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AGROFOLHA
EQUINOCULTURA
Objetivo é melhorar raças produzidas localmente com material genético dos melhores animais do mundo
Brasil já usa sêmen dos melhores cavalos
CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os melhores cavalos do mundo estão chegando ao Brasil. Ou, pelo menos, o material genético deles.
Segundo especialistas, a otimização das técnicas de inseminação artificial a partir de sêmen congelado aumenta a produtividade e a qualidade dos animais
brasileiros e, paralelamente, a rentabilidade de seus criadores.
Um cavalo campeão pode, em alguns casos, alcançar preços que batem na casa dos milhões de dólares. No Brasil, a qualidade dos equinos é razoável, mas está ainda muito abaixo da européia. A saída para isso é o melhoramento genético dos animais do país. E a melhor forma para obter esses resultados é a importação de sêmen congelado dos melhores cavalos do mundo.
Segundo o pesquisador Marco Antonio Alvarenga, vice-diretor do departamento de reprodução animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a inseminação
artificial a partir de sêmen congelado era vista com desconfiança
por criadores. O motivo era a sua limitada taxa de sucesso. Em alguns casos, ela não chegava a 40%.
Para driblar esse problema, veterinários brasileiros passaram a recomendar a inseminação endoscópica para os criadores. A técnica consiste em introduzir os
espermatozóides diretamente no útero da égua por meio de um endoscópio (espécie de tubo com uma microcâmera na ponta). Dessa forma, é possível inseminar
éguas com apenas 25% da dose normal.
A economia que o processo oferece é interessante. Uma dose de sêmen congelado de um garanhão europeu pode custar até US$ 5.000. O material genético do
cavalo Baloubet du Rouet, por exemplo, está avaliado em cerca
de US$ 3.500. Com a técnica, um criador gastaria os mesmos US$
3.500, mas teria condições de inseminar quatro éguas diferentes.
O procedimento também pode favorecer, em alguns casos, a fecundação de animais com problemas de fertilidade.
Utilização
O melhoramento genético em equinos, diferentemente do que
acontece com bovinos, não é utilizado em todas as raças.
As restrições podem ser desde orientações dos criadores até impedimentos biológicos. O principal motivo, porém, é mesmo a restrição imposta pelos próprios criadores.
"O puro sangue inglês, o quarto de milha e o árabe, por exemplo,
são cavalos de corrida, cujo único atributo que se quer melhorar é a
velocidade", diz Marcelo Navajas, diretor superintendente da
ABCCH (Associação Brasileira
dos Criadores de Cavalo de Hipismo). "A constante utilização da
inseminação artificial nessas raças a pretexto de melhorá-las acabaria por aumentar a consanguinidade da raça e, eventualmente, impediria sua evolução no longo prazo."
Já para as raças utilizadas para hipismo, as quais dependem de
diversas características genéticas, a inseminação artificial é uma
vantagem. A partir dela, é possível escolher os animais com os melhores atributos para fornecer material genético.
Além disso, segundo Alvarenga, o sêmen dos animais de hipismo
já são, naturalmente, mais resistentes ao processo de congelamento.
Mercado brasileiro
Dos 7 milhões de cavalos do país, cerca de 15 mil são animais
registrados pela ABCCH. Desses, cerca de 25% foram gerados a
partir de inseminação artificial. A maioria desses cavalos está no Estado de São Paulo, que concentra aproximadamente 10% da população equina brasileira.
A utilização da inseminação no Brasil, entretanto, é ainda relativamente modesta. Em 2001, segundo estimativas da Unesp, foram realizadas cerca de 300. Os custo do procedimento, que fica em torno de R$ 600, não é o principal entrave à disseminação da técnica, mas, sim, o custo da dose, geralmente importada.
No Brasil, o sêmen comercializado entre criadores normalmente não é congelado, mas fresco ou resfriado.
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