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VINICIUS TORRES FREIRE
Desindustrialização, a visão do Iedi
Para a indústria, real forte tende a limitar o aumento de produtividade e a renovação das fábricas brasileiras
O REAL FORTE tende, sim, a fazer com que a indústria brasileira se concentre na produção de mercadorias de baixo teor
tecnológico, baseadas em recursos
naturais abundantes, e a limitar a
capacidade de o país desenvolver e
incrementar setores baseados em
inovação tecnológica. É a reação do
Iedi às visões mais desassombradas
sobre o efeito do câmbio sobre a economia apresentadas em seminário
virtual do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), de Reis Velloso,
na semana passada.
O Iedi é o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial,
um "think tank" bancado por 49 dos
maiores industriais brasileiros.
Seu economista-chefe, Edgard
Pereira, começa por criticar a visão
otimista do fato de as indústrias com
maiores taxas de crescimento desde
2003 também liderarem a compra
de matérias-primas e componentes
importados, como as de eletrônica e
de equipamentos de informática.
Segundo Pereira, há ilusões no otimismo. Primeiro, em parte desses
setores "vencedores" também haveria substituição de produto nacional
por importado e perda de empregos.
Segundo, é mais do que incerto o futuro da indústria em que cresce tanto a produção doméstica como a importação de componentes barateados pelo real forte. Um real cada vez
mais valorizado tende a tornar improvável que, no futuro, o país passe
a produzir tais componentes.
Tal tendência levaria a uma "dependência permanente" de produtos importados justamente nos "setores mais "nobres" e dinâmicos da
estrutura industrial". O país perderia a oportunidade de desenvolver
um parque industrial de maior produtividade, capaz de fabricar produtos de maior valor no mercado mundial; de criar setores que tanto refletem como impulsionam a capacidade de inovação tecnológica.
Pereira observa ainda que a participação da indústria no PIB brasileiro é precocemente baixa. Isto é, começa a ficar parecida com a de países ricos e de estrutura econômica
madura, em que a participação dos
serviços no PIB tende a crescer, em
detrimento de uma indústria já bem
estabelecida. O ritmo do aumento
da quantidade de produtos industriais importados em relação à produção da indústria seria um sinal
dessa precocidade indesejável.
De resto, Pereira chama a atenção
para o efeito do real forte e do avanço da indústria de outras economias
"emergentes" sobre o mercado de
trabalho no país. Isto é, empregos
seriam limados nas "indústrias derrotadas" pela produção importada; a
quase impossibilidade de renovar e
diversificar o parque industrial tolheria ainda mais a oferta de trabalho. Tais empregos não "reaparecem" automaticamente em setores
nos quais o país seria mais produtivo, segundo o argumento do economista-padrão, liberal. Mais provável
seria ocorrer um ajuste lento, doloroso e de resultado incerto.
vinit@uol.com.br
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