São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

Novo papel do mundo emergente


O mundo encontrou novos motores para impulsionar a economia, sem depender apenas do motor americano

MUITOS se surpreenderam com a pequena repercussão da crise americana nos países emergentes -os ativos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo, por exemplo, já estão mais valorizados do que antes da crise, que começou em julho. Até agora, o resfriado americano decorrente do colapso do mercado hipotecário não provocou pneumonia em nenhum país emergente. Só o México cuida de estocar antibióticos.
Há fatos novos na economia global. As grandes empresas dos países emergentes devem fazer neste ano, pela primeira vez na história, mais aquisições de companhias nos países desenvolvidos do que o oposto. A empresa fornecedora de dados financeiros Dialogic calcula que até setembro as companhias de emergentes já investiram US$ 128 bilhões em aquisições de ativos nos países ricos, quase o mesmo valor gasto na direção contrária. Até o fim do ano, como os tradicionais compradores do Primeiro Mundo estão sem caixa devido à crise, as compras dos emergentes devem superar as dos ricos. Isso ocorre devido ao fácil acesso a fontes de capitais nos mercados emergentes e aos enormes fundos soberanos acumulados por esses países -somente os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) têm reservas superiores a US$ 2 trilhões.
Essa disponibilidade de recursos muda a relação de forças na economia global, porque os emergentes evoluíram de sua tradicional situação de financiados para a de financiadores do Primeiro Mundo.
A valorização de ativos no mundo emergente, pela alta das cotações nas Bolsas -100% na China e 35% no Brasil neste ano-, fortaleceu os músculos das empresas desses países. Entre as seis maiores empresas mundiais em valor de mercado, três são da China (ICBC, PetroChina e China Mobile) e três dos Estados Unidos (Exxon, GE e Microsoft).
O famoso trabalho feito em 2003 pela Goldman Sacks "Dreaming whit Brics" previa que o PIB conjunto de Brasil, Rússia, Índia e China alcançaria R$ 4,079 trilhões em 2007. Passados quatro anos, constata-se que esses países cresceram muito mais do que o esperado. Com base em dados do FMI, constata-se que eles já terão, no final deste ano, um PIB de US$ 5 trilhões, nível que atingiriam somente em 2009 pelos prognósticos da Goldman Sacks.
O avanço do poder econômico dos Brics em comparação com o dos seis países ricos (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália) seguiu o previsto pelo trabalho, porque os ricos também cresceram além do esperado. A diferença entre os dois blocos diminuiu muito. Os quatro emergentes tinham 13% do PIB do G6 em 2003 e hoje têm 18%.
Neste ano, o acréscimo de produção nos Brics, que terão expansão média do PIB de 8,6%, será equivalente a quase US$ 400 bilhões. Nos EUA, com aumento de 2% no PIB, o acréscimo não chegará a US$ 270 bilhões. A economia dos EUA continua a ter importância fundamental para determinar os rumos da economia mundial. Mas a atual crise americana evidencia o novo papel do mundo emergente.
Uma ilustração publicada pela revista "The Economist" desta semana mostra um urso panda saudável correndo em largas passadas em uma esteira. É a representação do poder mundial decorrente da força de consumo da China e de outras economias emergentes.
Segundo a revista, o mundo encontrou novos motores para impulsionar a economia, acabando com a preocupação que rondou as cabeças dos economistas durante longos anos, a de que a demanda mundial não poderia se sustentar movida unicamente pelo motor americano.

BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp.
bvictoria@psi.com.br


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