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Lula relaxa rigor fiscal e amplia gastos
No segundo mandato, presidente centraliza política econômica e dá mais ouvidos a defensores do "desenvolvimentismo'
Lula compra tese de que, após sacrifício no primeiro mandato, área fiscal deixou de ser problema e agora há espaço para mais gastos
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A mudança no comando da
economia no segundo mandato, com a centralização das decisões mais importantes na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou desequilíbrio na formulação da política
econômica, que, hoje, pende
mais para idéias desenvolvimentistas, pondo em segundo
plano a área fiscal.
O preço dessa nova estrutura
começou a ser sentido neste final de ano, diante das dificuldades em aprovar a prorrogação
da CPMF (o tributo do cheque)
e da deterioração do cenário internacional, com chances de retração mais forte na economia
americana e investidores estrangeiros mais avessos a risco.
Para economistas de dentro e
fora do governo, a marca do segundo mandato é que a equipe
já não formula uma política
econômica de consenso. Cada
um bombardeia o presidente
com sua tese e cabe a ele definir
a linha a seguir, depois de ouvir
aqueles que considera seus interlocutores na economia.
Além dos ministros da área
(Dilma Rousseff, Guido Mantega, Paulo Bernardo e Henrique
Meirelles) e do presidente do
BNDES, Luciano Coutinho, integram esse grupo, com o qual
Lula fala com regularidade, o
ex-ministro Antonio Palocci
Filho, o ex-deputado Delfim
Netto, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, além do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e do presidente da Vale do
Rio Doce, Roger Agnelli.
Depois de reeleito, Lula comprou a tese do grupo desenvolvimentista de que a área fiscal
havia deixado de ser um problema e que todo o sacrifício foi
pago no primeiro mandato.
Agora, haveria espaço para aumento dos gastos não só de investimento como também das
despesas correntes -pessoal e
custeio da máquina pública.
Com isso, Lula acatou o pedido de Dilma e Mantega, de que
era necessário reduzir o superávit primário para aumentar
os investimentos. Caso contrário, não conseguiria taxas médias de crescimento superiores
às do seu antecessor.
Saíram derrotados Bernardo
e Meirelles, defensores de um
maior controle nos gastos públicos para aliviar a política
monetária, tese defendida e
adotada durante todo o primeiro mandato por Palocci.
Resultado dessa nova configuração econômica, Lula praticamente abandonou a discussão de medidas de controle dos
gastos públicos.
Em sua avaliação, basta cumprir a meta de superávit primário de 3,8% do PIB e tudo está
resolvido na área fiscal. O que
tem sido possível ser feito com
o aumento da arrecadação, que
banca gastos públicos crescentes nessa nova fase do governo.
"Não é um pouquinho"
Em recente reunião com
seus ministros, Lula deu o tom
de sua opção na área fiscal. Falou que não vai aceitar que em
janeiro seja informado de que o
superávit ficou um ponto acima do combinado.
Foi alertado por um assessor
de que poderia ficar "um pouquinho acima por segurança",
no que Lula interveio e disse
que um ponto acima "não é um
pouquinho".
Ao mesmo tempo em que dá
sinais de estar numa fase mais
gastadora, a equipe de Lula
sente que o presidente é refratário a medidas que possam
ameaçar a inflação baixa ou que
considere "aventuras" na economia. Daí que até agora não
autorizou grandes mudanças
na política cambial.
"Qualquer aventura pode significar um preço enorme a ser
pago", teria dito ele em reunião
com sua equipe.
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