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DEPOIS DO 11 DE SETEMBRO
Cantor supera perdas e inicia ano com boas notícias
DIANA B. HENRIQUES
DO "NEW YORK TIMES"
Enquanto Howard W. Lutnick, chairman da Cantor
Fitzgerald, se dirigia para a Flórida no final de semana para encerrar o pior ano de sua vida, descobriu, contrariando todas as suas
expectativas, que tinha algumas
boas notícias a transmitir.
"Eu disse às minhas famílias"
-é assim que Lutnick chama,
afetuosamente, os sobreviventes
dos colegas perdidos em 11 de setembro- "que a Cantor terá lucro no quarto trimestre", contou.
Exibindo resquícios de seu antigo
estilo, ele acrescentou: "Seremos
altamente lucrativos sem modéstia, altamente lucrativos".
A realização teria sido simplesmente um motivo de satisfação
para essa corretora de títulos de
Wall Street, em um ano normal.
Mas "normal" e a Cantor são palavras que se distanciaram muito
depois que os ataques terroristas
destruíram a sede da empresa, no
World Trade Center, matando
658 das 960 pessoas que lá trabalhavam, entre as quais Gary, o irmão de Lutnick. De lá para cá,
simplesmente sobreviver teria sido ótima notícia para a Cantor,
que prometeu 25% de quaisquer
lucros futuros às famílias dos funcionários perdidos.
Em lugar disso, declarou Lutnick, a Cantor terminou o ano de
2001 com lucros suficientes para
pagar o primeiro dos dez anos de
seguro-saúde prometidos às famílias dos funcionários perdidos,
com sobras de caixa a serem distribuídas na metade de fevereiro
como primeira prestação do mínimo de US$ 100 mil que foi prometido a cada família.
As contas bancárias do grupo
foram mais fáceis de consertar do
que o pessoal. Lutnick diz que ele
vê cada funcionário sobrevivente
como "um milagre". Mesmo assim, houve demissões, já que a
empresa fechou algumas divisões
menos lucrativas e essas perdas
foram mais dolorosas do que de
hábito.
Além disso, alguns funcionários
não conseguiram voltar ao trabalho depois do 11 de setembro, devido ao trauma emocional que sofreram, diz um executivo. "Sabemos que o maior impacto disso
virá dentro de três a seis meses",
disse o executivo. "É preciso imaginar onde estarão algumas dessas pessoas quando chegar essa
hora."
Mas, embora todos os funcionários ainda tenham de enfrentar o
sofrimento de terem perdido centenas de amigos e colegas -um
deles, ferido gravemente, morreu
alguns dias atrás, renovando o sofrimento-, há quem diga que os
dias agora propiciam mais riso,
mais otimismo, uma sensação de
que o pior de uma séria tempestade já passou.
Retorno
As pessoas que começaram a
trabalhar na empresa depois do 11
de setembro, quase todas na divisão de corretagem de ações, "já se
acostumaram", diz Philip Marber, diretor-executivo sênior, que
passou noites sem dormir preocupado com a recriação das bem
treinadas mesas de operações que
perdeu. "A química está melhorando. As coisas começam a se
encaixar e é isso o que esperávamos que acontecesse."
As famílias sobreviventes pareciam mais contentes com Lutnick, cujas chorosas promessas de
ajuda na televisão começaram a
ser encaradas com raivosa suspeita já pelo começo de outubro. O
novo fundo de caridade da empresa distribuíra cerca de US$ 9
milhões em assistência -Lutnick
e os demais sócios haviam oferecido uma verba de US$ 5 milhões
para ajudar o fundo a levantar outros US$ 10 milhões- e a Cantor
pagou mais ou menos US$ 45 milhões em bônus e outros benefícios prometidos às famílias, de
novembro para cá.
Lutnick não se sente amargurado com a reação. "Foi um momento passageiro", diz. "Eles lamentam que tenha acontecido.
Eu lamento que tenha acontecido.
Mas passou. Acabou."
Nos últimos meses, enquanto
escapa um pouco aos holofotes da
mídia, que não o deixavam nas semanas que se seguiram ao ataque,
ele enviou 1.400 bilhetes manuscritos às famílias dos funcionários
perdidos.
No azul
A Cantor não tem obrigação de
revelar lucros. Mas ela é sócia majoritária da eSpeed, um sistema de
operações financeiras eletrônicas
cujas ações são negociadas em
Bolsa. Nesse caso também Lutnick, como chairman e executivo-chefe, tem motivos de orgulho.
"Algumas semanas atrás, eu tive
o incrível prazer de anunciar que
a eSpeed teria lucros pela primeira vez no quarto trimestre de
2001", disse ele. Prevendo lucros
entre um e cinco centavos por
ação, Lutnick acrescentou que
"não vamos só apresentar lucros
por ação em termos contábeis; vamos mesmo ganhar dinheiro".
Não é possível dizer como esses
ganhos afetarão a remuneração
de Lutnick. Na Cantor, ele é o sócio-gerente de uma sociedade de
capital fechado, que não revela a
remuneração de quaisquer sócios. Na eSpeed, onde seu salário
em 2000 foi de US$ 350 mil, com
um bônus de US$ 650 mil, a remuneração de 2001 ainda não foi
divulgada.
A recuperação das Bolsas de Valores foi um importante ingrediente no desempenho melhorado da Cantor no quarto trimestre,
é evidente. Felizmente para a empresa, cerca de 75% das principais
fontes de receita de suas operações com ações trabalhavam fora
do escritório de Nova York.
Ontem, a empresa abriu um escritório em Shrewsbury, Nova
Jersey, aliviando o congestionamento na sala improvisada de
operações que Marber montou na
região de Midtown, em Manhattan, depois do ataque. O novo escritório suburbano começará
com dez pessoas, mas Marber espera que ele cresça e chegue a 25
funcionários caso as operações do
grupo com ações continuem a
prosperar.
A Cantor e a eSpeed tinham cada uma US$ 40 milhões em seguro imobiliário e US$ 25 milhões
em seguro de interrupção de atividades, de acordo com Lutnick.
Isso deve cobrir as despesas com
equipamento e imóveis, avaliadas
em US$ 32,4 milhões na eSpeed.
O valor dos danos à Cantor não
foi revelado.
Mas a recuperação dos lucros da
Cantor também se beneficiou,
perversamente, de um azar terrível -o da empresa e o da Enron
Corporation.
Bem antes dos ataques, a Cantor
começara a transferir suas operações centrais, a negociação de bônus públicos e privados para
grandes clientes institucionais, e
estava adotando um sistema eletrônico de operações criado pela
eSpeed em substituição aos dispendiosos operadores humanos.
Com a perda de tantos operadores, a Cantor se viu forçada, do dia
para a noite, a transferir a maior
parte de suas transações com
margem de lucro baixa para a eSpeed.
Mas, a despeito do otimismo e
de um sentimento forte de ter
cumprido a promessa às famílias
de seus amigos perdidos, o pessoal da Cantor estava ansioso pelo
final de 2001.
"Na semana passada, para completar, fui atropelado por um táxi", disse Marber. "Na rua 39. Fiquei machucado, mas nada de sério. Mas lembro de ter pensado,
quando me socorreram, que eu
queria muito que o ano acabasse."
Tradução de Paulo Migliacci
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