São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vaga com carteira assinada é cada vez mais difícil

da Reportagem Local

O emprego com carteira assinada tende a se tornar mercadoria cada vez mais escassa. Segundo os especialistas, as dificuldades da classe média em encontrar emprego não estão limitadas aos efeitos da crise econômica.
"As pessoas têm resistência a trabalhar sem ter a garantia do salário no final do mês, mas essa é uma tendência internacional. Os empregos tradicionais não voltam mais", diz Luiz Carlos Cabrera, sócio da empresa de contratação de executivos PMC-Amrop.
Em todo o mundo, as companhias estão diminuindo seu quadro de pessoal e trabalhando com empresas prestadoras de serviço. O maior empregador dos Estados Unidos, no momento, é uma empresa que recruta mão-de-obra para trabalhos temporários.
Praticamente todas as cem maiores empresas norte-americanas diminuíram seu quadro de pessoal na última década e passaram a trabalhar com fornecedores e prestadores de serviços terceirizados.
"No passado, a pessoa apostava em um aprendizado profissional dirigido pela empresa. Hoje a carreira é propriedade do indivíduo, é ele quem responde pelo seu futuro profissional", diz Cabrera.
Os estudantes universitários já perceberam a tendência, segundo pesquisa da Companhia de Talentos, maior empresa brasileira especializada no recrutamento de trainees.
A companhia ouviu 589 alunos das sete maiores faculdades de engenharia e de administração de empresas de São Paulo.
Cerca de 18% dos estudantes querem pular direto da faculdade para a abertura de negócio próprio. Outros 6% já têm sua própria empresa.
"Os estudantes sabem que está cada vez mais difícil conseguir um emprego com carteira assinada numa grande empresa e por isso buscam alternativas profissionais", diz Sofia Esteves, sócia da Companhia de Talentos.
O número de recém-formados aumenta mais rápido do que a oferta de empregos. Só as universidades federais formaram 52 mil pessoas em 1997, quase dez mil a mais do que em 1994.
Quando empresas como a Gessy Lever ou o Citibank abrem concurso para trainees, fica evidente a dificuldade em se obter uma boa colocação. As provas das grandes empresas costumam reunir 4.000 candidatos na disputa por 20 vagas.
A ironia é que boa parte das vagas não é preenchida porque a formação dos estudantes é falha ou porque o nível de exigência das empresas é muito alto. Já existem algumas companhias exigindo, além do domínio do inglês, o conhecimento de espanhol.
Apertados pela disputa crescente entre os colegas e as exigências cada vez maiores das empresas, os candidatos a trainee procuram alternativas para se destacar. A maior parte adia a saída da casa dos pais para continuar estudando. "Boa parte dos estudantes se forma e logo faz uma especialização no exterior para melhorar o currículo", diz Sofia Esteves. (RG)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.