São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2007

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Importações do país batem recorde histórico

Com dólar fraco e economia em expansão, entraram no mês passado US$ 12,3 bi em mercadorias produzidas no exterior

Total importado em dez meses de 2007 já supera todo o volume de 2006; exportações crescem 24%, mas saldo se desacelera

FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil nunca importou tanto. Em outubro, ingressaram US$ 12,3 bilhões em mercadorias produzidas em outros países, novo recorde mensal histórico. Em tempos de dólar fraco e economia em expansão, as importações cresceram 41,1% na comparação com igual mês do ano passado e o total importado em dez meses de 2007 já supera todo o volume de 2006.
No outro lado da balança comercial, a despeito do câmbio desfavorável, o governo anunciou nova projeção para as exportações. O número passou de US$ 155 bilhões para US$ 157 bilhões no acumulado de 2007.
Outubro reforça a tendência de deterioração do saldo do comércio exterior vista desde o primeiro semestre. No mês, o resultado foi 12,9% menor que o de outubro de 2006, ficando em US$ 3,439 bilhões. O salto das importações é visto como a causa principal dessa piora.
"O dólar fraco começa a ter efeitos mais explícitos no comércio exterior. Temos visto o aumento das importações, que tem avançado em linha com o câmbio favorável, o crescimento da economia e o aumento da renda", diz o professor de economia da USP Fábio Kanczuk. Ele diz que esse movimento já era esperado há alguns meses. "Mas os bons resultados nas exportações adiaram o fato."
Nas gôndolas dos supermercados, importados estão cada vez mais presentes. Isso já incomoda alguns setores da indústria nacional. O vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, diz que voltaram as reclamações sobre uma suposta "invasão de importados". Têxteis, móveis e calçados lideram as queixas.
Para os próximos anos, a tendência é que os brasileiros tenham cada vez mais importados no carrinho de compras. O economista-chefe da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior), Fernando Ribeiro, aposta que a importação de bens de consumo -que vão de canetas a carros- vai crescer fortemente até o final da década.
Segundo ele, o Brasil compra anualmente cerca de US$ 12 bilhões nesses itens. "Apesar de o valor ter crescido fortemente nos últimos anos, o número mostra apenas uma recuperação em relação aos anos 90. Em 1998, importamos mais de US$ 10 bilhões." Diante desse cenário, ele aposta que a importação de bens de consumo vai atingir a casa de US$ 20 bilhões até o final desta década.

Exportações
A despeito do dólar fraco, as exportações continuam em trajetória ascendente. No mês passado, foram embarcados US$ 15,769 bilhões, valor 24,27% maior que o registrado em igual período de 2006 e novo recorde mensal histórico. O resultado fez o Ministério do Desenvolvimento elevar para US$ 157 bilhões a projeção para as exportações no ano.
A alta dos preços internacionais, a demanda global aquecida e a conquista de novos mercados explicam o bom resultado. Mas o novo número foi considerado "tímido" pelos especialistas ouvidos pela Folha. Para Ribeiro, o ano deve terminar com embarques de US$ 158,5 bilhões.
O governo também projeta saldo comercial de US$ 40 bilhões para o ano. O número coincide com as projeções do mercado. Castro diz também apostar nesse patamar, mas lembra que o número é menor que as projeções ouvidas no primeiro semestre. "O governo já apostou em saldo de US$ 45 bilhões, mas o número caiu pelo avanço das importações."


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