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MERCADO TENSO
Meirelles diz que Brasil está menos vulnerável; Fundo faz elogios
Para BC, FMI e EUA, país "está bem"
ANA PAULA GRABOIS
DA FOLHA ONLINE
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse ontem
que o país está menos vulnerável a
um choque externo causado pela
eventual alta dos juros nos EUA.
Segundo ele, a principal razão
para o otimismo é a previsão de
que, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil deve ter um saldo em
conta corrente positivo, próximo
ao patamar registrado em 2003
(de 0,8% do PIB), devido ao bom
desempenho das exportações.
"A economia brasileira está
mais resistente a choques. A eventual alta do juro americano terá
um efeito menor", disse Meirelles,
em palestra no Rio.
Já o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, disse que o
nervosismo demonstrado ontem
pelo mercado, com o aumento do
dólar e do risco-país, é temporário. "Está todo mundo agoniado
sobre o que será, quando será e
como será. Depois que ficar definido, as coisas vão se acalmar um
pouco", afirmou.
Fundo
Uma missão do FMI (Fundo
Monetário Internacional) deu início ontem a mais uma revisão de
seu programa com o Brasil. Após
se reunir com técnicos do Banco
Central, o chefe da equipe, Philip
Gerson, elogiou a economia brasileira e disse dar pouca importância à turbulência observada no
mercado financeiro.
"Sempre há mudanças no mercado. É importante não prestar
atenção demais a movimentos cotidianos", afirmou. "Achamos
que a situação [do Brasil] é muito
boa. Estamos confiantes."
Periodicamente, técnicos do
FMI visitam o Brasil para verificar
o cumprimento das metas fixadas
no acordo com o Brasil. Aprovadas as contas, o governo poderá
ter acesso a um empréstimo no
valor de US$ 1,3 bilhão.
Além da revisão, a equipe do
FMI também veio discutir com o
governo mudanças nos cálculos
do superávit primário (economia
para o pagamento de juros). O
Brasil propõe que parte dos investimentos do setor público seja excluída do ajuste fiscal.
A diretoria do FMI já se disse favorável a uma alteração nessas regras. Ontem, Gerson disse que essas discussões estão "num estágio
inicial" e que pretende ouvir "as
idéias do governo brasileiro" sobre essa questão.
Em sua palestra, o presidente do
BC mostrou otimismo com a economia brasileira. "A retomada do
crescimento começa a se materializar", disse.
Ele citou vários indicadores de
atividade econômica, que, na sua
avaliação, mostram que o crescimento já está acontecendo desde
o último trimestre de 2003.
A exceção ficou para a taxa de
desemprego. "Algumas pessoas
me perguntam se eu estou satisfeito com o desemprego no Brasil.
Minha resposta é "não". É evidente
que o desemprego no Brasil é um
problema grave, importante, que
deve ser atacado. E que estamos
atacando. Temos que aumentar a
oferta de emprego, e isso se faz de
uma forma consistente. Há que
perseguir a política séria, com estabilidade econômica, que favoreça o investimento", disse.
John Snow elogia
O secretário norte-americano
do Tesouro, John Snow, elogiou
ontem a política econômica brasileira. Segundo Snow, houve um
avanço nos indicadores brasileiros, como queda nos juros e melhora no perfil da dívida, o que
comprova a eficácia do rigor nas
políticas fiscal e monetária e o sucesso do programa com o FMI.
Snow discursou ontem durante
a conferência anual do Conselho
das Américas.
"As conseqüências positivas de
rigorosas políticas fiscal e monetária estão em curso", disse o secretário, que equivale ao ministro
brasileiro da Fazenda. "A confiança na política fiscal e a tendência de queda nas expectativas de
inflação permitiram que o Banco
Central cortasse os juros agressivamente nos últimos dez meses."
Snow fez, de maneira geral, uma
análise positiva sobre o recente
desempenho das economias latino-americanas. Durante o discurso, em Washington, o Brasil serviu como exemplo positivo em
várias passagens.
"O Brasil, por exemplo, reduziu
acentuadamente a proporção de
sua dívida atrelada ao câmbio",
afirmou Snow a uma platéia de
importantes empresários americanos.
Por ironia, Snow, que fez um
discurso recheado de elogios à ortodoxia fiscal e monetária dos
países latino-americanos, é o autor de uma das mais criticadas políticas fiscais do planeta. Durante
o governo George W. Bush, a partir de 2001, o país saiu de um superávit nas contas públicas para
um déficit que já ultrapassa US$
500 bilhões ao ano.
Os elogios de Snow seguiram:
"Brasil e Colômbia fizeram reformas na previdência pública, que
liberaram recursos que podem
ser utilizados na redução da dívida pública e no aumento de investimentos em infra-estrutura".
Mas o secretário criticou a burocracia dos países latinos. "São necessários, em média, 70 dias para
abrir um negócio na América Latina. Nos EUA, quatro."
Com a Sucursal de Brasília, a Redação e
agências internacionais
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