São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Empresários não crêem na interrupção do fornecimento, mas CNI vê ação "preocupante" da Bolívia

Indústria pode buscar outras fontes, diz Fiesp

DA REPORTAGEM LOCAL

As indústrias paulistas não têm -por considerarem desnecessários- planos de contingência ou emergência para uma eventual falta de gás industrial por conta da crise desencadeada pela Bolívia.
"A comercialização do gás boliviano é uma via de duas mãos. Ela não interessa só ao Brasil, mas também à Bolívia. Estamos seguros de que não haverá problemas no abastecimento", afirmou ontem Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Skaf defendeu que a Bolívia cumpra o contrato de 30 anos firmado em 1989 com o Brasil para a entrega de seu gás a US$ 3,13 o milhar de metros cúbicos. Em reunião de emergência na sede da Fiesp ontem, Skaf ouviu de um senador de oposição ao presidente boliviano, Evo Morales, a defesa de um reajuste de, no mínimo, 60% nesse preço (para US$ 5).
"O valor registrado no contrato está defasado, e o Brasil, com um PIB de mais de R$ 1 trilhão, tem a responsabilidade de não olhar apenas para o seu próprio umbigo diante das dificuldades sociais da Bolívia", afirmou em entrevista ao lado de Skaf o senador boliviano Andreas Guzman, do partido Podemos, que controla, segundo ele, 28% do Congresso.
Cerca de 75% do gás consumido pelas indústrias no Estado de São Paulo vem da Bolívia. Cerca de 80% desse volume está concentrado em aproximadamente 30 empresas, principalmente dos setores petroquímico, siderúrgico, de fertilizantes e cerâmico.
Para a Fiesp, a maioria das empresas teria como buscar fontes alternativas de energia, mesmo que mais caras, em caso de quebra no fornecimento de gás.
Skaf qualificou como "show de pirotecnia" a nacionalização das empresas de gás na Bolívia e atribuiu o movimento às pesquisas no país que mostraram queda na popularidade do presidente meses antes das eleições legislativas, marcadas para julho.
A indústria brasileira acompanha com preocupação a decisão do governo boliviano. "Toda medida de caráter unilateral e que representa rompimento de contratos é sempre preocupante. Vai afetar o relacionamento dos dois países", diz Armando Monteiro Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Para ele, existe a expectativa de pressões de custos, "mas ainda é cedo para alarmismos. Esperemos que haja um mínimo de racionalidade e que não haja nenhum risco na manutenção dos níveis atuais de suprimento. Qualquer alteração na estrutura de preços resultará em pressão imediata de custos no Brasil".
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, diz que o "encarecimento do gás boliviano já era um fato antes da crise e pode haver um "soluço" no abastecimento de gás. A Bolívia tem que exportar toda a sua produção de gás, e não vai conseguir cliente com mais demanda que o Brasil".
A Suzano Bahia Sul Papel e Celulose, que utiliza "um pouco" de gás boliviano na sua fábrica em Suzano (SP), informa que tem condições de substituir esse gás, em caso de interrupção de fornecimento, por óleo combustível.
"Se precisar, podemos trocar o gás por óleo combustível", afirma Boris Tabacof, vice-presidente do conselho de administração da companhia. "As fábricas de celulose são geradoras de energia em escala significativa", afirma.
A Rhodia, empresa do setor químico, informa que utiliza gás natural em boa parte de seus processos industriais. "Mas as unidades são flexíveis e podem passar a operar com óleo combustível. Se for feita essa mudança, haverá impacto sobre os custos da empresa", informa a Rhodia por meio de sua assessoria de imprensa.
A Cosipa, que usa gás boliviano, informa que "é muito prematuro avaliar as conseqüências" da nacionalização das operações de petróleo e gás na Bolívia. Afirma, por meio de sua assessoria de imprensa, que tem condições de redirecionar o uso de suas fontes próprias de energia, como os gases gerados pela usina, e outros combustíveis (GLP, óleo combustível e alcatrão). (FCZ e FF)


Texto Anterior: Petroleiros brasileiros apóiam medida
Próximo Texto: SC depende do gás boliviano; MT adia o uso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.