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Governo prepara rito sumário para acordos
Discussão dos temas sobre acordos com outros países seria reduzida a uma única comissão na Câmara e outra no Senado
Demora preocupa, pois
alguns países já se recusam a
assinar novos entendimentos
enquanto os antigos
permanecerem pendentes
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da demora do Congresso Nacional em votar acordos internacionais assinados
pelo Brasil, o governo prepara
uma importante mudança na
tramitação dos documentos,
reduzindo a discussão a uma
única comissão na Câmara e
outra no Senado. Alguns países
já se recusam a assinar novos
acordos enquanto os antigos
permanecerem pendentes.
O excesso de medidas provisórias e a tradicional lentidão
do Congresso Nacional provocam demora de pelo menos 12
anos na aprovação dos textos
pelo Congresso.
Em média, são necessários
quatro anos para que o Legislativo dê o aval às propostas, nos
casos em que o Executivo não
imprime urgência e prioridade.
Quando o tema é de interesse
do Palácio do Planalto, como a
entrada da Venezuela no Mercosul, por exemplo, a velocidade aumenta bastante.
"Há sempre uma prioridade
política do governo em vigor,
que privilegia determinados tipos de acordo", assinalou Virgílio Arraes, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
Há 143 textos aguardando
votação, 127 deles na Câmara e
16 no Senado. Os temas são os
mais variados: de turismo, com
Cuba, a extradição, com Angola. De vigilância sanitária, com
a Argélia, a seguridade social,
com a Espanha.
A Convenção Interamericana sobre Desaparecimento
Forçado de Pessoas, celebrado
em 1994, é o mais antigo acordo
no Congresso. Andou até 2003
e depois foi retirado da pauta.
A lentidão do Congresso
acendeu uma luz amarela no
Planalto há alguns meses. O
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva volta e meia ouve cobranças sobre alguns dos textos.
O problema tem o potencial
de causar prejuízos ao Brasil.
Diante da possibilidade de uma
conclusão tímida da Rodada
Doha, o país se prepara para
uma série de acordos de comércio com outros países, cujos detalhes técnicos, tarifários etc.
não sobreviveriam aos quatro
anos de tramitação no Congresso brasileiro.
O constrangimento provocado pela demora na aprovação
tornou-se tema de negociações
entre o chanceler Celso Amorim e líderes da base aliada. Para reduzir o embaraço com os
parceiros tradicionais, o governo pretende reduzir as fases de
tramitação, eliminando a votação em plenário e diminuindo
etapas de discussão.
Hoje, a tramitação é determinada pela Mesa, com base no
tema do documento. O acordo
de cooperação para reconhecimento de diplomas universitários de medicina de Cuba, por
exemplo, precisa ser analisado
por quatro comissões: Relações
Exteriores e Constituição e
Justiça, como todos os outros, e
ainda os temáticos: Educação e
Seguridade Social e Família.
Depois, vai ao plenário da Câmara. Se aprovado, segue para a
Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, de lá vai ao plenário. Só então entra em vigor.
"O problema não está só nos
acordos. Há projetos que levaram 20 anos, 30 anos para serem votados. Existe um problema institucional, do Congresso,
é a estrutura que a gente tem",
assinalou o advogado Jorge
Nemr, especialista em direito
internacional.
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