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NEGÓCIOS
Estrangeiros investem US$ 300 milhões no empreendimento, que será voltado exclusivamente para a exportação
Suíços vão produzir celulose em Roraima
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A retomada do ciclo de alta dos
preços de celulose e papel em
2002 está trazendo ao Brasil uma
nova fábrica do ramo.
Investidores suíços, técnicos do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e empresários internacionais
estão negociando atualmente o
investimento de US$ 300 milhões
(cerca de R$ 1 bilhão) na construção da empresa BrancoCel. O local do projeto surpreende: terrenos nos arredores de Boa Vista,
em Roraima.
Geralmente, as indústrias do setor no Brasil, que produziram no
ano passado 14,8 milhões de toneladas de papel ou celulose, escolhem os Estados do Sul, Sudeste e
Nordeste para seus projetos. Os
investidores da BrancoCel acabaram por optar por uma região
completamente diferente, o Norte
do país.
"Roraima vai nos permitir escolher duas vias para escoar a produção. Poderemos usar os rios
Branco, Negro e Amazonas para
chegar ao Atlântico. Ou transportar por terra a celulose pela Venezuela, chegando ao Caribe", afirma à Folha Israel Coslowsky, vice-presidente de operações da
BrancoCel.
A disposição geográfica do novo projeto é fundamental, pois toda a produção anual de 260 mil
toneladas será destinada exclusivamente à exportação.
A meta é enviar 85% da celulose
para a Europa e 15% para os Estados Unidos e para a Ásia. Isso
porque o consumo de papel no
Brasil é ainda muito baixo. Cada
brasileiro consome em média 40
quilos de papel ao ano, contra os
350 quilos de um norte-americano, por exemplo.
Os suíços querem garantir seu
quinhão nos mercados mais lucrativos do mundo. Mesmo porque, com a atual crise cambial
brasileira, eles até teriam adiado
ou mesmo desistido do projeto,
caso fossem vender a celulose no
mercado brasileiro.
Isso porque os investimentos
em dólar não seriam compensados pelo consumo em real. Os investidores querem faturar também em moeda norte-americana.
Plantação de acácias
O mais novo projeto da indústria de celulose do Brasil vai trabalhar com um tipo de madeira menos comum no setor. Em vez dos
tradicionais eucaliptos ou pinheiros, a BrancoCel utilizará a acácia.
A escolha da planta foi mera
coincidência. Os suíços já estavam plantando desde 1997 essas
árvores em Roraima, porque elas
são muito produtivas nas serrarias. Essas árvores também são
usadas para a captação de dióxido
de carbono (CO2) e despoluição
atmosférica.
"Em poucos anos o plantio cresceu rapidamente, e os suíços decidiram destinar a plantação também para a celulose", afirma Coslowsky.
A BrancoCel tem hoje 8.500
hectares cobertos de acácias, com
idades de um a três anos. O ciclo
de corte das árvores é entre quatro e cinco anos. A empresa planeja ter 42 mil hectares de acácias
até o final de 2005, quando a fábrica entrará em atividade.
Energia elétrica
O tipo de celulose a ser produzida será a de pasta termomecânica
branqueada, que utiliza poucos
produtos químicos no processo
de fabricação. Portanto é menos
poluente.
A BrancoCel fará também testes
com o eucalipto, para comparar a
produtividade dessa árvore com o
da acácia. "Estamos plantando todo os anos 300 hectares daquela
árvore na região", diz o vice-presidente de operações.
Coslowsky, que já trabalhou na
indústria de papel Ancel e na Jari
Celulose, no Pará, afirma que o
projeto em Rondônia só foi possível porque houve a garantia de
fornecimento de energia elétrica
para a fábrica.
"Conseguimos a garantia do governo federal de uma reserva
energética de 100 MW. Isso não
seria possível na região Sudeste,
onde a oferta de eletricidade é
bastante escassa", afirma o executivo. A energia elétrica para o processamento da celulose da nova
empresa virá da usina de Guri, na
Venezuela.
O insumo foi possível devido às
negociações com os governos federal e estadual. As conversas tiveram a intermediação da Investe
Brasil, empresa de capital misto,
da União e de empresas ou grupos como a Petrobras e Votorantim, criada em março deste ano
para estimular projetos destinados à exportação.
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