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Perdas são ainda maiores do que o estimado
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois dos ajustes que foram feitos nos fundos de investimento, a radiografia de perdas amargadas pelos cotistas se revelou ainda pior do que se imaginava. Os prejuízos de vários fundos ultrapassaram 4%. Os fundos
mais atingidos se concentram em instituições nacionais, principalmente públicas. As três categorias de fundos que mais sofreram foram os DIs, os de renda fixa e os de previdência.
No total, as perdas de rendimento que levaram à queda de
rentabilidade dessas três categorias de fundos somaram R$ 2,14
bilhões entre os dias 29 e 31 da semana passada, segundo dados da
consultoria do site Fortuna.
De acordo com Francisco Camargo, sócio da Fortuna, essas
perdas poderão ser ainda maiores. Isso porque até o fim da semana passada apenas 78% dos
fundos DI, de renda fixa e de previdência haviam divulgado suas
novas cotas depois dos ajustes.
Dentre as instituições que mais
perderam estão bancos públicos,
como Nossa Caixa e Caixa Econômica Federal. Outras instituições
nacionais como Banespa, Bradesco e Itaú também tiveram fundos
que foram bastante afetados. Nos
piores casos, as rentabilidades negativas oscilaram entre 2% e 5%.
As perdas foram consequência
da entrada em vigor de uma resolução do Banco Central e da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) que obriga os bancos a divulgar informações mais transparentes relativas à rentabilidade de
seus fundos. A regra estabelece
que os gestores contabilizem os
ativos de suas carteiras, como títulos públicos, pelo seu valor no
mercado. Até então, a maior parte
dos administradores de recursos
utilizavam um método de cálculo
que contabilizava os ativos de
acordo com os juros embutidos
nos títulos das carteiras.
A maior parte dos bancos estrangeiros sofreu perdas inferiores às das instituições nacionais
porque já praticavam a chamada
"marcação a mercado".
Na verdade, apesar de ter soltado a resolução que institui as novas regras de marcação a mercado
em fevereiro passado, o BC já recomendava esse método de contabilidade havia muito tempo. Em
1995, por exemplo, a instituição já
havia publicado uma circular
(2.616) que dizia o seguinte: "as
cotas do fundo devem ter seu valor calculado diariamente, com
base em avaliação patrimonial
que considere o valor de mercado
dos ativos financeiros integrantes
da carteira (...)". Em nota divulgada ontem, a Anbid (Associação
Nacional dos Bancos de Investimento) disse que também já recomendava a contabilidade de ativos de acordo com seu valor no
mercado "há algum tempo".
Na quarta-feira passada, o BC e
a CVM resolveram fechar o cerco
aos bancos que não estavam aderindo à nova determinação, ao
antecipar o prazo para adequação
de 30 de setembro deste ano para
a última sexta-feira.
Os gestores foram pegos de surpresa e tiveram de fazer as mudanças durante o feriado de Corpus Christi na última quinta-feira.
Mais surpresos ainda ficaram os
cotistas que checaram seus extratos na sexta-feira passada. Já há
investidores prometendo processar as instituições.
Dentre os fundos que menos
perderam estão aqueles que já faziam a marcação a mercado há
muito tempo. Entre esses estão os
fundos do Citibank, que até registraram rentabilidade positiva na
sexta-feira passada. Os fundos do
BankBoston também perderam
menos. Segundo Márcio Verri, estrategista-chefe da Boston Asset
Management, os fundos da instituição não estavam recheados de
papéis com vencimento a partir
do ano que vem. "Nossas carteiras
eram principalmente de curto
prazo", disse.
Carlos Carvalho, da Questus Asset Management, foi outro que
optou por se livrar de títulos públicos e, com isso, evitar o temor
de risco de crédito. "Desde março, não tenho um título público nos
meus fundos", disse Carvalho.
Apesar das perdas sofridas na semana passada, analistas são
quase unânimes ao afirmar que a nova regra é positiva porque vai
aumentar a transparência do mercado de fundos.
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