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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma nova agenda econômica
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A economia brasileira esteve, nos últimos oito anos, sob
o comando de um grupo de economistas de corte liberal radical.
Oriundos na sua maioria da PUC
do Rio de Janeiro, escola que assumiu a liderança do pensamento econômico liberal moderno no
Brasil a partir do último governo
militar, comandaram os passos
da estabilização e da abertura de
nossa economia, a partir de 1994.
No primeiro mandato de FHC
havia no governo um segundo
grupo que tinha uma forma diferente de pensar o Brasil. Liderados por José Serra, hoje candidato
do governo à Presidência da República, e o ex-ministro Sérgio
Motta, essas pessoas tinham muitos pontos em comum com o grupo da PUC. Estabilidade da moeda, equilíbrio fiscal, política monetária independente para garantir o controle da inflação,
abertura ao comércio exterior e
redução da intervenção direta do
Estado na economia. Esses eram
alguns dos itens dessa agenda de
consenso. Trabalharam juntos,
sem muitos atritos, durante o período mais difícil da estabilização, principalmente nos anos de
1995 e de 1996.
Entretanto o sucesso precoce do
Real fez com que as diferenças entre os dois grupos aparecessem logo no segundo ano do mandato
do presidente. Inicialmente essas
divergências estavam centradas
na definição de um regime cambial e da política de juros. Questões que, embora eminentemente
técnicas, já escondiam a diferença
de fundo entre as duas posições: a
forma de entender o ambiente
econômico que nos cerca e a melhor maneira de o Brasil integrar-se nele.
Para o grupo liberal, o Brasil
deveria incorporar-se sem nenhuma precondição ou restrição ao
livre funcionamento das forças de
mercado. Além disso, o governo
deveria restringir sua ação apenas na busca de um equilíbrio fiscal estável e manter a inflação sob
controle via uma ação monetária
a ser desenvolvida por um Banco
Central independente. Esse modelo, chamado de Consenso de
Washington, teve na Argentina
seu mais brilhante aluno.
Já o segundo grupo -chamado
posteriormente pela imprensa de
desenvolvimentista, apesar de entender que para um país como o
Brasil não há alternativa melhor
do que uma economia de mercado aberta- fazia várias qualificações para que isso ocorresse de
uma forma eficiente do ponto de
vista dos interesses nacionais. As
principais eram:
1) O mundo real não segue com
rigor os princípios de uma economia de mercado pura, principalmente em relação ao comércio exterior;
2) Para que a economia brasileira pudesse integrar-se nesse
mundo globalizado era preciso
haver condições microeconômicas internas adequadas, principalmente no que diz respeito aos
juros, à disponibilidade de crédito
de médio e longo prazos e à estrutura tributária. Sem isso, a competitividade do tecido produtivo
brasileiro ficaria prejudicada no
confronto, saudável e necessário,
com as importações;
3) O Brasil precisava de estabilidade de longo prazo na taxa de
câmbio e isso só poderia ser obtido com uma redução importante
do chamado déficit em conta corrente externo; para tanto era necessário um esforço estratégico, a
ser coordenado pelo governo, de
aumento das exportações e de redução do chamado coeficiente de
importações via produção interna em setores de tecnologia de
ponta;
4) Nas atuais condições da economia brasileira ainda existe a
necessidade de uma intervenção
limitada do Estado em algumas
áreas como agropecuária, infra-estrutura econômica e na absorção de tecnologias de ultima geração.
Com a saída dos desenvolvimentistas do governo em fins de
1998 e início de 1999, o último a
deixar o cargo foi o ministro Clóvis Carvalho -o grupo malanista ficou hegemônico, e a política
econômica do segundo mandato
de FHC passou a ser totalmente
gerida em função de seus valores.
Os resultados foram muito ruins.
O crescimento econômico foi medíocre, o dólar oscilou muito, os
juros continuaram elevados e a
renda dos brasileiros caiu constantemente no período. Agora,
com a proximidade das eleições,
todos perceberam que os ganhos
de renda e de homogeneização
social trazidos pelo Plano Real
desapareceram. A imprensa escrita tem tratado exaustivamente
desse tema nos últimos dias. As
pesquisas eleitorais mostram o estrago dessa estagnação de renda
na avaliação que os brasileiros
têm hoje do governo.
Com a aparente adesão do PT
de Lula ao modelo dos desenvolvimentistas e a candidatura do
ex-ministro Serra como a proposta de continuidade do governo
FHC, o Brasil tem uma oportunidade nova para buscar o desenvolvimento. O trabalho de estabilização da moeda e institucionalização de um modelo mais racional de gestão fiscal nos Estados e
no governo federal será a grande
herança desses últimos oito anos.
O desafio do crescimento sustentado de nossa economia pode vir
a ser um grande sucesso em função das reformas desses oito anos
de FHC. Mas é preciso mudar a
agenda.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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