São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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Estudo para FGV pode causar rombo à União

WLADIMIR GRAMACHO
HUMBERTO MEDINA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo presidente da Anatel, Luiz Guilherme Schymura, 41, diz que é contra a concessão de ajuda financeira do governo às empresas do setor, mas um estudo seu pode provocar um rombo de R$ 35 bilhões no caixa da União. Como professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, Schymura é co-autor de estudo que atualizou os valores de títulos emitidos no início do século passado e que hoje estão sendo utilizados na Justiça para pagamentos de dívidas de empresas com o setor público.
O documento, assinado em parceria com o também professor Clóvis de Faro, sustenta que cada apólice de um conto de réis emitida em 1902 valeria atualmente R$ 295.032,00. O trabalho de Schymura tem sido usado por grandes escritórios de advocacia interessados em transformar títulos velhos em bons negócios.
A Advocacia Geral da União (AGU) considera esses papéis inválidos e vem brigando na Justiça para evitar que sejam aceitos na quitação de dívidas.
Pareceres encomendados por empresas são o maior vínculo de Schymura com o setor privado. Professor universitário de carreira, com mestrado (1985) e doutorado (1989) concluídos na FGV, o economista poucas vezes interrompeu sua rotina de aulas e pesquisas para prestar consultorias.
Numa delas, encomendada pela Kolynos em 1995, Schymura defendeu a concentração de mercado como forma de "beneficiar o consumidor". O discurso tucano sempre alegou que a competição entre as empresas é que seria capaz de trazer essas vantagens.
Sobre a compra da Kolynos pela Colgate, que passou a controlar 79% do mercado de creme dental, Schymura disse que se tratava de "concentração tecnicamente adequada, da qual advêm economias de escala que irão, em última análise, beneficiar o consumidor, desde que preservada a competitividade". O trabalho foi feito em parceria com o ex-ministro Mário Henrique Simonsen e o economista Augusto Jefferson Lemos.
Durante sua sabatina no Senado, Schymura voltou a defender fusões e aquisições como forma de resolver o problema da baixa rentabilidade que afeta alguns setores da economia, entre eles o de telecomunicações, a partir de hoje sob sua responsabilidade.
"Fusão pode gerar solvência e situação financeira mais confortável para novos investimentos, que vão trazer melhorias para o consumidor", afirmou.
Sem experiência na área de telecomunicações, Schymura enfrentou a oposição do ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga, que queria efetivar no cargo o presidente interino Antonio Carlos Valente. "Não acho que a agência tenha que ser presidida por alguém com 30 anos de experiência no setor. [Schymura" é especialista em microeconomia, e isso é fundamental", diz o economista Felipe Ohana, do Conselho Consultivo da Anatel.



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