São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Debate será entre metas e tecnologia

Maioria dos países quer que governos se comprometam a reduzir emissão de gases, mas EUA apostam em tecnologia

Impasse está entre transferir para o setor privado a responsabilidade pela maior eficiência no uso da energia ou passá-la aos governos

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Angela Merkel, a chanceler alemã (primeira-ministra) e anfitriã do G8+5, convidou seu colega norte-americano George Walker Bush para almoçar na quarta-feira, antes de inaugurar oficialmente a cúpula 2007, para tentar desatar o nó que amarra o comunicado oficial, sempre previamente negociado.
A Alemanha, com o apoio da maioria dos países do G8, quer que a reunião em Heiligendamm estabeleça que é intolerável permitir que o aquecimento global exceda 2C, na média. Para manter o aumento de temperatura nesse limite, seria preciso que os governos assumissem o compromisso de cortar pela metade, até 2050, a emissão de gases do efeito estufa em relação a seus níveis de 1990.
Os Estados Unidos até aceitam o limite de 2C, mas não querem se comprometer com metas rígidas para atingi-lo. Preferem que o combate ao efeito estufa se dê por meio da tecnologia, de tal forma que motores de automóveis, por exemplo, consumam menos os combustíveis que geram os gases daninhos ao ambiente.
Na prática, o impasse se dá entre transferir para o setor privado a responsabilidade pela maior eficiência no uso da energia ou dar aos governos a iniciativa de controlá-la, ainda por cima com metas numéricas bem definidas.
O que complica o imbróglio é que países emergentes como Índia e China (dois dos cinco agregados ao G8 na cúpula da Alemanha) também são contra a fixação de metas.
"Medidas legalmente mandatórias para reduzir a emissão de gases do efeito estufa tendem a ter impacto adverso significativo no crescimento econômico de países em desenvolvimento, incluindo a Índia", diz, por exemplo, Prodipto Ghosh, do Ministério de Meio Ambiente e Florestas indiano.
Reforça o ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi: "Forçar os países em desenvolvimento a aceitar a mesma carga [de cortes na emissão de gases] que os países ricos seria injusto e prejudicaria os esforços para tirar milhões de pessoas da pobreza".
A idéia básica por trás dessas reações é a de que o mundo rico foi basicamente quem criou o problema, na sua corrida para o desenvolvimento. Os países emergentes teriam, portanto, o direito de manter a sua corrida para o desenvolvimento, o que implica um uso intensivo -e geralmente descontrolado- de todas as fontes energéticas, limpas ou não.
O Brasil fica no meio do tiroteio: é um país em desenvolvimento que também precisa acelerar seu crescimento, mas já tem em ação um modo -o álcool- de combater o aquecimento global sem desistir de crescer.
Por isso, sua presença no G8 se tornou relevante, de que dá prova o fato de que o presidente Bush incluiu o Brasil na lista dos 15 países a serem convidados para uma conferência no terceiro trimestre, nos Estados Unidos, para começar a discutir o tratado que substituirá o Protocolo de Kyoto, o mecanismo concebido para evitar o aquecimento global que se tornou inócuo porque os EUA não o assinaram -e são os maiores emissores de gases do efeito estufa. (CLÓVIS ROSSI)


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