São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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MERCADO TENSO

Aplicação em abril teve pior resultado desde 2001, aponta JP Morgan

Países emergentes registram fuga recorde de investimento

CÍNTIA CARDOSO
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Indicadores do mercado financeiro revelam saídas recordes de recursos de países emergentes no mês passado. Esse movimento continuou ontem com a alta do risco-país ocorrida em 13 dos 19 integrantes desses mercados e, segundo analistas, deverá continuar devido à perspectiva de aumento de juros nos EUA.
Relatório do JP Morgan mostra que a redução da exposição de investidores a mercados emergentes em abril passado foi a maior ocorrida em único mês desde que o banco começou a realizar essa sondagem com clientes, em setembro de 2001.
A pesquisa ouviu 305 investidores responsáveis pela gestão de US$ 341 bilhões em países emergentes e asiáticos. O resultado do mês passado indica uma queda no índice que mede a exposição desses gestores a ativos desses mercados de 1,5 para 0,4.
O dado revela que a euforia com mercados emergentes ficou para trás. A proximidade do indicador do JP Morgan de zero significa que investidores estão reduzindo suas aplicações nesses países para um nível neutro em relação aos demais mercados.
"Durante 2004, devemos ver um desempenho medíocre dos emergentes. O prognóstico é negativo e não há possibilidade de vermos um desempenho como o de 2003", afirma Enrique Álvares, analista da Ideaglobal, empresa de consultoria norte-americana.
A fuga expressiva dos mercados emergentes é confirmada por dados de fluxo de dinheiro para fundos dedicados a esses países.
Segundo a consultoria AMG Data, esses fundos amargaram captação líquida (entradas menos saques) negativa de US$ 20,4 milhões na semana terminada no último dia 28, o equivalente a 0,89% do patrimônio total dos mesmos. Foi a terceira semana consecutiva de saída dessas aplicações.
O Brasil está entre os países que mais têm sofrido com esse movimento. Em abril passado o risco-país brasileiro teve alta de 18,6%, a maior registrada desde setembro de 2002, antes das eleições.

Migração
A forte saída de dinheiro dos mercados emergentes está relacionada à expectativa de elevação de juros nos Estados Unidos no curto prazo. Essa provável elevação aumentará a remuneração dos títulos norte-americanos, investimentos considerados os mais seguros do mundo.
Isso fará com que boa parte do dinheiro alocado, até então, para ativos mais arriscados migrem para esses papéis. Enquanto a alta não ocorre, no entanto, os investimentos estão pulverizados, segundo analistas.
Um movimento que começa a ser notado é a procura por investimentos de curtíssimo prazo. Embora as taxas dessas aplicações sejam pequenas, investidores que estão optando por elas evitam grandes perdas que outros ativos, como títulos de países emergentes, sofrerão quando os juros dos Estados Unidos subirem.
Um sinal dessa tendência é a queda das taxas de juros de títulos de curto prazo norte-americanos. O retorno diário anualizado dos papéis de um dia caíram de 1,07%, em meados de março, para 0,96% ontem. O movimento de queda dos juros ocorre porque os preços desses papéis têm subido devido à maior procura de investidores.
Grandes bancos como Merrill Lynch têm recomendado aos seus clientes que reduzam ao máximo o prazo de seus investimentos.
"Os investidores têm preferido aumentar suas posições em aplicações o mais líquidas e conservadoras possível [como títulos de curtíssimo prazo e mercado imobiliário]", afirma Steven Lesley, da Economist Intelligence Unit, em Nova York.


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