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NELSON MACHADO
Previdência justa e sustentável
O Fórum Nacional da Previdência Social terá a rara oportunidade de discutir
o tema sem pressões
O PRESIDENTE Luiz Inácio Lula
da Silva, por meio do decreto
nš 6.019, de 22/01/07, criou o
Fórum Nacional da Previdência Social, a fim de promover o debate entre trabalhadores, empregadores e
governo federal sobre o aperfeiçoamento e a sustentabilidade dos regimes de Previdência Social e sua
coordenação com as políticas de assistência social. Trata-se de avaliar o
presente e desenhar o futuro da Previdência.
Os obstáculos com que nos defrontamos são enormes. Refirimo-nos, por exemplo, à dinâmica das relações de trabalho, às transformações da atividade econômica, à mudança na estrutura das famílias, aos
novos papéis da mulher na sociedade e no trabalho, além de passar pelas transformações demográficas,
de forte redução das taxas de natalidade e gradativo envelhecimento futuro da população brasileira.
Esses fenômenos têm ocorrido
não apenas no Brasil. Eles alteram o
que se convencionou chamar de
"pacto de gerações" -o grande acordo social entre as gerações viventes
e futuras que dá base a qualquer sistema previdenciário.
O Fórum Nacional da Previdência
Social deve ter ampla liberdade para
discutir esses e outros temas do longo prazo. Impõe-se, no entanto, destacar alguns pressupostos.
Primeiro, não aceitamos a hipótese de privatizar a Previdência brasileira. A verdade é que não surgiu nada, ainda, no mundo previdenciário,
que seja mais flexível e estável do
que a divisão de tarefas público-privadas que o Brasil adota hoje: Previdência pública básica, obrigatória,
em regime de repartição, com solidariedade, suplementada por previdência complementar privada, voluntária, em regime de capitalização. Esse desenho permite, simultaneamente, gerar uma rede de proteção social ampla e includente e fortalecer o investimento de longo prazo para o desenvolvimento econômico.
Segundo, é preciso reafirmar que,
no curto prazo, nos próximos três ou
quatro anos, a situação fiscal da Previdência brasileira não fugirá do
controle. Há um amplo repertório
de medidas de gestão já adotadas e
por adotar, que permitirão essa trajetória. O Fórum Nacional da Previdência Social não tem por objeto
discutir essas medidas, para as quais
entendemos já existir o Conselho
Nacional de Previdência Social como instância de diálogo social, que
tem nos propiciado, acredito, uma
abordagem consistente sobre a gestão.
Terceiro, qualquer proposta deverá respeitar o direito adquirido, isto
é, situações em que já se completaram as condições para certo benefício. Além disso, deve-se propor uma
transição longa para a implementação de modificações que afetam os
atuais trabalhadores.
Estamos convictos de que esses
pressupostos conformam o melhor
cenário para obtermos uma reforma
da Previdência Social que garanta a
sua sustentabilidade no futuro. Temos afirmado aos aposentados e aos
atuais trabalhadores que podem enfrentar a discussão sem medo, que
não é necessário correr para a aposentadoria. A par disso, o debate,
sem restrições, do diagnóstico das
transformações pelas quais passará
a sociedade brasileira nas próximas
décadas terá a força, acreditamos, de
nos convencer a todos da necessidade de um novo pacto entre as gerações.
Na primeira reunião do Fórum
Nacional da Previdência Social, a
realizar-se no próximo dia 7, em
Brasília, iremos propor que os seus
seis meses de trabalhos sejam realizados em três etapas: inicialmente,
um diagnóstico; a segunda, para
aprofundar grandes temas; e a terceira, para formular propostas.
Dessa forma, o Fórum Nacional
da Previdência Social terá a rara
oportunidade de discutir as questões previdenciárias sem pressões,
com amplo assessoramento de renomados especialistas e em um ambiente em que o interesse coletivo
deverá prevalecer na busca de soluções.
Pressões de grupos de interesse
por privilégios ou tratamentos diferenciados historicamente caracterizaram a Previdência na América Latina e ajudaram a tornar o gasto social injusto nos modelos de desenvolvimento passados. É preciso
construir uma Previdência mais justa e mais sustentável. Nenhuma das
duas dimensões pode ser desconsiderada: nem justiça social sem sustentabilidade, nem sustentabilidade
sem justiça social. Ao desenhar a
Previdência do futuro, há que cuidar
de ambas. O Fórum Nacional da
Previdência Social é uma oportunidade histórica para discutir como fazê-lo.
NELSON MACHADO,59, é o ministro da Previdência Social.
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