São Paulo, quinta-feira, 04 de fevereiro de 2010

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Consumo recorde expõe falha em Itaipu

Com calor mais intenso e retomada da atividade industrial, país tem três dias seguidos de recorde de consumo diário de energia

Temendo sobrecarga em Itaipu e novo blecaute, governo liga termelétricas, mais caras e poluentes; custo será pago pelo consumidor


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob efeito do forte calor e da retomada acelerada da indústria, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) registrou ontem novo pico de consumo de energia no país, o terceiro recorde diário consecutivo.
Tal situação obrigou o ONS a acionar mais usinas termelétricas -cuja energia é mais cara e mais poluente- e a reduzir a geração de Itaipu a fim de evitar nova sobrecarga do sistema, como a que causou o blecaute de novembro. Para especialistas, o aumento no consumo de energia revela falha na manutenção das linhas de transmissão Itaipu (leia à pág. B3).
Ontem, às 15h, o consumo de energia bateu em 70.400 MW (megawatts), o maior da história. Anteontem, o pico ocorreu às 14h42, com 68.761 MW.
Segundo Hermes Chipp, diretor-geral do ONS, as temperaturas máximas neste verão estão 3C acima das de 2009, o que provoca o maior uso de equipamentos de ar-condicionado e ventiladores.
Em janeiro, as máximas chegaram a 36C na média das regiões Sudeste, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. Acima dos 34C, disse Chipp, o uso desses eletrodomésticos "cresce exponencialmente".
Além disso, a indústria reage no pós-crise e recupera rapidamente a produção. "O consumo industrial de energia viveu um janeiro atípico. Cresceu muito para um mês de férias", disse.
Com esse cenário, o ONS teve de ligar as termelétricas a gás não por falta de água nos reservatórios, que estão cheios, mas para evitar sobrecarga, como a que deixou 80 milhões de pessoas sem luz em novembro.
A ação do ONS visa impedir que um problema simultâneo nas três linhas de transmissão de Itaipu ocorra num momento em que a usina opere a plena carga -situação que potencializa o blecaute e impede isolar o corte de energia à área menor.
Por causa do blecaute, os isoladores das linhas de Itaipu estão sendo substituídos e reforçados com o objetivo de impedir curtos-circuitos causados pelo excesso de chuva e raios.
Em novembro, Itaipu, a maior usina do país, gerava perto de 11.000 MW. Agora, não passa de 8.000 MW. A compensação veio com as termelétricas. Chipp reconhece que a energia das térmicas é mais cara, mas diz que o custo adicional "vale a pena" para evitar novo blecaute. Toda despesa extra com a compra de energia é repassada para a tarifa de todos os consumidores do país.
Chipp calcula que nesta temporada de calor (até maio) o uso das térmicas vá consumir R$ 80 milhões. "É pouco se comparado com o estrago para a sociedade de um apagão, que não gera só perdas financeiras, mas mortes e outros transtornos." Ainda não é possível estimar o impacto nas contas de luz.
Chipp diz, porém, que o sistema está preparado para gerar energia suficiente para um consumo na faixa de 70.000 MW no pico -deslocado neste ano da noite para a tarde por causa da retomada da indústria e do calor, que arrefece à noite.
O ONS estima expansão de 5% no consumo de energia neste e nos próximos dois anos. Apesar da expansão, Chipp disse que não faltará energia e que o investimento em novas usinas está dentro do cronograma.
Segundo ele, as fortes chuvas desde setembro elevaram os reservatórios aos maiores níveis em dez anos, o que afasta o risco de racionamento.
No Sudeste, os lagos das usinas estão com 77% de capacidade. No Nordeste, o percentual é de 71%. No Sul, o nível é ainda maior: 97%. Na região, muitas usinas vertem água porque não há como despachar toda a energia. É o caso de Itaipu.


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