São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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MERCADO TENSO

Meirelles diz que Brasil está menos vulnerável; Fundo faz elogios

Para BC, FMI e EUA, país "está bem"

ANA PAULA GRABOIS
DA FOLHA ONLINE

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o país está menos vulnerável a um choque externo causado pela eventual alta dos juros nos EUA.
Segundo ele, a principal razão para o otimismo é a previsão de que, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil deve ter um saldo em conta corrente positivo, próximo ao patamar registrado em 2003 (de 0,8% do PIB), devido ao bom desempenho das exportações.
"A economia brasileira está mais resistente a choques. A eventual alta do juro americano terá um efeito menor", disse Meirelles, em palestra no Rio.
Já o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que o nervosismo demonstrado ontem pelo mercado, com o aumento do dólar e do risco-país, é temporário. "Está todo mundo agoniado sobre o que será, quando será e como será. Depois que ficar definido, as coisas vão se acalmar um pouco", afirmou.

Fundo
Uma missão do FMI (Fundo Monetário Internacional) deu início ontem a mais uma revisão de seu programa com o Brasil. Após se reunir com técnicos do Banco Central, o chefe da equipe, Philip Gerson, elogiou a economia brasileira e disse dar pouca importância à turbulência observada no mercado financeiro.
"Sempre há mudanças no mercado. É importante não prestar atenção demais a movimentos cotidianos", afirmou. "Achamos que a situação [do Brasil] é muito boa. Estamos confiantes."
Periodicamente, técnicos do FMI visitam o Brasil para verificar o cumprimento das metas fixadas no acordo com o Brasil. Aprovadas as contas, o governo poderá ter acesso a um empréstimo no valor de US$ 1,3 bilhão.
Além da revisão, a equipe do FMI também veio discutir com o governo mudanças nos cálculos do superávit primário (economia para o pagamento de juros). O Brasil propõe que parte dos investimentos do setor público seja excluída do ajuste fiscal.
A diretoria do FMI já se disse favorável a uma alteração nessas regras. Ontem, Gerson disse que essas discussões estão "num estágio inicial" e que pretende ouvir "as idéias do governo brasileiro" sobre essa questão.
Em sua palestra, o presidente do BC mostrou otimismo com a economia brasileira. "A retomada do crescimento começa a se materializar", disse.
Ele citou vários indicadores de atividade econômica, que, na sua avaliação, mostram que o crescimento já está acontecendo desde o último trimestre de 2003.
A exceção ficou para a taxa de desemprego. "Algumas pessoas me perguntam se eu estou satisfeito com o desemprego no Brasil. Minha resposta é "não". É evidente que o desemprego no Brasil é um problema grave, importante, que deve ser atacado. E que estamos atacando. Temos que aumentar a oferta de emprego, e isso se faz de uma forma consistente. Há que perseguir a política séria, com estabilidade econômica, que favoreça o investimento", disse.

John Snow elogia
O secretário norte-americano do Tesouro, John Snow, elogiou ontem a política econômica brasileira. Segundo Snow, houve um avanço nos indicadores brasileiros, como queda nos juros e melhora no perfil da dívida, o que comprova a eficácia do rigor nas políticas fiscal e monetária e o sucesso do programa com o FMI.
Snow discursou ontem durante a conferência anual do Conselho das Américas.
"As conseqüências positivas de rigorosas políticas fiscal e monetária estão em curso", disse o secretário, que equivale ao ministro brasileiro da Fazenda. "A confiança na política fiscal e a tendência de queda nas expectativas de inflação permitiram que o Banco Central cortasse os juros agressivamente nos últimos dez meses."
Snow fez, de maneira geral, uma análise positiva sobre o recente desempenho das economias latino-americanas. Durante o discurso, em Washington, o Brasil serviu como exemplo positivo em várias passagens.
"O Brasil, por exemplo, reduziu acentuadamente a proporção de sua dívida atrelada ao câmbio", afirmou Snow a uma platéia de importantes empresários americanos.
Por ironia, Snow, que fez um discurso recheado de elogios à ortodoxia fiscal e monetária dos países latino-americanos, é o autor de uma das mais criticadas políticas fiscais do planeta. Durante o governo George W. Bush, a partir de 2001, o país saiu de um superávit nas contas públicas para um déficit que já ultrapassa US$ 500 bilhões ao ano.
Os elogios de Snow seguiram: "Brasil e Colômbia fizeram reformas na previdência pública, que liberaram recursos que podem ser utilizados na redução da dívida pública e no aumento de investimentos em infra-estrutura".
Mas o secretário criticou a burocracia dos países latinos. "São necessários, em média, 70 dias para abrir um negócio na América Latina. Nos EUA, quatro."


Com a Sucursal de Brasília, a Redação e agências internacionais

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