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São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2003

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LUÍS NASSIF

Receita de exportação

O brasil é um país carente de conhecimento especializado organizado. Há um conhecimento difuso, especialistas soltos, com grandes contribuições a dar, mas que se perdem na falta de um espaço para a discussão pública.
É o caso de Gabriel Coló, ex-padre jesuíta que, depois do curso de teologia, fez doutorado em sociologia e economia na França e se tornou especialista e consultor em comércio exterior, atuando 25 anos no exterior. Foi o responsável pela primeira visita de empresários europeus à ex-União Soviética, no início da glasnost, além de ter trabalhado estreitamente com os tigres asiáticos.
Dessa soma de conhecimentos e experiências, resultaram cinco pontos que ele considera fundamentais para transformar o Brasil em potência exportadora.
1) A industrialização brasileira se deu via substituição de importações, diferentemente dos tigres asiáticos, que industrializaram via exportações. Há uma desvantagem para o país -o fato de que nenhum país que tenha se industrializado via substituição de importações se tornou, por si, uma potência exportadora. Mas há uma vantagem, no fato de existirem centenas de setores industriais no país. O que Coló propõe é partir agora para uma política de substituição de exportações, isto é, identificar 15 setores nos quais o país possa ter vantagem competitiva e investir pesadamente neles.
O processo seria, por exemplo, o governo mapear mil setores no mundo todo e, depois, ir refinando até chegar aos 10 ou 15 em que existam vantagens comparativas no Brasil. Feito isso, reúne o empresariado e define uma ação conjunta, com os empresários escolhendo os setores nos quais investiriam.
2) O desenvolvimento tecnológico tem um papel essencial nesse modelo, mas o país não pode fazer como os Estados Unidos e a Europa e atirar em 360 graus. Não há recursos nem gente suficiente. A pesquisa tecnológica tem que focar nesses 10 ou 15 produtos imbatíveis.
3) Um segundo aspecto da questão tecnológica é a importância da hiperinovação. Tecnologias que eram de ponta três anos atrás hoje em dia se tornaram commodities. O desafio brasileiro consiste não apenas em investir em tecnologia mas em identificar os setores que vão garantir margens de rentabilidade nos próximos anos.
4) O Brasil terá pouquíssima chance de atrair investimento externo novo nos próximos anos. A China está atraindo praticamente todo o investimento mundial e impondo condições duras: obrigação de exportar no mínimo 50% da produção, por exemplo. O desafio brasileiro será em como aproveitar melhor as oportunidades com as multinacionais já instaladas no país. Há que impor condições, metas de exportação, sim, diz Coló, e é enorme bobagem achar que vai espantar o capital estrangeiro.
Na Coréia do Sul, metade das exportações não vem do território sul-coreano, mas de países vizinhos, como Tailândia, Indonésia, Vietnã e China. O Brasil tem que pensar uma política de investimentos exportadores no exterior, em países ou regiões onde possa ser mais competitivo.

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