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ANÁLISE
Euforia no Brasil pode ter vindo cedo demais
DO "FINANCIAL TIMES"
Luiz inácio Lula da Silva, o
presidente esquerdista do
Brasil, se tornou o improvável xodó dos mercados financeiros. Antes de ele assumir o poder, na virada do ano, o principal temor
dos investidores era que viesse a
conduzir o país a uma moratória.
Mas, em lugar disso, os preços das
ações brasileiras estão batendo recordes de alta. As exportações dispararam. E Lula está obtendo
progresso sólido em sua agenda
política, com as muito adiadas reformas previdenciária e tributária
prontas para aprovação dentro de
poucos meses.
A questão é determinar se os
mercados estão comemorando
cedo demais. Os números divulgados na semana passada para o
PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no terceiro trimestre demonstram que a recuperação da
recessão vem sendo dolorosamente lenta. O governo conseguiu sucesso na estabilização da
economia, mas agora é preciso
que comece a procurar por novas
maneiras de promover crescimento rápido e sustentável.
Os investidores têm motivos
para se sentir animados com a política fiscal severa mantida pelo
presidente, com a queda da inflação e com o impressionante superávit comercial, estimulado pelos
fortes preços das commodities.
Mas o Brasil continua tentando
escapar do fundo buraco em que
foi lançado pela crise financeira
de 2002 e os ajustes fiscais duros
adotados na sequência.
A demanda interna está menor,
no momento, do que há um ano,
enquanto o desemprego está um
ponto percentual acima da marca
quando da posse de Lula. As pessoas empregadas estão ganhando
em média 15,2% menos, em termos reais, do que no ano passado.
O número de falências vem crescendo, o investimento estrangeiro
entrou em queda. Muitos dos governos estaduais não dispõem de
caixa suficiente para pagar os tradicionais abonos natalinos. É verdade que surgiram sinais de uma
recuperação nos investimentos.
Mesmo assim, é difícil aceitar que
o nível de crescimento do ano que
vem supere consideravelmente a
faixa dos 3% a 4%, o que não bastaria para eliminar o excedente de
mão-de-obra disponível no mercado. As taxas de juros caíram,
para 17,5% anuais, mas os bancos
continuam a cobrar de maneira
exorbitante por empréstimos pessoais ou para empresas.
O nível de endividamento pode
se ter estabilizado, e o perfil da dívida, se alongado, com datas de
vencimento mais distantes propiciadas pela queda no risco de inadimplência. Mas, mesmo assim, o
peso dos juros e do principal da
dívida continua a ser esmagador.
Mesmo com um superávit primário de 4,25%, os pagamentos de
juros significam que o Brasil terá
de encarar um déficit nominal
equivalente a mais de 4% do PIB.
Próximo estágio
Os benefícios propiciados pelas
mudanças nos sistemas tributário
e previdenciário só se farão sentir,
por definição, em prazo mais longo. Assim, é preciso que o governo brasileiro embarque agora no
próximo estágio das reformas.
Uma das prioridades deve ser esclarecer a regulamentação dos setores de energia e telecomunicações, para reassegurar os potenciais investidores. Outra seria reduzir a burocracia que muitas vezes dificulta excessivamente a realização de negócios no Brasil. Os
lentos e complexos processos judiciais do país também precisam
ficar mais enxutos. E as operações
do governo precisam ganhar mais
ordem.
No mês que vem, uma reforma
ministerial planejada oferecerá ao
presidente uma oportunidade excelente de indicar ministros mais
efetivos para algumas áreas. Se ele
também agir para racionalizar o
grande número de programas sociais brasileiros, isso serviria como um sinal claríssimo de que o
governo tem a força de vontade
necessária a adotar uma agenda
mais ampla de mudanças.
Tradução de Paulo Migliacci
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