|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Importação tira quase 2 pontos do PIB
Crescimento de 2,8% previsto para 2006 poderia chegar a 4,5%; expansão potencial é transferida a países que exportam ao Brasil
Em 2006, pela primeira vez em seis anos, caiu o consumo de máquinas no país; empresários culpam alta nas compras externas
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Parte significativa do PIB
(Produto Interno Bruto) está
"vazando" para fora do país.
Em vez de crescer estimados
2,8% em 2006, o Brasil poderia
ter batido em até 4,5% se a crescente demanda interna não estivesse sendo atendida tão fortemente pelas importações.
O volume de compras de produtos de fora aumentou 16% no
ano passado. Só em bens de
consumo, o salto foi de 74%. Isso significa que o consumidor
brasileiro ajudou no crescimento do PIB dos países que
exportam para o Brasil.
Rebeca Palis, gerente de
Contas Nacionais do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), afirma que
o segundo semestre de 2006
marcou "uma reversão total"
negativa do setor externo sobre
o PIB. No ano passado, pela primeira vez no governo Lula, as
importações contribuíram negativamente no PIB.
As importações não são ruins
para o Brasil, que tem uma das
economias mais fechadas do
mundo. Elas ajudam a controlar a inflação pela competição
com produtos nacionais e a
modernizar as empresas.
O problema é que, apesar de
o ritmo do volume das importações estar crescendo muito acima do das exportações (16%
contra 3%, respectivamente), o
real continua se valorizando.
Dólar barato
Em outros momentos, essa
diferença entre o crescimento
maior das importações e menor das exportações faria o dólar ficar mais caro.
Isso inibiria aos poucos as
compras externas e estimularia
os setores exportadores nacionais, ajudando o PIB a crescer.
Isso não aconteceu e não deve mudar por duas razões:
1) As exportações que mais
crescem no Brasil são de commodities e de produtos básicos
que têm mantido seus preços
fortemente valorizados.
Ou seja, o preço alto desses
produtos compensou o pequeno aumento em volume das exportações. Enquanto a quantidade exportada cresceu só 3%
em 2006, o aumento em valores chegou a 12,5%.
2) O Brasil continua praticando o maior juro real do
mundo, o que atrai uma quantidade enorme de dólares de investidores que lucram no país.
Economistas e empresários
ouvidos pela Folha não acreditam em reversão dessa tendência. As importações continuarão crescendo, e os preços dos
exportados e os juros manterão
os saldos comerciais elevados e
o dólar abaixo de R$ 2,20.
Na semana passada, apesar
do anúncio de um salto de 31%
nos valores importados em janeiro, o dólar caiu a R$ 2,10, a
menor cotação em oito meses.
A tendência é que o "vazamento" do PIB continue sendo
o "vilão" do crescimento.
Troca por importados
O resultado do setor de máquinas e equipamentos de
2006 já mostrou que está havendo uma forte substituição
de investimentos na produção
interna por importados.
Ao contrário do que era esperado, pela primeira vez em seis
anos, caiu em 2006 o consumo
total de máquinas no Brasil.
Para o economista Paulo Miguel, da Quest Investimentos,
nesse cenário, programas de
estímulo à atividade econômica como o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)
equivalem a "pisar no acelerador de um carro atolado".
"Qualquer crescimento a
mais na demanda interna continuará beneficiando em boa
medida os países que exportam
para o Brasil", afirma.
Em 2006, bastante estimulado por programas sociais, o
consumo das famílias cresceu
3,6%, e o PIB, 2,3% (até setembro). A diferença entre os dois
percentuais foi, basicamente,
atendida pelos importados.
Estudo da MCM Consultores
mostra que, em 2006, 14 setores afetados pelas importações
perderam R$ 19,6 bilhões em
produção local. Na área de eletrônicos, a queda foi de 8% por
conta dos importados. Na de
equipamentos de transportes,
6,2%. Na têxtil, 3,8%.
A saída para conter esse "vazamento", enquanto os preços
de commodities e os juros sustentarem o saldo comercial e o
real valorizado, seria tornar as
empresas brasileiras tão competitivas quanto as dos países
de onde o Brasil importa.
Para isso, seriam necessários
cortes de impostos para as empresas bem maiores do que os
previstos no PAC: foram cerca
de R$ 6 bilhões, para uma carga
tributária de mais de R$ 800 bilhões, o que dá menos de 0,7%.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Rubens Ricupero: A insurreição da bondade Índice
|