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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Empresários não crêem na interrupção do fornecimento, mas CNI vê ação "preocupante" da Bolívia
Indústria pode buscar outras fontes, diz Fiesp
DA REPORTAGEM LOCAL
As indústrias paulistas não têm
-por considerarem desnecessários- planos de contingência ou
emergência para uma eventual
falta de gás industrial por conta da
crise desencadeada pela Bolívia.
"A comercialização do gás boliviano é uma via de duas mãos. Ela
não interessa só ao Brasil, mas
também à Bolívia. Estamos seguros de que não haverá problemas
no abastecimento", afirmou ontem Paulo Skaf, presidente da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo).
Skaf defendeu que a Bolívia
cumpra o contrato de 30 anos firmado em 1989 com o Brasil para a
entrega de seu gás a US$ 3,13 o milhar de metros cúbicos. Em reunião de emergência na sede da
Fiesp ontem, Skaf ouviu de um senador de oposição ao presidente
boliviano, Evo Morales, a defesa
de um reajuste de, no mínimo,
60% nesse preço (para US$ 5).
"O valor registrado no contrato
está defasado, e o Brasil, com um
PIB de mais de R$ 1 trilhão, tem a
responsabilidade de não olhar
apenas para o seu próprio umbigo diante das dificuldades sociais
da Bolívia", afirmou em entrevista ao lado de Skaf o senador boliviano Andreas Guzman, do partido Podemos, que controla, segundo ele, 28% do Congresso.
Cerca de 75% do gás consumido
pelas indústrias no Estado de São
Paulo vem da Bolívia. Cerca de
80% desse volume está concentrado em aproximadamente 30
empresas, principalmente dos setores petroquímico, siderúrgico,
de fertilizantes e cerâmico.
Para a Fiesp, a maioria das empresas teria como buscar fontes
alternativas de energia, mesmo
que mais caras, em caso de quebra no fornecimento de gás.
Skaf qualificou como "show de
pirotecnia" a nacionalização das
empresas de gás na Bolívia e atribuiu o movimento às pesquisas
no país que mostraram queda na
popularidade do presidente meses antes das eleições legislativas,
marcadas para julho.
A indústria brasileira acompanha com preocupação a decisão
do governo boliviano. "Toda medida de caráter unilateral e que representa rompimento de contratos é sempre preocupante. Vai
afetar o relacionamento dos dois
países", diz Armando Monteiro
Neto, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Para ele, existe a expectativa de
pressões de custos, "mas ainda é
cedo para alarmismos. Esperemos que haja um mínimo de racionalidade e que não haja nenhum risco na manutenção dos
níveis atuais de suprimento.
Qualquer alteração na estrutura
de preços resultará em pressão
imediata de custos no Brasil".
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, diz que o
"encarecimento do gás boliviano
já era um fato antes da crise e pode haver um "soluço" no abastecimento de gás. A Bolívia tem que
exportar toda a sua produção de
gás, e não vai conseguir cliente
com mais demanda que o Brasil".
A Suzano Bahia Sul Papel e Celulose, que utiliza "um pouco" de
gás boliviano na sua fábrica em
Suzano (SP), informa que tem
condições de substituir esse gás,
em caso de interrupção de fornecimento, por óleo combustível.
"Se precisar, podemos trocar o
gás por óleo combustível", afirma
Boris Tabacof, vice-presidente do
conselho de administração da
companhia. "As fábricas de celulose são geradoras de energia em
escala significativa", afirma.
A Rhodia, empresa do setor químico, informa que utiliza gás natural em boa parte de seus processos industriais. "Mas as unidades
são flexíveis e podem passar a
operar com óleo combustível. Se
for feita essa mudança, haverá impacto sobre os custos da empresa", informa a Rhodia por meio
de sua assessoria de imprensa.
A Cosipa, que usa gás boliviano,
informa que "é muito prematuro
avaliar as conseqüências" da nacionalização das operações de petróleo e gás na Bolívia. Afirma,
por meio de sua assessoria de imprensa, que tem condições de redirecionar o uso de suas fontes
próprias de energia, como os gases gerados pela usina, e outros
combustíveis (GLP, óleo combustível e alcatrão).
(FCZ e FF)
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