|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bancos aumentam competição no crédito
Avanço de instituições públicas e demanda fraca por financiamentos estimulam redução de taxas e extensão de prazos
Para analistas, oferta de crédito melhorou, e a maior dificuldade agora é convencer empresas e consumidores
a tomarem emprestado
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A concessão de crédito teve
forte recuperação em março,
mas já esbarra na resistência de
consumidores e empresas de
assumirem novas dívidas.
O aumento da concorrência
dos bancos públicos, pressionados pelo governo a expandir
a oferta de crédito, e a demanda
fraca por novos financiamentos têm forçado instituições
privadas como Itaú-Unibanco,
Bradesco e Santander-Real a
reverem suas estratégias de
atuação, investindo mais em
marketing, reduzindo taxas e
aumentando prazos, especialmente no financiamento de
veículos, imóveis e consumo.
Segundo especialistas, a
maior parte do consumo represado pela crise -e a demanda
por crédito- já se materializou.
Daqui em diante, bancos e redes de varejo terão de lidar com
os efeitos da crise na confiança
de empresas e consumidores,
até agora estimulados por políticas como redução de IPI para
carros e outros produtos.
A boa notícia é que a disponibilidade de crédito parece ter
voltado ao normal, inclusive
com o retorno de alguns bancos
pequenos ao mercado. "O problema está na demanda. A Selic
[taxa básica de juros determinada pelo Banco Central] em
queda induz a uma oferta
maior de crédito. Os bancos
criaram um colchão de provisionamento para enfrentar a
inadimplência. Quem partir
primeiro [para o crédito] vai
conseguir recuperar os resultados, que foram fracos no primeiro trimestre", disse João
Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho.
"Não temos mais um problema de oferta, tanto que os bancos estão reduzindo juros e aumentando prazos", disse Bruno
Rocha, da Tendências.
Dados do BC mostraram retração de 8,1% de março para
abril (mês com menos dias
úteis) das novas concessões de
financiamento de carros, segmento em que os bancos privados têm elevado prazos para até
80 meses. Em abril, as novas
concessões para outros bens
duráveis (móveis e eletrodomésticos) tiveram retração de
4,7%; para imóveis, de 17,1%,
segundo o BC.
Para Fabio Barbosa, presidente da Febraban (associação
dos bancos) e do Santander, a
oferta de crédito "está se normalizando" e os bancos "estão
indo atrás do cliente", que segue rediscutindo planos de
consumo e de investimento.
"Já existe uma oferta bem
maior [de crédito]. Obviamente, as empresas estão reprogramando seus investimentos, e as
pessoas se retraíram. Agora que
o cenário se apresenta um pouco melhor, a concorrência volta. A hora é agora de mostrar ao
cliente a condição que você tem
de apoiá-lo no seu plano de investimento ou de consumo."
Segundo Marcio Percival, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, a maioria dos
bancos privados perdeu espaço
ao reduzir a oferta de crédito na
crise. Para Percival, essas instituições buscam agora retomar
o mercado perdido. "A gente
cresceu porque nossas taxas ficaram estáveis. O desafio agora
é fidelizar o novo cliente. A concorrência vai se acirrar", disse.
"A crise já está no retrovisor.
A perspectiva de aumento da
demanda para o crédito é positiva, e as taxas de inadimplência estão sob controle", disse
ontem Luiz Carlos Trabuco,
presidente do Bradesco.
Os bancos argumentam que
o alongamento de prazos decorre da expectativa de melhora na economia e de uma certa
estabilidade na inadimplência
-cresceu de 5% para 5,2% de
março para abril.
Segundo analistas, a extensão dos prazos dos financiamentos de veículos pode ter
mais efeito de marketing do
que estimular a expansão dos
empréstimos. A maioria dos financiamentos tem prazos de
36 a 40 meses, sendo marginal
os prazos acima de 60 meses.
"É emblemático que essas
instituições estejam oferecendo prazos longos para veículos.
É uma estratégia de marketing
para ganhar espaço. Sendo
agressivos agora, adiantam-se
na recuperação prevista para o
segundo semestre. É importante dizer que, além do marketing, há espaço para queda nos
juros e um quadro de mais normalidade na conjuntura", disse
Bruno Rocha.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: BB volta a cortar juros e amplia prazo para imóveis Índice
|