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COMÉRCIO
Mercosul e União Européia tentam destravar negociações em Bruxelas
Europa abre propostas aos poucos
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
A União Européia ainda não
apresentou a sua oferta completa
de liberalização comercial ao
Mercosul, mas, pouco a pouco,
vai pondo à mesa um papel aqui,
outro ali, o que acaba compondo
um pacote capaz de permitir a
concretização da zona de livre comércio com o bloco do Sul.
É até provável que a oferta completa nem seja apresentada na 13ª
reunião do CNB (Comitê de Negociações Birregionais), a mais
importante instância técnica das
negociações, que se inaugurou
ontem e vai até sexta-feira.
"Mais importante do que o momento de apresentação das ofertas é fazê-la quando as partes estejam prontas para oferecer o que a
outra quer, naturalmente dentro
dos limites de cada qual", diz
Arancha González, a porta-voz da
União Européia para comércio.
A falta de um pacote completo
causa, como é óbvio, uma certa
agonia do outro lado. "Sou engenheiro e, como tal, cartesiano.
Quero ver tudo sobre a mesa para
saber quanto ganho e quanto devo pagar", diz Mário Mugnaini,
ex-diretor da Fiesp, levado pelo
ministro Luiz Fernando Furlan
para o Desenvolvimento.
Reforça o embaixador do Brasil
na União Européia, José Alfredo
Graça Lima: "Não quero montar
uma tribuna de queixas contra a
UE, porque não leva a nada, mas
está faltando um certa transparência, sem a qual não se pode tomar decisões".
Além da angústia, há visível diferença de interpretação entre os
negociadores brasileiros que vieram de Brasília (mais otimistas) e
aqueles que estão servindo em
Bruxelas, mais desconfiados.
Exemplo: a oferta européia de
uma cota de 1 bilhão de litros de
etanol para o Mercosul.
A dúvida do pessoal de Bruxelas
é sobre a existência de mercado
para o produto, já que não é obrigatória a mistura do etanol à gasolina. Logo, a oferta européia pode
ser puro vento, dizem os técnicos
da embaixada em Bruxelas.
Mas Mugnaini contrapõe: "Eles
não vão nos oferecer, além da cota, o marketing de nosso produto.
Nós é que temos que ir atrás".
É o que Mugnaini fará, após a
reunião em Bruxelas: irá à Alemanha, para convencer o governo local a tornar obrigatória a adição
de ao menos 2% de álcool anidro
à gasolina. "A Suécia já o faz."
Se os governos puserem em
prática determinação do Parlamento Europeu, a porcentagem
será bem maior (5%). Para o Brasil, líder mundial na produção de
etanol, seria um ótimo negócio.
Segundo exemplo: carne. Consta que os europeus teriam oferecido ao Mercosul cota adicional de
50 mil toneladas para a exportação de carne bovina de melhor
qualidade (cota Hilton). A cota
atual é de 40 mil toneladas.
Parece bom negócio, mas o embaixador Graça Lima pergunta:
"Essa cota irá aumentando com o
tempo ou é para sempre?". A pergunta faz sentido técnico: cota,
por definição, não é livre comércio, já que um país não pode vender livremente sua produção ao
parceiro, mas apenas a parte que
ficar dentro do estabelecido.
Mas faz sentido financeiro: os
produtores brasileiros de carne de
qualidade ganhariam mais dinheiro, também por definição, se
a cota aumentar.
Furlan
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, lamentou hoje que o projeto da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) não inclua uma ajuda
aos países pobres semelhante aos
fundos estruturais da União Européia.
"Na UE, os países ricos criaram,
com sensatez, fundos para ajudar
as economias em desenvolvimento, como Espanha, Portugal e
Grécia", disse o ministro. Ele participou do seminário do Conselho
das Américas (Organização que
promove investimentos na região
- Organizado anualmente no Departamento de Estado).
"Na América do Sul, no entanto,
existem países muito mais pobres
que Espanha, Grécia e Portugal, e
na proposta da Alca não há nenhuma disposição de estabelecer
um equilíbrio econômico no bloco, de modo que as economias
menores possam competir em
igualdade de condições com os
outros", lamentou Furlan.
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