São Paulo, Terça-feira, 03 de Agosto de 1999
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MERCOSUL
UIA acusa país de imperialista por forçar Argentina a suspender mecanismo que prevê salvaguardas
Industriais argentinos atacam Brasil

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

Os industriais argentinos reagiram à suspensão do mecanismo que possibilitava a adoção de medidas protecionistas contra o Brasil acusando o país vizinho de imperialista.
Segundo a UIA (União Industrial Argentina), para o Brasil, "a única regra válida no Mercosul é a lei do mais forte".
As declarações dos dirigentes da UIA são uma resposta à decisão do governo argentino de suspender a resolução 911. Segundo os industriais, a diplomacia brasileira usou seu peso econômico e político dentro do Mercosul (o Brasil representa quase dois terços da economia do bloco) para forçar a Argentina a levantar a resolução.
As afirmações do chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia, foram qualificadas de "soberbia imperialista" pelo vice-presidente da UIA, Alberto Alvarez Gaiani. Em entrevista à imprensa argentina, Lampreia ratificou que a Argentina tinha que suspender a resolução 911.
Desde a desvalorização do real, e com o aprofundamento da recessão, os industriais argentinos pressionam o governo para a adoção de barreiras comerciais contra os produtos brasileiros.
Os industriais vizinhos também não pouparam o governo argentino de críticas. A direção da UIA afirma que o governo negociou mal. A ala mais radical da associação chegou a ameaçar enviar uma carta ao presidente Carlos Menem, segundo o jornal "Clarín".

Mãos vazias
A preocupação do governo argentino agora é como não voltar da reunião marcada para discutir o problema, quinta e sexta-feira, em Montevidéu, de mãos vazias.
A diplomacia sabe que, se não conseguir algum benefício do Brasil em troca da suspensão da ameaça de salvaguardas, sofrerá protestos dos industriais.
Segundo a Folha apurou, os negociadores argentinos vão ao Uruguai com poucas esperanças de conseguir alguma concessão concreta.
Segundo um dos principais jornais de negócios da Argentina, o "El Cronista", o governo argentina resolveu até levar propostas de negociações mais tímidas, para não correr o risco de uma negativa categórica.
Antes, os argentinos pediam um regime de compensações automáticas, no caso de desvalorizações cambiais bruscas. Agora, a diplomacia do vizinho brasileiro vai querer um acordo pontual para limitar as exportações nos setores mais afetados, como calçados e papel.
Na opinião de Alejandro Mayoral, ex-secretário de Comércio Exterior, a reunião de quinta-feira será mais um encontro formal. Mayoral não acredita que a Argentina consiga nenhum tipo de compromisso formal do Brasil.


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