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Para Tesouro, política fiscal já traz avanços
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, afirmou ontem que a "clareza" da política fiscal do governo já é responsável
pelo crescimento econômico
apresentado neste ano e que continuará a atrair investimentos e a
sustentar a expansão em 2005.
"[A política fiscal] já está tendo
efeito agora e vai ser fundamental
para 2005 ser o ano do investimento no Brasil", disse Levy, em
entrevista, depois de participar de
seminário sobre a retomada do
crescimento promovido pela Firjan (Federação das Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro).
Ao falar do crescimento de
2004, Levy citou os dados de março da indústria -a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) anunciou na semana
passada um aumento de 30,7%
nas vendas.
Apesar do otimismo do secretário do Tesouro, economistas presentes ao evento afirmaram que
ainda há dúvidas sobre fragilidades nas contas públicas.
Para Raul Velloso, especialista
em contas públicas, o superávit
primário (economia que o governo faz para pagar juros da dívida)
não é mais suficiente para reduzir
o risco-país e, conseqüentemente,
o juro de longo prazo. A taxa voltou, afirmou Velloso, ao mesmo
patamar da taxa Selic descontada
a inflação: 9% ao ano.
"A lua-de-mel com o mercado
acabou", disse. Os motivos, a seu
ver, são a desconfiança quanto ao
ajuste fiscal e o caso Waldomiro
Diniz.
Levy rebateu. Previu que a taxa
de juro de longo prazo e o risco-país continuarão em queda, o que
permitirá mais investimentos no
futuro. Disse ainda que os países
com risco mais baixo são os que
mantêm os maiores superávits
por longos períodos de tempo.
Sobre Orçamento, Levy descartou que no momento estejam previstos cortes nas verbas de custeio
para cumprir a meta de superávit
deste ano (4,25% do PIB).
O que o governo está fazendo,
disse, é tentar reduzir despesas
sem afetar investimentos, ao buscar uma maior eficiência nos gastos do setor público. Para ele, a
decisão sobre o mínimo -que,
apesar das pressões por aumentos
maiores, ficou em R$ 260- foi
um sinal da austeridade fiscal do
governo.
Gasto social
Velloso defendeu o aprofundamento da reforma da Previdência. Segundo ele, o gasto que mais
cresceu nos últimos anos foi com
o pagamento de benefícios de até
um salário mínimo, tanto da Previdência quanto dos programas
sociais bancados pelo Tesouro.
Segundo ele, esse gasto chegou a
3,5% do PIB em 2003, contra 2,9%
em 2001.
Com isso, para alcançar o superávit, tiveram de ser sacrificados
os investimentos -que caíram
de 1,2% do PIB em 2001 para 0,4%
em 2003.
O professor da PUC-Rio Rogério Werneck criticou ações do governo que, segundo ele, foram
idealizadas por "sessentões de esquerda que estão querendo realizar seus sonhos juvenis, baseados
em idéias econômicas de 40 anos
atrás". Citou as posições do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o projeto de PPP (Parceria
Público Privada) -que segundo
ele só irá gerar "esqueletos", uma
vez que será o governo que arcará
com os riscos dos projetos- e o
novo modelo do setor elétrico,
que chamou de "estatizante".
Armínio Fraga
Em sua palestra, o ex-presidente
do Banco Central Armínio Fraga
disse que o PT mostrou "uma importante mudança de atitude" em
relação à condução da política
macroeconômica e conseguiu tirar o país "de uma seriíssima e
gravíssima crise de confiança".
"Havia a possibilidade de mergulhar no abismo, mas essa armadilha foi desfeita com o esforço
das equipes de transição", disse.
Fraga afirmou, porém, que
"persistem dúvidas e fragilidades" sobre a gestão da economia.
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