São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indústria projeta alta de captações e investimentos

Grau de investimento amplia chance de obter recursos mais baratos no exterior

Planos de empresas podem ser antecipados, acelerados e até elevados, afirma presidente da associação de fabricantes de veículos

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

As empresas brasileiras devem desengavetar projetos com a possibilidade de captar recursos mais baratos no exterior e de atrair investidores estrangeiros, agora que o Brasil passou a ser considerado um país seguro para investimentos pela agência de classificação de risco Standard & Poor's.
A experiência de outros países mostra que, quando se conquista a posição de grau de investimento, ampliam-se as oportunidades para as empresas tomarem recursos externos a custos mais baixos e também para receberem aplicações de fundos de investimentos.
Em certos setores, é provável também que empresas que haviam se programado para fazer IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) e que se recolheram com a crise na economia norte-americana retomem seus projetos com a Bolsa.
Essa é a avaliação de entidades que representam as indústrias, como CNI (confederação nacional), Fiesp (federação de São Paulo), Anfavea (associação do setor automobilístico), Abiplast (de fabricantes de plásticos), Abimaq (do setor de máquinas), Abiarb (de artefatos de borracha) e Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Queda de juros
"Há estímulo não apenas porque deve cair o custo do dinheiro lá fora mas porque, a médio prazo, o governo vai captar recursos com juros mais baixos, o que pode resultar em queda de juros no mercado interno", afirma Jackson Schneider, presidente da Anfavea.
De 2008 a 2010, segundo ele, a indústria automobilística deve aplicar US$ 20 bilhões no país e outros investimentos deverão ser anunciados até o final deste ano. "O que pode acontecer agora é que investimentos podem ser antecipados, acelerados ou aumentados. Quem projetava investir x poderá investir dois x", diz Schneider.
Com faturamento anual de US$ 3 bilhões, a indústria de artefatos de borracha, que tem 55% dos resultados atrelados ao setor automobilístico, também deve ter expansão de investimentos. Segundo Adhemar Queiroz do Valle, diretor-executivo da Abiarb, antes do "investment grade", a projeção era que as empresas aplicassem de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões neste ano. Agora, esse número pode chegar a US$ 200 milhões.
Segundo Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da CNI, o efeito da conquista de grau de investimento do Brasil deve demorar uns seis meses para ser percebido. "As empresas mais estruturadas, com boa rentabilidade e transparentes, têm mais oportunidades para fazer lançamento de ações. As menores vão ter de conhecer o caminho feito pelas grandes para abrir o capital. A expectativa é que se intensifique esse processo a partir de agora", diz.
Para José Velloso, vice-presidente da Abimaq, novos projetos no setor devem aparecer em dois a três anos. Não virão de imediato, pois as indústrias de máquinas se ressentem da perda de competitividade pela valorização do real ante o dólar, que deve se acentuar neste primeiro momento do país como grau de investimento.

Fila anda
Os IPOs devem ser retomados, diz Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi. "A fila andou bem até agosto de 2007 e parou. Agora vai deslanchar, mesmo com a crise nos EUA. Mais empresas brasileiras vão ter acesso a crédito mais barato no exterior. E custo de capital é fator de competitividade."
Na sua avaliação, setores que têm no custo de capital um problema, como o químico, o metalúrgico, o siderúrgico, o de papel e celulose, o de cimento e o de mineração, vão ser mais beneficiados agora.
Para Merheg Cachum, presidente da Abiplast, as empresas do setor vão buscar recursos com mais tranqüilidade. "Para quem está com projetos em andamento, o momento não poderia ser melhor. Devem aumentar, sim, os investimentos no nosso setor. Projetos deverão ser desengavetados", diz.
"Alguns planos que estavam em compasso de espera deverão ser deslanchados à medida que o custo de capital cair. Isso deve levar no mínimo uns três meses para ser sentido. É preciso esperar também que os fundos de investimento venham para o Brasil, para vermos o efeito na economia real", diz André Rebelo, gerente do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp.


Texto Anterior: Marcio Pochmann: Outro padrão civilizatório
Próximo Texto: Saiba mais: Nova nota reduz juros e amplia prazo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.