São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2004

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GLOBALIZAÇÃO

Com bebida em alta no exterior, governo quer impedir que nome seja usado por fabricantes de Cuba e do México

País lança programa de certificação da cachaça no mundo

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura) lançam nos próximos dias um programa de certificação da cachaça elaborado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) para dar garantia de qualidade ao produto.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, trata-se de mais um passo dado pelo governo com o objetivo de conseguir para a cachaça a chamada denominação de origem, uma classificação internacional concedida pela OMA (Organização Mundial da Agricultura) para determinar que o nome "cachaça" se refira exclusivamente às aguardentes produzidas no Brasil.
O objetivo é o de dar à cachaça o mesmo "status" do champanhe, cujo nome só pode ser usado nos espumantes produzidos na região de Champanhe, na França. Como a cachaça tornou-se um produto muito popular, embalada no sucesso internacional da caipirinha, vários países, como México e Cuba, produzem aguardentes e usam também o nome "cachaça".
O trabalho de tentar obter o registro na OMA está sendo coordenado no governo pelos ministros Furlan e Roberto Rodrigues, com o apoio do Itamaraty. Furlan quer que a cachaça seja um produto genuinamente brasileiro.
De acordo com dados da Abrade (Associação Brasileira de Bebidas), a cachaça é a primeira bebida destilada mais consumida no Brasil e a terceira no ranking mundial. O produto tem grande potencial exportador e, em razão disso, o nome "cachaça" é utilizado por diversos países.
O Brasil produz cerca de 1,5 bilhão de litros de cachaça por ano, do qual apenas 15 milhões de litros (1% do total produzido) são exportados. Nos últimos quatro anos, o aumento médio das exportações foi de 10% ao ano. Existem no país 5.000 marcas de cachaça e 30 mil produtores, que geram cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos, segundo dados do setor.
O presidente do Inmetro, Armando Mariante, diz que o programa de certificação da cachaça irá possibilitar aos fabricantes da aguardente terem um certificado do órgão garantindo que o produto segue os padrões de qualidade. Ou seja, livre de substâncias nocivas à saúde, de acordo com as normas internacionais.
Segundo Mariante, se o Brasil quiser ter acesso a canais de comercialização mais sofisticados, terá de comprovar qualidade de seus produtos.
O trabalho do Inmetro, segundo Mariante, será o de examinar se a cachaça está ou não isenta de produtos tóxicos para receber o selo de qualidade do instituto. O Inmetro goza de prestígio e reconhecimento de vários institutos internacionais, que lhe dão credibilidade para atestar a qualidade do produto.
O Inmetro possui 700 laboratórios vinculados ao instituto no país habilitados para fazer a certificação. Mariante diz, ainda, que o programa a ser lançado pelo Inmetro terá um caráter voluntário, não compulsório, como ocorre com alguns produtos, como o preservativo. Ou seja, não será obrigatório ao fabricante da cachaça se submeter ao Inmetro para vender seu produto.

Preço
Segundo Mariante, mais uma das principais conseqüências do certificado será certamente o aumento de preço da cachaça no mercado internacional. De acordo com ele, não faz sentido uma garrafa de vodca ou de rum custar 20 ou 30, e uma de cachaça, 2. "Nós produzimos cachaça da melhor qualidade", diz Mariante.
Juan Quirós, presidente da Apex (Agência Especial de Promoção de Exportações), afirma que estão sendo investidos R$ 9 milhões ao ano para intensificar a presença da cachaça no mundo. Segundo ele, as exportações de cachaça neste ano devem somar US$ 15 milhões. Os principais mercados da cachaça a serem explorados pelo Brasil, segundo Quirós, são Alemanha, Itália, Portugal, França, Espanha, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.


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