São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2008

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Fazenda quer pelo menos adiar aumento dos juros

Tese da equipe de Mantega é que pressão inflacionária irá arrefecer em meses

Para ministro, elevação da taxa Selic neste momento teria efeito muito ruim na economia e nos investimentos privados

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com diagnóstico diferente do Banco Central sobre o rumo da inflação no curto prazo, o ministro Guido Mantega (Fazenda) e sua equipe tentam adiar, por pelo menos dois meses, uma decisão sobre elevação dos juros para conter o consumo e pressões nos preços. Com isso, jogariam para a reunião de junho do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) uma definição nesse sentido.
Depois que o Banco Central elevou o tom, na semana passada, da possibilidade de subir a taxa Selic -aumentando as apostas no mercado financeiro de que isso poderá acontecer já neste mês-, o ministro discutiu, ontem, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do BC, Henrique Meirelles, o impacto positivo que um corte superior a R$ 20 bilhões anunciados inicialmente nos gastos do governo terá nas expectativas de inflação.
Mesmo reconhecendo que a contenção do gasto público no ano terá um efeito marginal para segurar o consumo, que cresce num ritmo acelerado e financiado pelo crédito fácil e farto, a avaliação da Fazenda, segundo a Folha apurou, é que essa é uma sinalização que terá repercussão nas expectativas de inflação dos investidores e dos empresários.
E, se esses agentes econômicos acreditarem que a inflação recuará e ficará no centro da meta de 4,5% para o IPCA deste ano, menores são as chances de uma onda de reajustes pressionar o índice de inflação.
Com isso, o Banco Central teria, pelo menos por um lado, um pouco mais de tranqüilidade para administrar o descasamento entre a demanda, que cresce acima de 7% ao ano, e os investimentos necessários para atender a esse consumo maior, que levam tempo para maturar.
Na Fazenda, ainda prevalece a tese de que a alta recente da inflação (e das expectativas, que já estão com inflação em 4,7%, acima da meta mas dentro do intervalo de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo) irá arrefecer nos próximos meses. O valor acumulado dos reajustes verificados na economia ao longo de 12 meses começará a deixar para trás os números contaminados pelo repique dos alimentos verificado em 2007.
Além disso, outra preocupação do BC para sustentar a discussão de elevação da Selic, a alta verificada nos serviços, também é rebatida pela Fazenda. O setor, que inclui de salões de beleza a gastos com educação e saúde, costuma chancelar reajustes com facilidade em momentos de crescimento da economia e vem reajustando preços desde o final de 2007.
Para a Fazenda, no entanto, o aumento desses preços se deu após uma queda registrada até outubro de 2007 e não tem uma repercussão na cadeia produtiva, já que não servem de base para nenhum outro segmento. Assim, o impacto é considerado menor.
Além disso, Mantega tem defendido que não está claro se esse é um movimento que fez o setor de serviços descolar da média da economia. Justamente por isso avalia que o momento é de cautela, de esperar para ver os desdobramentos.
Mantega e sua equipe têm reforçado o discurso de que a economia brasileira vai muito bem e que tem condições de esperar alguns meses antes de optar por uma alta dos juros.
A elevação dos juros básicos neste momento, acreditam, teria um efeito muito ruim na economia e, sobretudo, nos investimentos privados para aumentar a produção e sustentar o crescimento.
(SHEILA D'AMORIM e VALDO CRUZ)

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