São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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FUNDOS

BC age para reduzir perdas; oscilação no valor dos fundos vai continuar

BC tenta acalmar investidor; sacar agora gera mais perdas

SANDRA BALBI
MARCELO BILLI

DA REPORTAGEM LOCAL

As perdas de até 5% no valor da cota dos fundos DI e de renda fixa, registradas na última sexta-feira, refletem a piora do mercado financeiro nos últimos 12 meses e não necessariamente irão se repetir daqui para a frente, nessa proporção, dizem analistas ouvidos pela Folha.
Segundo esses analistas de mercado, a piora ou melhora do mercado de renda fixa, tradicionalmente o menos instável, vai depender do comportamento do Banco Central e dos investidores nos próximos dias.
Ontem, o BC tentou acalmar o mercado realizando um leilão para recomprar LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), que são os principais papéis das carteiras desses fundos. O objetivo do leilão foi trocar títulos que venciam em 2004 e 2005, que vinham sofrendo forte desvalorização, por outros com vencimento em 2003 melhor aceitos.
Assim, o BC espera diminuir a oscilação dos preços desses títulos e o risco de novos prejuízos para os investidores com o início da contabilidade dos ativos de acordo com seu valor de mercado.

Pânico gera mais perdas
Outra possível fonte de desvalorização para esses papéis é a própria perspectiva de que os cotistas continuem sacando recursos dos seus fundos. Isso forçaria os gestores a venderem os ativos que têm em carteira para pagar os pedidos de resgate. O resultado seria mais LFTs no mercado, puxando seu preço ainda mais para baixo, criando um circulo vicioso.
Por isso os gestores não recomendam sacar o dinheiro dos fundos. "Enquanto o investidor não resgatar a aplicação, o prejuízo é contábil. Quem sacar realiza o prejuízo", alerta Marco Sudano, diretor-executivo do Unibanco Asset Management.
Ele lembra que os fundos DI e de renda fixa carregam os títulos em carteira até a data do vencimento, quando são resgatados pelo seu valor face pelo BC. "Isso permite recuperar as perdas atuais no médio prazo", diz ele.
Para consultores e analistas, o melhor a fazer agora é ter sangue frio e esperar. Mais: a vida do investidor vai deixar de ser tão fácil e ele passará a lidar com as oscilações diárias do mercado que os fundos de renda fixa pareciam evitar.
Ainda assim, dizem os analistas ouvidos ontem pela Folha, a aplicação em fundos continua sendo atrativa. Mesmo porque, afirmam, as demais escolhas são a poupança, que rende menos, e fundos de renda variável, que podem render mais, mas têm um risco maior. "Os fundos DI continuam sendo um dos investimentos mais seguros. Mas é bom lembrar que não existe aplicação que seja livre de riscos", diz Roberto Apelfeld, diretor-executivo do Citigroup Asset Management.
Willian Eid, professor do centro de estudos em finanças da FGV/ Eaesp, concorda. Ele lembra que o aparente "rombo" nos fundos já existia. Foi apenas contabilizado. Os investidores podem se assustar, mas a medida torna os fundos mais transparentes.
Mauro Halfeld, analista financeiro e professor da Universidade Federal do Paraná, recomenda que os investidores encarem a perda como "a devolução de um pedacinho do ganho extraordinário dos últimos anos".
"Desde o início do Plano Real os fundos DI já renderam 515%, contra um rendimento de 277% da poupança."



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