|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Vai custar mais caro
BENJAMIN STEINBRUCH
O nosso Brasil é um país realmente muito interessante! Fui
viajar na última terça-feira para
trazer de volta as crianças, que
estavam de férias. Viagem curta,
sem muitas preocupações. Pensei que seria como em tantas outras em que, na volta, a gente se
pergunta por que não ficou mais
um pouco, já que nada mudou,
tudo continua como antes. Mas
não. Lendo os jornais de domingo, quando cheguei, parecia que
tudo tinha mudado. Tivemos
uma greve geral de caminhoneiros, que, para muitos, deu a impressão de um sonho, algo irreal,
que ameaçou o abastecimento, o
direito de ir e vir, o cotidiano da
vida do brasileiro, como se a
materialização de um pesadelo
fosse coisa impossível de acontecer aqui em nossa terra.
Não quero discutir aqui a legitimidade da greve. Se foi previamente programada ou não, necessária ou não, justa ou injusta.
Mas quero refletir sobre o susto
que ela causou. Parecia que estávamos querendo esquecer o
Brasil real, aquele que acorda,
trabalha e dorme independentemente do dia-a-dia de Brasília.
A verdade maior é que temos
muitos problemas para resolver
que devem ser encarados de
frente, o quanto antes, para evitar surpresas e aliviar desconfortos que estão ocorrendo de maneira intensa, tempo após tempo. Desconfortos esses que são
conhecidos de todos e para os
quais há soluções que estão sendo postergadas de maneira perigosa para o país.
É claro que interessa a todos
nós a busca de sintonia dos Poderes Públicos e das lideranças
políticas. Assim acompanhamos
a troca de ministros, a acomodação política, a justa ampliação da base de sustentação do
governo, o reforço das alianças
que foram formadas.
Mais importante do que isso,
no entanto, o que interessa mesmo é a materialização do plano
de governo, que ressalte e defenda os caminhos para onde vamos com o país.
A economia, do ponto de vista
interno, está bem mais equilibrada, com um time afinado e
motivado, fazendo as coisas
acontecerem para o lado melhor. A troca de ministros foi positiva, aliando mais esforços e
reforçando a liderança do presidente sobre sua equipe. A tese do
desenvolvimento foi relançada,
fazendo com que todos acreditem que, desta vez, é para valer e
que caminhamos para o fortalecimento dos grupos brasileiros, a
preservação do mercado interno, a busca do mercado externo,
a criação de empregos e suas
consequências positivas na economia do nosso país.
Mas, e os nossos velhos problemas, como enfrentá-los? Tomara Deus que não precisemos de
governo autoritário para resolver o problema da Previdência,
como fez o Chile, nem governo
sem dinheiro para pagar os aposentados, como fez a Argentina.
Como vamos resolver nosso problema previdenciário, que é um
dos maiores que temos no curto
prazo? Vamos deixar ficar o pior
possível para, só depois, fazer
aquilo que todos sabem que é
necessário fazer e terá que ser
feito de um jeito ou de outro?
Vamos deixar chegar o dia em
que, exaurido todo o patrimônio
da nação, teremos que nos colocar de frente para os nossos mais
velhos -aqueles que merecem
descanso por ter trabalhado, estar em dia com seus impostos e
contribuições- , que precisam
da aposentadoria para viver, e
dizer a eles que não poderemos
pagar porque não temos dinheiro? E não temos recursos por não
termos tomado a tempo as decisões que deveríamos ter tomado
antes? E as questões das reformas tributária e administrativa,
como ficam? Outro imenso problema que nós temos é uma
enorme massa de gente sem tudo. São os sem-terra, os sem-emprego, os sem-casa, os sem-saúde, os sem-educação. São os
sem-cidadania e, por isso, sem-esperança. O que fazer com eles?
O movimento dos sem-terra é
uma realidade conhecida de todos nós. Querem ter a chance de
fincar raízes e produzir. Eles têm
aumentado muito em mobilizações. Será que não é agora a hora de construir com calma uma
solução conjunta, de longo prazo, que tenha o conforto das partes? A busca da posse legal de
uma propriedade não é o começo do respeito à propriedade dos
outros? O presidente sabe que os
desafios estão lançados. Eles são
muitos e bastante difíceis de ser
alcançados. Ele sabe também
que terá o apoio da sociedade
brasileira, de todos os quadrantes e de todas as classes, na caminhada. Não lhe faltarão manifestações para reforçar a sua coragem e ampliar o apoio para
tudo o que precisar. É hora de
fazer.
Por fim, gostaria de falar, mais
uma vez, sobre o trabalho e a
produção. Em um país continental, como o nosso, a palavra
de ordem deve ser trabalho. Na
medida em que o brasileiro tenha trabalho, ele amplia a sua
chance de ter educação, saúde,
profissão, família, esperança e
cidadania.
Nada mais justo, para um ser
humano, do que ter a possibilidade de produzir para si, para
sua família, para seu país. Isso
deveria ser um direito e o começo de tudo, para todos. Por meio
da criação de mais empregos, do
aumento da produção, da volta
do desenvolvimento, devemos
conseguir o começo do fim dos
desconfortos que ameaçam nosso país. Quanto mais tempo demorar, mais caro pode custar.
Benjamin Steinbruch, 45, empresário,
graduado em administração de empresas e
marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos
de administração da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio
Doce. E-mail: bvictoria@psi.com.br
Texto Anterior: Preços dos combustíveis vão seguir os do petróleo Próximo Texto: Emergente: Economia da Venezuela registra queda de 7,5% Índice
|