São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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AGROFOLHA

EQUINOCULTURA

Objetivo é melhorar raças produzidas localmente com material genético dos melhores animais do mundo

Brasil já usa sêmen dos melhores cavalos

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ SERGIO OSSE

DA REPORTAGEM LOCAL

Os melhores cavalos do mundo estão chegando ao Brasil. Ou, pelo menos, o material genético deles.
Segundo especialistas, a otimização das técnicas de inseminação artificial a partir de sêmen congelado aumenta a produtividade e a qualidade dos animais brasileiros e, paralelamente, a rentabilidade de seus criadores.
Um cavalo campeão pode, em alguns casos, alcançar preços que batem na casa dos milhões de dólares. No Brasil, a qualidade dos equinos é razoável, mas está ainda muito abaixo da européia. A saída para isso é o melhoramento genético dos animais do país. E a melhor forma para obter esses resultados é a importação de sêmen congelado dos melhores cavalos do mundo.
Segundo o pesquisador Marco Antonio Alvarenga, vice-diretor do departamento de reprodução animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a inseminação artificial a partir de sêmen congelado era vista com desconfiança por criadores. O motivo era a sua limitada taxa de sucesso. Em alguns casos, ela não chegava a 40%.
Para driblar esse problema, veterinários brasileiros passaram a recomendar a inseminação endoscópica para os criadores. A técnica consiste em introduzir os espermatozóides diretamente no útero da égua por meio de um endoscópio (espécie de tubo com uma microcâmera na ponta). Dessa forma, é possível inseminar éguas com apenas 25% da dose normal.
A economia que o processo oferece é interessante. Uma dose de sêmen congelado de um garanhão europeu pode custar até US$ 5.000. O material genético do cavalo Baloubet du Rouet, por exemplo, está avaliado em cerca de US$ 3.500. Com a técnica, um criador gastaria os mesmos US$ 3.500, mas teria condições de inseminar quatro éguas diferentes.
O procedimento também pode favorecer, em alguns casos, a fecundação de animais com problemas de fertilidade.

Utilização
O melhoramento genético em equinos, diferentemente do que acontece com bovinos, não é utilizado em todas as raças.
As restrições podem ser desde orientações dos criadores até impedimentos biológicos. O principal motivo, porém, é mesmo a restrição imposta pelos próprios criadores.
"O puro sangue inglês, o quarto de milha e o árabe, por exemplo, são cavalos de corrida, cujo único atributo que se quer melhorar é a velocidade", diz Marcelo Navajas, diretor superintendente da ABCCH (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo de Hipismo). "A constante utilização da inseminação artificial nessas raças a pretexto de melhorá-las acabaria por aumentar a consanguinidade da raça e, eventualmente, impediria sua evolução no longo prazo."
Já para as raças utilizadas para hipismo, as quais dependem de diversas características genéticas, a inseminação artificial é uma vantagem. A partir dela, é possível escolher os animais com os melhores atributos para fornecer material genético.
Além disso, segundo Alvarenga, o sêmen dos animais de hipismo já são, naturalmente, mais resistentes ao processo de congelamento.

Mercado brasileiro
Dos 7 milhões de cavalos do país, cerca de 15 mil são animais registrados pela ABCCH. Desses, cerca de 25% foram gerados a partir de inseminação artificial. A maioria desses cavalos está no Estado de São Paulo, que concentra aproximadamente 10% da população equina brasileira.
A utilização da inseminação no Brasil, entretanto, é ainda relativamente modesta. Em 2001, segundo estimativas da Unesp, foram realizadas cerca de 300. Os custo do procedimento, que fica em torno de R$ 600, não é o principal entrave à disseminação da técnica, mas, sim, o custo da dose, geralmente importada.
No Brasil, o sêmen comercializado entre criadores normalmente não é congelado, mas fresco ou resfriado.



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