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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Departamento de Estado aguardará para definir se adota atitude mais firme em relação à Bolívia
EUA se "preocupam" com respeito a contratos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Departamento de Estado dos
EUA está "preocupado" com a
nacionalização do gás na Bolívia,
mas esperará o desenrolar dos
acontecimentos para definir se toma ou não uma atitude mais firme em relação à decisão do presidente Evo Morales. Foi o que disse à Folha o porta-voz do setor do
órgão que responde pela América
Latina, Eric Watnik.
"Nossa preocupação é principalmente com o impacto que a
ação do presidente [Evo Morales]
possa ter na economia boliviana,
nos investimentos privados e nos
contratos já existentes", disse
Watnik, que afirma que sua equipe estuda, no momento, o decreto
boliviano e seus desdobramentos.
"Evo Morales é um homem
simples, talvez ainda não tenha
entendido a conseqüência de seu
ato", disse à Folha Riordan Roett,
especialista em América Latina da
Escola de Estudos Internacionais
Avançados da Universidade
Johns Hopkins, em Washington.
"A curto prazo, ele pode até ter
o apoio da população indígena
com essas medidas, mas logo elas
vão prejudicá-lo, pois o capital estrangeiro, brasileiro principalmente, se afastará, e a Bolívia não
domina a tecnologia para a extração eficiente de gás."
Para o professor norte-americano, autor de "The Andes in Crisis
- Security, Democracy and Economic Stabilization" (2004), nem
o Departamento de Estado norte-americano nem a Casa Branca devem fazer grandes anúncios em
relação à mudança na Bolívia, por
razões puramente econômicas.
Os EUA importam gás natural
principalmente do Canadá e do
México, e as empresas norte-americanas têm presença quase desprezível na economia boliviana.
"Agenda positiva"
Na segunda-feira, em encontro
fechado com editorialistas norte-americanos cuja íntegra foi revelada apenas ontem, a secretária de
Estado norte-americana, Condoleezza Rice, disse que os Estados
Unidos "saíram de seu caminho",
no sentido de que fizeram um esforço extraordinário para dar
"uma chance" ao governo esquerdista de Evo Morales.
"Nossa agenda para a América
Latina é positiva", afirmou a secretária de Estado -em outra
ocasião, Rice havia dito que o tom
das relações entre Bolívia e Estados Unidos seria dado pelo presidente boliviano.
Antes da nacionalização de segunda-feira, Morales vinha de um
encontro em Havana da Alternativa Bolivariana para as Américas
(Alba) com o cubano Fidel Castro
e o venezuelano Hugo Chávez,
críticos constantes do governo
George W. Bush.
Morales "tem de mostrar governabilidade para dispor de todos
os benefícios dos mercados livres
e abertos", afirmou ontem o porta-voz da secretária, Sean McCormack. Sobre o fato de o presidente
enviar tropas para vigiar as empresas nacionalizadas, McCormack não entendeu o objetivo da
ação. "Não vejo o efeito que terá
nas operações."
Menos assertivo foi o porta-voz
da Casa Branca, Scott McClellan.
"Ainda estamos analisando, não
somos capazes de determinar se
houve mesmo uma mudança oficial e que impacto essa mudança
pode ter", disse McClellan, pela
manhã. Numa gafe, o funcionário
de Bush -de saída de seu cargo
nos próximos dias- chegou a
questionar se houve mesmo a nacionalização do gás, conforme lhe
diziam os jornalistas.
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