São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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Petrobras e PDVSA aplicarão US$ 10 bilhões na Venezuela

Investimento inclui megaprojeto de gás e desenvolvimento da produção no Orinoco

Mesmo sem contratos assinados, estatais brasileira e venezuelana têm 13 memorandos de entendimento em curso

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Se a Petrobras concretizar todos os investimentos que planeja na Venezuela, o país será a principal operação da estatal brasileira no exterior: estão em análise projetos conjuntos com a PDVSA que prevêem investimentos de mais de US$ 10 bilhões (na Bolívia, por exemplo, o aporte foi de US$ 1,5 bilhão).
O problema é que, até agora, quase nada saiu do papel. Muitos estudos, reuniões e memorandos de entendimento (13, ao todo) já foram realizados. Nenhum contrato, porém, foi assinado -a exceção são os referentes à compra de combustíveis do país vizinho e à venda de álcool para a Venezuela, comandada por Hugo Chávez, que alardeia boas relações pessoais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De todos os investimentos em análise, o mais ambicioso é o desenvolvimento do megaprojeto de produção de gás de Mariscal Sucre. Os quatro campos nos quais a PDVSA quer a participação da Petrobras concentram um reservatório de gás superior a toda a reserva brasileira -11 trilhões de TCFs (pés cúbicos, medida de gás).
Para colocar os campos em produção, serão necessários investimentos de cerca de US$ 3 bilhões. A idéia é que a Petrobras entre com 35% de participação no projeto, por meio de uma empresa mista a ser criada em sociedade com a PDVSA.
Como a Venezuela pretende promover a produção de gás no país (hoje, focada em petróleo), a legislação é mais flexível, permitindo que empresas estrangeiras explorem até mesmo sozinhas as reservas. No caso do petróleo (mais rentável do que o gás), só é autorizada a exploração por empresas mistas, das quais a PDVSA tenha obrigatoriamente, pelo menos, 51%.
De Mariscal Sucre serão extraídos até 34 milhões de m3 de gás por dia -mais do que toda a importação atual da Bolívia, de cerca de 25 milhões de m3.
Parte desse gás poderá ser trazida para o Brasil sob a forma de GNL (Gás Natural Liqüefeito, gás em estado líquido transportado por navios). Existe ainda a possibilidade, embora mais remota, de despachar o produto pelo gasoduto Venezuela-Brasil, projeto que está em fase preliminar de estudo, mas de difícil viabilidade econômica e técnica.

Óleo das arábias
A previsão é que os campos de Mariscal Sucre comecem a produção antecipada em 2009 por meio de uma plataforma que será alugada. A partir de 2012, a unidade de produção definitiva entrará em operação.
Outro grande projeto conjunto entre a PDVSA e a Petrobras é a certificação das reservas de óleo e gás na faixa do rio Orinoco, que divide a Venezuela ao meio entre norte e sul.
Bastante inexplorada, a área levará o país vizinho a ter os maiores reservatórios de óleo do mundo depois que forem avaliados, superando a Arábia Saudita.
A PDVSA convidou a Petrobras para explorar um dos blocos do rio Orinoco. A expectativa é alcançar uma produção de 200 mil barris por dia -pouco mais de 10% da atual produção brasileira de óleo e volume maior do que a maioria dos campos gigantes em águas profundas do país.
O bloco será explorado por uma companhia mista, com participações de 51% da PDVSA e de 49% da Petrobras.
Existem na região do Orinoco outros 26 blocos, todos com grande potencial de produção de óleo ultrapesado (de menor valor comercial). Para promover a exploração nessas áreas, a PDVSA convidou estatais de países "amigos", como Irã, Rússia e Argentina. Apenas uma empresa privada, a espanhola Repsol, foi chamada a participar da empreitada.
Apesar de as condições de rentabilidade não serem as melhores na Venezuela, as petrolíferas ganham no país vizinho por causa dos enormes volumes produzidos, e não em razão das margens obtidas com a venda do produto. Por determinação legal, a monopolista PDVSA compra toda a produção das demais operadoras.


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