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BC teme ser "obrigado" a impor aperto monetário em 2009
Crise financeira aumenta tensão na instituição
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
À medida que a crise externa
se estica em direção a 2009,
cresce a tensão no Banco Central. E, isso, muito mais por
causa das pressões internas do
governo Lula do que pelo cenário internacional. Constantemente criticado pelo aumento
dos juros, considerado excessivo por parte do governo, o BC
teme ser obrigado a impor, no
ano que vem, uma política de
aperto monetário num cenário
de baixo crescimento.
Nos últimos dias, o BC engoliu, a contragosto, crescer nos
debates na equipe econômica
sobre os desdobramentos da
turbulência vinda dos EUA a
tese de que a crise ajudará no
combate da inflação no país e,
com isso, já seria possível parar
com os aumentos nos juros.
Essa defesa baseia-se não
apenas na retração do mercado
de crédito, mas também na
queda nos preços das commodities, os vilões da inflação este
ano. Isso puxaria o IPCA, índice de preços referência para o
governo, para baixo, fazendo
parte do trabalho dos juros.
Uma corrente dentro do BC
argumenta, porém, que ainda
não é possível garantir que a
crise terá esse efeito estimado
de controlar a inflação. Mas isso não é consenso entre os próprios diretores que integram o
Comitê de Política Monetária.
Nos últimos dias, a desvalorização do real deu força a esse
discurso. Se o real perde muito
valor em relação ao dólar e se
esse movimento se sustenta
por muito tempo, o impacto na
inflação é praticamente imediato. Desde o final de junho,
quando as commodities atingiram os valores mais elevados, a
queda no preço médio dos principais produtos da cesta de exportação do Brasil recuou
25,3%. Somente no mês de setembro, a taxa de câmbio teve
desvalorização de 23,9%.
Com isso, o medo de alguns
diretores do BC é que mesmo
que a crise freie a demanda e as
commodities estejam em queda, a desvalorização do real
possa anular todo o efeito para
inflação e mantê-la em alta.
Considerando ainda que a
queda na demanda deve ser
lenta por causa do crescimento
do emprego e ganho de renda
-que também leva mais tempo
para reverter a tendência
atual-, o BC pode se ver na situação de ter que elevar os juros para garantir o centro da
meta de 4,5% em 2009. A cada
dia, os diretores do BC reforçam os discursos de que o objetivo é levar a inflação para 4,5%
no ano que vem.
A equipe do ministro Guido
Mantega (Fazenda) está certa
de que é possível compatibilizar o crescimento em 2009
num patamar inferior aos 5,5%
esperados neste ano, com inflação sob controle. O câmbio,
acreditam, vive um momento
de estresse e essa oscilação
atual deve ser absorvida pela
economia, que vive um regime
de câmbio flutuante.
O maior problema nesse momento, argumentam, não é escolher um "extremo" e persegui-lo a ferro e fogo, ignorando
o resto da economia. Com isso,
não há nenhum problema se a
inflação convergir para a meta
do ano que vem mais lentamente do que vinha programando o BC, desde que o nível
de atividade seja assegurado.
O presidente Lula já disse
que o crescimento é prioridade
e, na fase atual da crise externa,
o foco é não deixar o mercado
de crédito parar, o que teria
grave efeito sobre a economia.
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