São Paulo, Quarta-feira, 03 de Fevereiro de 1999
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Fundo de Soros naufragou em 98

MARCELO DIEGO
de Nova York

O novo presidente indicado para o Banco Central, Armínio Fraga, tinha sido contratado pelo maior especulador do planeta, George Soros, para administrar uma carteira de investimentos na América Latina e nos países emergentes.
O fundo teve uma performance desastrada no ano passado e acabou tendo que ser fundido a outras carteiras de investimentos.
Fraga foi contratado em agosto de 1993 para o cargo de diretor-gerente do Soros Fund Management, no escritório de Nova York (EUA).
Ele era responsável pelo gerenciamento de fundos de alto risco e de toda sorte de investimentos nos países emergentes.
O grupo de Soros trabalha hoje com cerca de US$ 21,5 bilhões, segundo a própria assessoria de imprensa do grupo.
Fraga foi trabalhar com o Quantum Emerging Growth Fund (Fundo Quantum de Crescimento Emergente), lançado em 1992.
Seu salário não foi divulgado, mas ele apareceu na lista dos cem executivos mais bem pagos de Nova York ao final de 1997 (cinco outros brasileiros faziam parte do seleto grupo).
A lista só traz os nomes dos executivos que ganham mais de US$ 700 mil por ano.
Apostando em investimentos diversificados, principalmente no mercado asiático, Fraga conseguiu dar lucro para o investidor George Soros nos primeiros três anos. Ele teria recebido um bônus de US$ 25 milhões como participação nos lucros realizados.
No último ano, o fundo começou a ter problemas. Primeiro pela grande exposição aos mercados asiáticos e russo. Somente na Rússia, Soros perdeu US$ 2 bilhões.
Depois, por causa da crise de credibilidade que atingiu os "hedge funds" (fundos agressivos), após o colapso do Long-Term Capital Management, um dos mais conceituados do mercado, no ano passado.
Em 1998, o valor de estoque do Quantum Emerging Growth Fund fechou em US$ 1,5 bilhão, uma queda de 31% ao longo do ano.
Soros decidiu então juntar o fundo a outras carteiras de investimentos (como o Quantum Realty Fund), diminuindo o poder de Fraga dentro da organização.
Segundo um porta-voz do Soros Fund, a decisão de extinguir a autonomia do fundo não foi baseada em sua má performance, mas sim como uma opção para consolidar os investimentos oferecidos aos clientes.
Fraga teria pedido demissão a Soros no começo do mês. Até ontem, sua mensagem eletrônica (em português e inglês) ainda atendia na secretária eletrônica de seu escritório, localizado no 33º andar de um edifício empresarial em Nova York.
Entre seus colegas de trabalho, ele tinha o apelido de "patriota", porque sempre apoiava as medidas econômicas do governo federal e dizia que o país estava no caminho certo.
Apesar de trabalhar em Manhattan, Fraga morava em um subúrbio de Nova Jersey. Ele era membro da diretoria da Câmara de Comércio Brasil-EUA.
Fraga também era professor-adjunto de finanças internacionais da Universidade de Columbia. Ele substituía o titular Robert Johnson na sala 501 IAB. Entre os livros escolhidos pelos professores para orientar seus alunos estavam os do economista Paul Krugman e "World Economic Outlook", um compêndio de estatísticas organizadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).


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