São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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AFOGADO EM NÚMEROS

Em programa de rádio, Lula estima impacto 20% maior com aumento do salário mínimo

Conta não bate com a da Previdência

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva errou nas contas. O impacto de um eventual aumento de R$ 10 no salário mínimo foi exagerado em pelo menos 20% durante a 15ª edição do programa de rádio "Café com o Presidente", retransmitido por mais de mil emissoras.
Lula explicou por que não concedera um reajuste maior para o mínimo, limitado a 1,2% acima da inflação. Falou do rombo nas contas da Previdência Social e da dificuldade de cobrar uma dívida de R$ 200 bilhões. "Elevar o salário mínimo em mais R$ 10 significaria você gastar, em 12 meses, mais R$ 3 bilhões."
Os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Previdência indicam que o aumento de mais R$ 10 custaria R$ 1,6 bilhão extra no pagamento de aposentados e pensionistas. Contabilizando os benefícios assistenciais a idosos e portadores de deficiência e as parcelas do seguro-desemprego, a conta chegaria, no período de 12 meses, a R$ 2,4 bilhões.
Não foi o único tropeço da entrevista de seis minutos de Lula, gravada na manhã de domingo no apartamento em São Bernardo do Campo (SP). O presidente antecipou em um ano (de 1994 para 1993) a entrada em vigor da URV, mecanismo de correção monetária usado na adoção do real como moeda do país.
Também ampliou em quatro anos (14 para 18 anos) o limite de idade dos filhos fixado para o pagamento do salário-família a trabalhadores com salários até R$ 586,89.
Os erros produziram mais um curto-circuito na comunicação do governo. Acionada pela Secom (Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica), a Radiobrás assumiu a responsabilidade pelos erros. Teria havido uma falha de checagem das informações, tarefa que caberia à estatal. "Foram errinhos bobos, assumo integralmente a responsabilidade", disse o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci.
As gravações envolvem não só a Secom e a Radiobrás mas uma produtora privada, a Toda Onda. A cada 15 dias, o presidente grava entrevistas após receber previamente as perguntas e dados para as respostas, preparados por sua assessoria.
Acionada pela Folha, a assessoria da Presidência repassou o assunto à Secom. Técnicos da Previdência foram mobilizados, assim como a Radiobrás. Mais de 12 horas depois de a entrevista ter sido distribuída, a secretaria informou que Lula teria "arredondado" e "aplicado a inflação" ao impacto negativo do mínimo nas contas da Previdência.
À tarde, o Planalto divulgou retificação ao texto, mas passou por cima dos erros.


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