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Consumo recorde expõe falha em Itaipu
Com calor mais intenso e retomada da atividade industrial, país tem três dias seguidos de recorde de consumo diário de energia
Temendo sobrecarga em
Itaipu e novo blecaute,
governo liga termelétricas,
mais caras e poluentes; custo
será pago pelo consumidor
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Sob efeito do forte calor e da
retomada acelerada da indústria, o ONS (Operador Nacional
do Sistema Elétrico) registrou
ontem novo pico de consumo
de energia no país, o terceiro
recorde diário consecutivo.
Tal situação obrigou o ONS a
acionar mais usinas termelétricas -cuja energia é mais cara e
mais poluente- e a reduzir a
geração de Itaipu a fim de evitar nova sobrecarga do sistema,
como a que causou o blecaute
de novembro. Para especialistas, o aumento no consumo de
energia revela falha na manutenção das linhas de transmissão Itaipu (leia à pág. B3).
Ontem, às 15h, o consumo de
energia bateu em 70.400 MW
(megawatts), o maior da história. Anteontem, o pico ocorreu
às 14h42, com 68.761 MW.
Segundo Hermes Chipp, diretor-geral do ONS, as temperaturas máximas neste verão
estão 3C acima das de 2009, o
que provoca o maior uso de
equipamentos de ar-condicionado e ventiladores.
Em janeiro, as máximas chegaram a 36C na média das regiões Sudeste, Nordeste, Sul e
Centro-Oeste. Acima dos 34C,
disse Chipp, o uso desses eletrodomésticos "cresce exponencialmente".
Além disso, a indústria reage
no pós-crise e recupera rapidamente a produção. "O consumo
industrial de energia viveu um
janeiro atípico. Cresceu muito
para um mês de férias", disse.
Com esse cenário, o ONS teve de ligar as termelétricas a gás
não por falta de água nos reservatórios, que estão cheios, mas
para evitar sobrecarga, como a
que deixou 80 milhões de pessoas sem luz em novembro.
A ação do ONS visa impedir
que um problema simultâneo
nas três linhas de transmissão
de Itaipu ocorra num momento
em que a usina opere a plena
carga -situação que potencializa o blecaute e impede isolar o
corte de energia à área menor.
Por causa do blecaute, os isoladores das linhas de Itaipu estão sendo substituídos e reforçados com o objetivo de impedir curtos-circuitos causados
pelo excesso de chuva e raios.
Em novembro, Itaipu, a
maior usina do país, gerava perto de 11.000 MW. Agora, não
passa de 8.000 MW. A compensação veio com as termelétricas. Chipp reconhece que a
energia das térmicas é mais cara, mas diz que o custo adicional "vale a pena" para evitar novo blecaute. Toda despesa extra
com a compra de energia é repassada para a tarifa de todos
os consumidores do país.
Chipp calcula que nesta temporada de calor (até maio) o uso
das térmicas vá consumir R$
80 milhões. "É pouco se comparado com o estrago para a sociedade de um apagão, que não
gera só perdas financeiras, mas
mortes e outros transtornos."
Ainda não é possível estimar o
impacto nas contas de luz.
Chipp diz, porém, que o sistema está preparado para gerar
energia suficiente para um consumo na faixa de 70.000 MW
no pico -deslocado neste ano
da noite para a tarde por causa
da retomada da indústria e do
calor, que arrefece à noite.
O ONS estima expansão de
5% no consumo de energia neste e nos próximos dois anos.
Apesar da expansão, Chipp disse que não faltará energia e que
o investimento em novas usinas está dentro do cronograma.
Segundo ele, as fortes chuvas
desde setembro elevaram os
reservatórios aos maiores níveis em dez anos, o que afasta o
risco de racionamento.
No Sudeste, os lagos das usinas estão com 77% de capacidade. No Nordeste, o percentual é
de 71%. No Sul, o nível é ainda
maior: 97%. Na região, muitas
usinas vertem água porque não
há como despachar toda a energia. É o caso de Itaipu.
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