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Debate será entre metas e tecnologia
Maioria dos países quer que governos se comprometam a reduzir emissão de gases, mas EUA apostam em tecnologia
Impasse está entre transferir para o setor privado a responsabilidade pela maior eficiência no uso da energia ou passá-la aos governos
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Angela Merkel, a chanceler
alemã (primeira-ministra) e
anfitriã do G8+5, convidou seu
colega norte-americano George Walker Bush para almoçar
na quarta-feira, antes de inaugurar oficialmente a cúpula
2007, para tentar desatar o nó
que amarra o comunicado oficial, sempre previamente negociado.
A Alemanha, com o apoio da
maioria dos países do G8, quer
que a reunião em Heiligendamm estabeleça que é intolerável permitir que o aquecimento global exceda 2C, na
média. Para manter o aumento
de temperatura nesse limite,
seria preciso que os governos
assumissem o compromisso de
cortar pela metade, até 2050, a
emissão de gases do efeito estufa em relação a seus níveis de
1990.
Os Estados Unidos até aceitam o limite de 2C, mas não
querem se comprometer com
metas rígidas para atingi-lo.
Preferem que o combate ao
efeito estufa se dê por meio da
tecnologia, de tal forma que
motores de automóveis, por
exemplo, consumam menos os
combustíveis que geram os gases daninhos ao ambiente.
Na prática, o impasse se dá
entre transferir para o setor
privado a responsabilidade pela maior eficiência no uso da
energia ou dar aos governos a
iniciativa de controlá-la, ainda
por cima com metas numéricas
bem definidas.
O que complica o imbróglio é
que países emergentes como
Índia e China (dois dos cinco
agregados ao G8 na cúpula da
Alemanha) também são contra
a fixação de metas.
"Medidas legalmente mandatórias para reduzir a emissão
de gases do efeito estufa tendem a ter impacto adverso significativo no crescimento econômico de países em desenvolvimento, incluindo a Índia",
diz, por exemplo, Prodipto
Ghosh, do Ministério de Meio
Ambiente e Florestas indiano.
Reforça o ministro de Relações Exteriores da China, Yang
Jiechi: "Forçar os países em desenvolvimento a aceitar a mesma carga [de cortes na emissão
de gases] que os países ricos seria injusto e prejudicaria os esforços para tirar milhões de
pessoas da pobreza".
A idéia básica por trás dessas
reações é a de que o mundo rico
foi basicamente quem criou o
problema, na sua corrida para o
desenvolvimento. Os países
emergentes teriam, portanto, o
direito de manter a sua corrida
para o desenvolvimento, o que
implica um uso intensivo -e
geralmente descontrolado- de
todas as fontes energéticas,
limpas ou não.
O Brasil fica no meio do tiroteio: é um país em desenvolvimento que também precisa
acelerar seu crescimento, mas
já tem em ação um modo -o álcool- de combater o aquecimento global sem desistir de
crescer.
Por isso, sua presença no G8
se tornou relevante, de que dá
prova o fato de que o presidente
Bush incluiu o Brasil na lista
dos 15 países a serem convidados para uma conferência no
terceiro trimestre, nos Estados
Unidos, para começar a discutir
o tratado que substituirá o Protocolo de Kyoto, o mecanismo
concebido para evitar o aquecimento global que se tornou
inócuo porque os EUA não o assinaram -e são os maiores
emissores de gases do efeito estufa.
(CLÓVIS ROSSI)
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