|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Receita de exportação
O brasil é um país carente de conhecimento
especializado organizado. Há
um conhecimento difuso, especialistas soltos, com grandes contribuições a dar, mas
que se perdem na falta de um
espaço para a discussão pública.
É o caso de Gabriel Coló, ex-padre jesuíta que, depois do
curso de teologia, fez doutorado em sociologia e economia na França e se tornou especialista e consultor em comércio exterior, atuando 25
anos no exterior. Foi o responsável pela primeira visita
de empresários europeus à
ex-União Soviética, no início
da glasnost, além de ter trabalhado estreitamente com os
tigres asiáticos.
Dessa soma de conhecimentos e experiências, resultaram
cinco pontos que ele considera fundamentais para transformar o Brasil em potência
exportadora.
1) A industrialização brasileira se deu via substituição
de importações, diferentemente dos tigres asiáticos,
que industrializaram via exportações. Há uma desvantagem para o país -o fato de
que nenhum país que tenha
se industrializado via substituição de importações se tornou, por si, uma potência exportadora. Mas há uma vantagem, no fato de existirem
centenas de setores industriais no país. O que Coló propõe é partir agora para uma
política de substituição de exportações, isto é, identificar 15
setores nos quais o país possa
ter vantagem competitiva e
investir pesadamente neles.
O processo seria, por exemplo, o governo mapear mil setores no mundo todo e, depois, ir refinando até chegar
aos 10 ou 15 em que existam
vantagens comparativas no
Brasil. Feito isso, reúne o empresariado e define uma ação
conjunta, com os empresários
escolhendo os setores nos
quais investiriam.
2) O desenvolvimento tecnológico tem um papel essencial nesse modelo, mas o país
não pode fazer como os Estados Unidos e a Europa e atirar em 360 graus. Não há recursos nem gente suficiente. A
pesquisa tecnológica tem que
focar nesses 10 ou 15 produtos
imbatíveis.
3) Um segundo aspecto da
questão tecnológica é a importância da hiperinovação.
Tecnologias que eram de ponta três anos atrás hoje em dia
se tornaram commodities. O
desafio brasileiro consiste não
apenas em investir em tecnologia mas em identificar os setores que vão garantir margens de rentabilidade nos
próximos anos.
4) O Brasil terá pouquíssima chance de atrair investimento externo novo nos próximos anos. A China está
atraindo praticamente todo o
investimento mundial e impondo condições duras: obrigação de exportar no mínimo
50% da produção, por exemplo. O desafio brasileiro será
em como aproveitar melhor
as oportunidades com as
multinacionais já instaladas
no país. Há que impor condições, metas de exportação,
sim, diz Coló, e é enorme bobagem achar que vai espantar o capital estrangeiro.
Na Coréia do Sul, metade
das exportações não vem do
território sul-coreano, mas de
países vizinhos, como Tailândia, Indonésia, Vietnã e China. O Brasil tem que pensar
uma política de investimentos exportadores no exterior,
em países ou regiões onde
possa ser mais competitivo.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica: A Alca depois de Cancún Próximo Texto: Financiamento: "Privilégio" para empresa nacional pode ser ampliado Índice
|