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Fazenda quer pelo menos adiar aumento dos juros
Tese da equipe de Mantega é que pressão inflacionária irá arrefecer em meses
Para ministro, elevação da taxa Selic neste momento teria efeito muito ruim na economia e nos investimentos privados
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com diagnóstico diferente
do Banco Central sobre o rumo
da inflação no curto prazo, o
ministro Guido Mantega (Fazenda) e sua equipe tentam
adiar, por pelo menos dois meses, uma decisão sobre elevação
dos juros para conter o consumo e pressões nos preços. Com
isso, jogariam para a reunião de
junho do Copom (Comitê de
Política Monetária do BC) uma
definição nesse sentido.
Depois que o Banco Central
elevou o tom, na semana passada, da possibilidade de subir a
taxa Selic -aumentando as
apostas no mercado financeiro
de que isso poderá acontecer já
neste mês-, o ministro discutiu, ontem, com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e o
presidente do BC, Henrique
Meirelles, o impacto positivo
que um corte superior a R$ 20
bilhões anunciados inicialmente nos gastos do governo terá
nas expectativas de inflação.
Mesmo reconhecendo que a
contenção do gasto público no
ano terá um efeito marginal para segurar o consumo, que cresce num ritmo acelerado e financiado pelo crédito fácil e
farto, a avaliação da Fazenda,
segundo a Folha apurou, é que
essa é uma sinalização que terá
repercussão nas expectativas
de inflação dos investidores e
dos empresários.
E, se esses agentes econômicos acreditarem que a inflação
recuará e ficará no centro da
meta de 4,5% para o IPCA deste ano, menores são as chances
de uma onda de reajustes pressionar o índice de inflação.
Com isso, o Banco Central
teria, pelo menos por um lado,
um pouco mais de tranqüilidade para administrar o descasamento entre a demanda, que
cresce acima de 7% ao ano, e os
investimentos necessários para atender a esse consumo
maior, que levam tempo para
maturar.
Na Fazenda, ainda prevalece
a tese de que a alta recente da
inflação (e das expectativas,
que já estão com inflação em
4,7%, acima da meta mas dentro do intervalo de tolerância
de dois pontos para cima ou para baixo) irá arrefecer nos próximos meses. O valor acumulado dos reajustes verificados na
economia ao longo de 12 meses
começará a deixar para trás os
números contaminados pelo
repique dos alimentos verificado em 2007.
Além disso, outra preocupação do BC para sustentar a discussão de elevação da Selic, a
alta verificada nos serviços,
também é rebatida pela Fazenda. O setor, que inclui de salões
de beleza a gastos com educação e saúde, costuma chancelar
reajustes com facilidade em
momentos de crescimento da
economia e vem reajustando
preços desde o final de 2007.
Para a Fazenda, no entanto,
o aumento desses preços se
deu após uma queda registrada
até outubro de 2007 e não tem
uma repercussão na cadeia
produtiva, já que não servem
de base para nenhum outro
segmento. Assim, o impacto é
considerado menor.
Além disso, Mantega tem defendido que não está claro se
esse é um movimento que fez o
setor de serviços descolar da
média da economia. Justamente por isso avalia que o momento é de cautela, de esperar para
ver os desdobramentos.
Mantega e sua equipe têm
reforçado o discurso de que a
economia brasileira vai muito
bem e que tem condições de esperar alguns meses antes de
optar por uma alta dos juros.
A elevação dos juros básicos
neste momento, acreditam, teria um efeito muito ruim na
economia e, sobretudo, nos investimentos privados para aumentar a produção e sustentar
o crescimento.
(SHEILA D'AMORIM e VALDO CRUZ)
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