São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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TRANSBRASIL

Brasil já demora quase um mês para responder se quer investigar

Suíça faz bloqueio de conta suspeita

WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A unidade de inteligência financeira da Suíça bloqueou uma conta bancária suspeita de lavar dinheiro desviado da Transbrasil.
O procurador federal suíço Patrick Lamon, responsável pelas investigações, aguarda há cerca de um mês ofício do governo brasileiro para saber se o país tem interesse em aprofundar as investigações sobre o caso.
Os aviões da Transbrasil não decolam desde o dia 3 de dezembro, quando suas dívidas, estimadas em um total de R$ 1 bilhão, zeraram o caixa da empresa e inviabilizaram a compra de combustível. A falência da Transbrasil está sendo analisada pela Justiça.
A conta bloqueada na Suíça pertence à empresa Brindol Trading, do uruguaio Jorge Leonardo Dotta Ibarra, e tem como representantes legais os advogados paulistas Ricardo de Santos Freitas e Virgínia de Souza Romano.
Segundo ofício assinado pela presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Adrienne Senna, o próprio banco suíço onde a Brindol tem conta denunciou sua cliente ao órgão de inteligência financeira daquele país.
"Cientes das acusações contra a Transbrasil e seu ex-presidente [Antonio Celso Cipriani], a instituição financeira reportou a suspeita àquela unidade", escreveu Senna em comunicado ao Ministério Público. O nome do banco e o valor bloqueado ainda não foram informados ao Brasil.
Em correspondência trocada no dia 11 de abril entre o procurador Patrick Lamon e o Ministério Público brasileiro, o investigador suíço indicou que o bloqueio pode ser ampliado. "Gostaria de informar que o departamento de lavagem de dinheiro da Polícia Federal da Suíça transmitiu-me dois avisos de bancos suíços sobre valores provenientes da Transbrasil", escreveu.
No dia seguinte, Patrick Lamon ratificou o congelamento do dinheiro na conta: "Confirmo o bloqueio numa conta bancária da Suíça de valores relacionados com a Transbrasil. O dinheiro [depositado nessa conta] veio dessa companhia".
As relações financeiras entre a Transbrasil e a Brindol Trading não são recentes. A Folha obteve cópia de transferência bancária feita entre as empresas no dia 25 de agosto de 1994. O dinheiro, US$ 430 mil, deixou a conta da Transbrasil no Barnett Bank de Miami e foi remetido para a conta da Brindol no Banque CBI-TDB -Union Bancaire Privée, em Genebra, cujo número é 48276VR.
Provavelmente, foi essa a conta bloqueada em março último pela Suíça. Os dados bancários ainda não foram confirmados em detalhes ao Ministério Público brasileiro, onde o caso foi entregue aos procuradores Guilherme Schelb e José Cardoso Lopes.

Lentidão e rapidez
A presteza das autoridades suíças na investigação do caso esbarrou na lentidão burocrática brasileira. O procurador Patrick Lamon pediu pressa do Estado brasileiro em dizer se quer participar do caso e se pretende reclamar o dinheiro bloqueado.
A existência da investigação na Suíça foi comunicada ao Coaf no dia 26 de março. Até ontem, nenhum ofício havia sido enviado à Suíça pelo diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Depende dele a declaração oficial do Estado brasileiro de que o país tem interesse em reaver o dinheiro possivelmente desviado da Transbrasil, caso se confirmem as suspeitas do procurador suíço.
Os advogados Ricardo de Santos Freitas e Virgínia Romano, representantes da Brindol Trading, são especialistas em consultorias financeiras. Ambos são sócios da Jacarandá Participações, empresa cujo controle reúne especialistas do ramo e a Paturi Participações e Empreendimentos, única sócia estrangeira.
Freitas, Romano e a Paturi também são sócios na La Investidores Associados, de administração de holdings, e na CCB Comercial Cerealista do Brasil, que negocia café no mercado internacional. Todas essas empresas funcionam no mesmo endereço: rua Pequetita, 145, conjunto 34, em São Paulo.
As investigações do Ministério Público também têm como objeto a empresa Target Aviação Ltda, representante no Brasil da canadense Bombardier. A Target tem como sócios o empresário Antonio Celso Cipriani e a empresa Energy Ventures, com sede nas Ilhas Cayman.
Relatório de inspeção elaborado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apurou a existência de "relacionamento comercial" entre a Target e a Transbrasil, mas não indicou transferências de recursos ou negócios atípicos.



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