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TRANSBRASIL
Brasil já demora quase um mês para responder se quer investigar
Suíça faz bloqueio de conta suspeita
WLADIMIR GRAMACHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A unidade de inteligência financeira da Suíça bloqueou uma conta bancária suspeita de lavar dinheiro desviado da Transbrasil.
O procurador federal suíço Patrick Lamon, responsável pelas
investigações, aguarda há cerca de
um mês ofício do governo brasileiro para saber se o país tem interesse em aprofundar as investigações sobre o caso.
Os aviões da Transbrasil não decolam desde o dia 3 de dezembro,
quando suas dívidas, estimadas
em um total de R$ 1 bilhão, zeraram o caixa da empresa e inviabilizaram a compra de combustível.
A falência da Transbrasil está sendo analisada pela Justiça.
A conta bloqueada na Suíça pertence à empresa Brindol Trading,
do uruguaio Jorge Leonardo Dotta Ibarra, e tem como representantes legais os advogados paulistas Ricardo de Santos Freitas e
Virgínia de Souza Romano.
Segundo ofício assinado pela
presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), Adrienne Senna, o próprio banco suíço onde a Brindol
tem conta denunciou sua cliente
ao órgão de inteligência financeira daquele país.
"Cientes das acusações contra a
Transbrasil e seu ex-presidente
[Antonio Celso Cipriani], a instituição financeira reportou a suspeita àquela unidade", escreveu
Senna em comunicado ao Ministério Público. O nome do banco e
o valor bloqueado ainda não foram informados ao Brasil.
Em correspondência trocada no
dia 11 de abril entre o procurador
Patrick Lamon e o Ministério Público brasileiro, o investigador
suíço indicou que o bloqueio pode ser ampliado. "Gostaria de informar que o departamento de lavagem de dinheiro da Polícia Federal da Suíça transmitiu-me dois
avisos de bancos suíços sobre valores provenientes da Transbrasil", escreveu.
No dia seguinte, Patrick Lamon
ratificou o congelamento do dinheiro na conta: "Confirmo o bloqueio numa conta bancária da
Suíça de valores relacionados
com a Transbrasil. O dinheiro
[depositado nessa conta] veio
dessa companhia".
As relações financeiras entre a
Transbrasil e a Brindol Trading
não são recentes. A Folha obteve
cópia de transferência bancária
feita entre as empresas no dia 25
de agosto de 1994. O dinheiro,
US$ 430 mil, deixou a conta da
Transbrasil no Barnett Bank de
Miami e foi remetido para a conta
da Brindol no Banque CBI-TDB -Union Bancaire Privée, em Genebra, cujo número é 48276VR.
Provavelmente, foi essa a conta bloqueada em março último pela Suíça. Os dados bancários ainda não foram confirmados em detalhes ao Ministério Público brasileiro, onde o caso foi entregue aos procuradores Guilherme Schelb e José Cardoso Lopes.
Lentidão e rapidez
A presteza das autoridades suíças na investigação do caso esbarrou na lentidão burocrática brasileira. O procurador Patrick Lamon pediu pressa do Estado brasileiro em dizer se quer participar
do caso e se pretende reclamar o
dinheiro bloqueado.
A existência da investigação na
Suíça foi comunicada ao Coaf no
dia 26 de março. Até ontem, nenhum ofício havia sido enviado à
Suíça pelo diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Depende dele a declaração oficial do Estado brasileiro de que o país tem interesse em reaver o dinheiro possivelmente desviado da
Transbrasil, caso se confirmem as
suspeitas do procurador suíço.
Os advogados Ricardo de Santos Freitas e Virgínia Romano, representantes da Brindol Trading,
são especialistas em consultorias
financeiras. Ambos são sócios da
Jacarandá Participações, empresa
cujo controle reúne especialistas
do ramo e a Paturi Participações e
Empreendimentos, única sócia
estrangeira.
Freitas, Romano e a Paturi também são sócios na La Investidores
Associados, de administração de
holdings, e na CCB Comercial Cerealista do Brasil, que negocia café
no mercado internacional. Todas
essas empresas funcionam no
mesmo endereço: rua Pequetita,
145, conjunto 34, em São Paulo.
As investigações do Ministério
Público também têm como objeto
a empresa Target Aviação Ltda,
representante no Brasil da canadense Bombardier. A Target tem
como sócios o empresário Antonio Celso Cipriani e a empresa
Energy Ventures, com sede nas
Ilhas Cayman.
Relatório de inspeção elaborado
pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apurou a existência
de "relacionamento comercial"
entre a Target e a Transbrasil, mas
não indicou transferências de recursos ou negócios atípicos.
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