São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Acharam ações de banco no lixo


Situação de bancos assusta os mercados, que reeditaram ontem dias de medo e pavor da crise de julho e agosto

PALPITES SOBRE o motivo de queda nas Bolsas em tal ou qual dia são tão abundantes quanto incertos e difíceis. Uma pista razoável é checar a opinião do mercado por meio do ranking de ações mais negociadas e, dentre elas, as que mais rolaram na lama. Das 25 mais negociadas e que mais caíram ontem na Bolsa de Nova York, 70% eram de bancos, seguradoras etc.
As ações financeiras caíram 4,44%, pior dia em cinco anos. As ações de bancos rolaram 5,25%: Citi, 6,9%; Bank of America, 5,3%. O S&P 500 caiu 2,64%. Neste ano, as ações de bancos negociadas nos Estados Unidos tombaram 15%, o pior desempenho setorial de 2006. As da indústria estão em alta de 16%, as de tecnologia, 21%, telecomunicações, 11,5%, bens de consumo, 9%.
Os detonadores específicos do episódio de transtorno bipolar de ontem em Wall Street parecem ter sido recomendações de vendas de ações de bancos e um relatório de mercado sobre o Citigroup. O Citi ainda perderia tanto dinheiro com derivativos de crédito que talvez tenha de vender ativos a fim de recompor seu capital mínimo (grosso modo, a fim de cobrir perdas, os bancos devem manter uma reserva de capital, uma fração do total de seus negócios ponderados pelo nível de risco).
Ontem, a taxa de títulos financeiros que equivalem a um seguro contra inadimplência de dívidas de bancos subiu aos níveis de agosto.
Há nova rodada de desvalorização de derivativos de crédito, a causa da crise de meados do ano. O indicador de preço desses papéis rola ladeira abaixo, mesmo para títulos AAA, a melhor classificação de risco.
A coisa é dramática nos títulos lastreados em hipotecas de segunda linha (os "subprimes") a princípio classificados no nível mais baixo da categoria de "investment grade": queda 80% no ano. É uma liquidação, a qual grandes bancos americanos ainda pretendiam evitar com a criação daquele fundão de recompra e reembalagem desses papéis.
Os derivativos em questão não são apenas os lastreados em prestações imobiliárias. O volume de promissórias ("asset backed commercial papers"), papéis de curto prazo lastreados em dívidas (como também as de cartão de crédito ou da prestação do carro) caiu 26% desde o pico de agosto (de um volume de US$ 1,18 trilhão para US$ 880 bilhões). Um risco adicional é tal desconfiança afetar os juros para o consumidor.
Os bancos reconheceram nos balanços do terceiro trimestre que muitos desses derivativos estão podres. Para o mercado, haveria mais podridão. Quanto mais baixa o valor desses papéis, maior o prejuízo dos bancos e menores os dividendos, se algum; cai também a disponibilidade de capital para empréstimos.
O lucro médio das empresas do S&P 500 no terceiro trimestre, porém, ficou quase no mesmo nível de 2006. A alta do PIB americano no período foi surpreendente, embora o número esteja sujeito a duas revisões. Mas indicadores mais recentes da indústria apontam estagnação.
Enfim, o Fed injetou US$ 41 bilhões no sistema financeiro. Como o Fed baixou a meta da taxa básica de juros, a ação era esperada, mas a taxa efetiva entre bancos não cedeu, um sintoma de tensão. Parece que o mercado ficará entre mania e depressão até o final do ano.

vinit@uol.com.br


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