São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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Perdas são ainda maiores do que o estimado

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois dos ajustes que foram feitos nos fundos de investimento, a radiografia de perdas amargadas pelos cotistas se revelou ainda pior do que se imaginava. Os prejuízos de vários fundos ultrapassaram 4%. Os fundos mais atingidos se concentram em instituições nacionais, principalmente públicas. As três categorias de fundos que mais sofreram foram os DIs, os de renda fixa e os de previdência.
No total, as perdas de rendimento que levaram à queda de rentabilidade dessas três categorias de fundos somaram R$ 2,14 bilhões entre os dias 29 e 31 da semana passada, segundo dados da consultoria do site Fortuna.
De acordo com Francisco Camargo, sócio da Fortuna, essas perdas poderão ser ainda maiores. Isso porque até o fim da semana passada apenas 78% dos fundos DI, de renda fixa e de previdência haviam divulgado suas novas cotas depois dos ajustes.
Dentre as instituições que mais perderam estão bancos públicos, como Nossa Caixa e Caixa Econômica Federal. Outras instituições nacionais como Banespa, Bradesco e Itaú também tiveram fundos que foram bastante afetados. Nos piores casos, as rentabilidades negativas oscilaram entre 2% e 5%.
As perdas foram consequência da entrada em vigor de uma resolução do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que obriga os bancos a divulgar informações mais transparentes relativas à rentabilidade de seus fundos. A regra estabelece que os gestores contabilizem os ativos de suas carteiras, como títulos públicos, pelo seu valor no mercado. Até então, a maior parte dos administradores de recursos utilizavam um método de cálculo que contabilizava os ativos de acordo com os juros embutidos nos títulos das carteiras.
A maior parte dos bancos estrangeiros sofreu perdas inferiores às das instituições nacionais porque já praticavam a chamada "marcação a mercado".
Na verdade, apesar de ter soltado a resolução que institui as novas regras de marcação a mercado em fevereiro passado, o BC já recomendava esse método de contabilidade havia muito tempo. Em 1995, por exemplo, a instituição já havia publicado uma circular (2.616) que dizia o seguinte: "as cotas do fundo devem ter seu valor calculado diariamente, com base em avaliação patrimonial que considere o valor de mercado dos ativos financeiros integrantes da carteira (...)". Em nota divulgada ontem, a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) disse que também já recomendava a contabilidade de ativos de acordo com seu valor no mercado "há algum tempo".
Na quarta-feira passada, o BC e a CVM resolveram fechar o cerco aos bancos que não estavam aderindo à nova determinação, ao antecipar o prazo para adequação de 30 de setembro deste ano para a última sexta-feira.
Os gestores foram pegos de surpresa e tiveram de fazer as mudanças durante o feriado de Corpus Christi na última quinta-feira. Mais surpresos ainda ficaram os cotistas que checaram seus extratos na sexta-feira passada. Já há investidores prometendo processar as instituições.
Dentre os fundos que menos perderam estão aqueles que já faziam a marcação a mercado há muito tempo. Entre esses estão os fundos do Citibank, que até registraram rentabilidade positiva na sexta-feira passada. Os fundos do BankBoston também perderam menos. Segundo Márcio Verri, estrategista-chefe da Boston Asset Management, os fundos da instituição não estavam recheados de papéis com vencimento a partir do ano que vem. "Nossas carteiras eram principalmente de curto prazo", disse.
Carlos Carvalho, da Questus Asset Management, foi outro que optou por se livrar de títulos públicos e, com isso, evitar o temor de risco de crédito. "Desde março, não tenho um título público nos meus fundos", disse Carvalho.
Apesar das perdas sofridas na semana passada, analistas são quase unânimes ao afirmar que a nova regra é positiva porque vai aumentar a transparência do mercado de fundos.



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