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Indústria projeta alta de captações e investimentos
Grau de investimento amplia chance de obter recursos mais baratos no exterior
Planos de empresas podem ser antecipados, acelerados e até elevados, afirma
presidente da associação de fabricantes de veículos
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
As empresas brasileiras devem desengavetar projetos
com a possibilidade de captar
recursos mais baratos no exterior e de atrair investidores estrangeiros, agora que o Brasil
passou a ser considerado um
país seguro para investimentos
pela agência de classificação de
risco Standard & Poor's.
A experiência de outros países mostra que, quando se conquista a posição de grau de investimento, ampliam-se as
oportunidades para as empresas tomarem recursos externos
a custos mais baixos e também
para receberem aplicações de
fundos de investimentos.
Em certos setores, é provável
também que empresas que haviam se programado para fazer
IPO (oferta inicial de ações, na
sigla em inglês) e que se recolheram com a crise na economia norte-americana retomem
seus projetos com a Bolsa.
Essa é a avaliação de entidades que representam as indústrias, como CNI (confederação
nacional), Fiesp (federação de
São Paulo), Anfavea (associação do setor automobilístico),
Abiplast (de fabricantes de
plásticos), Abimaq (do setor de
máquinas), Abiarb (de artefatos de borracha) e Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Queda de juros
"Há estímulo não apenas
porque deve cair o custo do dinheiro lá fora mas porque, a
médio prazo, o governo vai captar recursos com juros mais
baixos, o que pode resultar em
queda de juros no mercado interno", afirma Jackson Schneider, presidente da Anfavea.
De 2008 a 2010, segundo ele,
a indústria automobilística deve aplicar US$ 20 bilhões no
país e outros investimentos deverão ser anunciados até o final
deste ano. "O que pode acontecer agora é que investimentos
podem ser antecipados, acelerados ou aumentados. Quem
projetava investir x poderá investir dois x", diz Schneider.
Com faturamento anual de
US$ 3 bilhões, a indústria de artefatos de borracha, que tem
55% dos resultados atrelados
ao setor automobilístico, também deve ter expansão de investimentos. Segundo Adhemar Queiroz do Valle, diretor-executivo da Abiarb, antes do
"investment grade", a projeção
era que as empresas aplicassem
de US$ 100 milhões a US$ 150
milhões neste ano. Agora, esse
número pode chegar a US$ 200
milhões.
Segundo Flávio Castelo
Branco, gerente-executivo de
Política Econômica da CNI, o
efeito da conquista de grau de
investimento do Brasil deve demorar uns seis meses para ser
percebido. "As empresas mais
estruturadas, com boa rentabilidade e transparentes, têm
mais oportunidades para fazer
lançamento de ações. As menores vão ter de conhecer o caminho feito pelas grandes para
abrir o capital. A expectativa é
que se intensifique esse processo a partir de agora", diz.
Para José Velloso, vice-presidente da Abimaq, novos projetos no setor devem aparecer em
dois a três anos. Não virão de
imediato, pois as indústrias de
máquinas se ressentem da perda de competitividade pela valorização do real ante o dólar,
que deve se acentuar neste primeiro momento do país como
grau de investimento.
Fila anda
Os IPOs devem ser retomados, diz Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi. "A fila andou bem até agosto de 2007 e
parou. Agora vai deslanchar,
mesmo com a crise nos EUA.
Mais empresas brasileiras vão
ter acesso a crédito mais barato
no exterior. E custo de capital é
fator de competitividade."
Na sua avaliação, setores que
têm no custo de capital um problema, como o químico, o metalúrgico, o siderúrgico, o de
papel e celulose, o de cimento e
o de mineração, vão ser mais
beneficiados agora.
Para Merheg Cachum, presidente da Abiplast, as empresas
do setor vão buscar recursos
com mais tranqüilidade. "Para
quem está com projetos em andamento, o momento não poderia ser melhor. Devem aumentar, sim, os investimentos
no nosso setor. Projetos deverão ser desengavetados", diz.
"Alguns planos que estavam
em compasso de espera deverão ser deslanchados à medida
que o custo de capital cair. Isso
deve levar no mínimo uns três
meses para ser sentido. É preciso esperar também que os fundos de investimento venham
para o Brasil, para vermos o
efeito na economia real", diz
André Rebelo, gerente do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp.
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