celulose no mercado brasileiro.
Isso porque os investimentos em dólar não seriam compensados pelo consumo em real. Os investidores querem faturar também em moeda norte-americana.

Plantação de acácias
O mais novo projeto da indústria de celulose do Brasil vai trabalhar com um tipo de madeira menos comum no setor. Em vez dos tradicionais eucaliptos ou pinheiros, a BrancoCel utilizará a acácia.
A escolha da planta foi mera coincidência. Os suíços já estavam plantando desde 1997 essas árvores em Roraima, porque elas são muito produtivas nas serrarias. Essas árvores também são usadas para a captação de dióxido de carbono (CO2) e despoluição atmosférica.
"Em poucos anos o plantio cresceu rapidamente, e os suíços decidiram destinar a plantação também para a celulose", afirma Coslowsky.
A BrancoCel tem hoje 8.500 hectares cobertos de acácias, com idades de um a três anos. O ciclo de corte das árvores é entre quatro e cinco anos. A empresa planeja ter 42 mil hectares de acácias até o final de 2005, quando a fábrica entrará em atividade.

Energia elétrica
O tipo de celulose a ser produzida será a de pasta termomecânica branqueada, que utiliza poucos produtos químicos no processo de fabricação. Portanto é menos poluente.
A BrancoCel fará também testes com o eucalipto, para comparar a produtividade dessa árvore com o da acácia. "Estamos plantando todo os anos 300 hectares daquela árvore na região", diz o vice-presidente de operações.
Coslowsky, que já trabalhou na indústria de papel Ancel e na Jari Celulose, no Pará, afirma que o projeto em Rondônia só foi possível porque houve a garantia de fornecimento de energia elétrica para a fábrica.
"Conseguimos a garantia do governo federal de uma reserva energética de 100 MW. Isso não seria possível na região Sudeste, onde a oferta de eletricidade é bastante escassa", afirma o executivo. A energia elétrica para o processamento da celulose da nova empresa virá da usina de Guri, na Venezuela.
O insumo foi possível devido às negociações com os governos federal e estadual. As conversas tiveram a intermediação da Investe Brasil, empresa de capital misto, da União e de empresas ou grupos como a Petrobras e Votorantim, criada em março deste ano para estimular projetos destinados à exportação.



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