São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Lula relaxa rigor fiscal e amplia gastos

No segundo mandato, presidente centraliza política econômica e dá mais ouvidos a defensores do "desenvolvimentismo'

Lula compra tese de que, após sacrifício no primeiro mandato, área fiscal deixou de ser problema e agora há espaço para mais gastos

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A mudança no comando da economia no segundo mandato, com a centralização das decisões mais importantes na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gerou desequilíbrio na formulação da política econômica, que, hoje, pende mais para idéias desenvolvimentistas, pondo em segundo plano a área fiscal.
O preço dessa nova estrutura começou a ser sentido neste final de ano, diante das dificuldades em aprovar a prorrogação da CPMF (o tributo do cheque) e da deterioração do cenário internacional, com chances de retração mais forte na economia americana e investidores estrangeiros mais avessos a risco.
Para economistas de dentro e fora do governo, a marca do segundo mandato é que a equipe já não formula uma política econômica de consenso. Cada um bombardeia o presidente com sua tese e cabe a ele definir a linha a seguir, depois de ouvir aqueles que considera seus interlocutores na economia.
Além dos ministros da área (Dilma Rousseff, Guido Mantega, Paulo Bernardo e Henrique Meirelles) e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, integram esse grupo, com o qual Lula fala com regularidade, o ex-ministro Antonio Palocci Filho, o ex-deputado Delfim Netto, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, além do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e do presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli.
Depois de reeleito, Lula comprou a tese do grupo desenvolvimentista de que a área fiscal havia deixado de ser um problema e que todo o sacrifício foi pago no primeiro mandato. Agora, haveria espaço para aumento dos gastos não só de investimento como também das despesas correntes -pessoal e custeio da máquina pública.
Com isso, Lula acatou o pedido de Dilma e Mantega, de que era necessário reduzir o superávit primário para aumentar os investimentos. Caso contrário, não conseguiria taxas médias de crescimento superiores às do seu antecessor.
Saíram derrotados Bernardo e Meirelles, defensores de um maior controle nos gastos públicos para aliviar a política monetária, tese defendida e adotada durante todo o primeiro mandato por Palocci.
Resultado dessa nova configuração econômica, Lula praticamente abandonou a discussão de medidas de controle dos gastos públicos.
Em sua avaliação, basta cumprir a meta de superávit primário de 3,8% do PIB e tudo está resolvido na área fiscal. O que tem sido possível ser feito com o aumento da arrecadação, que banca gastos públicos crescentes nessa nova fase do governo.

"Não é um pouquinho"
Em recente reunião com seus ministros, Lula deu o tom de sua opção na área fiscal. Falou que não vai aceitar que em janeiro seja informado de que o superávit ficou um ponto acima do combinado.
Foi alertado por um assessor de que poderia ficar "um pouquinho acima por segurança", no que Lula interveio e disse que um ponto acima "não é um pouquinho".
Ao mesmo tempo em que dá sinais de estar numa fase mais gastadora, a equipe de Lula sente que o presidente é refratário a medidas que possam ameaçar a inflação baixa ou que considere "aventuras" na economia. Daí que até agora não autorizou grandes mudanças na política cambial.
"Qualquer aventura pode significar um preço enorme a ser pago", teria dito ele em reunião com sua equipe.


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