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ENERGIA
Um terço dos revendedores de SP pratica margem inferior ao custo para operar; entidade vê indício de sonegação ou adulteração
Lucro baixo de posto sugere irregularidade
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Um levantamento da Fecombustíveis (federação nacional dos
revendedores de combustíveis),
feito a partir de dados da pesquisa
de preço da ANP (Agência Nacional do Petróleo), revela que 32%
dos postos de São Paulo praticam
margem de lucro inferior ao custo
médio para manter um estabelecimento funcionando. No Rio, o
percentual é de 22%.
Os dados são, segundo a entidade, "um forte indício" de que esses postos praticam sonegação,
elisão fiscal ou adulteração. "Trabalhar com margem bruta de até
5% é um sinal de que há algo errado", afirmou Gustavo Sobral, diretor da Fecombustíveis.
A margem bruta é a parcela do
preço final que fica com os postos,
sem descontar as despesas com
pessoal, encargos e estrutura.
Em São Paulo, 8% dos postos
praticam margem bruta negativa
-vendem o combustível mais
barato do que o valor médio pago
à distribuidora. Outros 24% têm
margem inferior a 5% -não cobre nem os gastos fixos, como aluguel e folha de pagamento, de
acordo com a entidade. No Rio,
4% trabalham com margem negativa.
Segundo a Fecombustíveis, somadas, as despesas e encargos de
um posto são, em média, de R$
0,22 por litro de gasolina. Uma
margem adequada para cobrir esses gastos é de, no mínimo, 10%.
Acima de 5% e até esse limite, estão 31% das revendas de São Paulo e 52% das do Rio.
O ex-diretor-geral da ANP
(Agência Nacional do Petróleo)
David Zylbersztajn também considera que margem baixa é indício de sonegação. Pondera, no entanto, que cada posto tem um nível de despesas, dependendo da
localização e dos serviços que oferece. Por isso, diz, preço baixo não
é necessariamente sinônimo de
irregularidade.
Para Zylbersztajn, a iniciativa
do governo de divulgar preços
teóricos para os combustíveis "tira do foco os postos que estão
operando sem pagar tributos".
Pode ainda fazer com que mais
distribuidoras e revendedores
corram atrás de liminares contra
a cobrança de impostos para atingir o preço sugerido.
Na semana passada, o Ministério de Minas e Energia divulgou
lista com preços teóricos -mais
baixos do que os praticados- e
prometeu intensificar a fiscalização para os que adotarem valores
maiores. O objetivo é fazer chegar
integralmente as reduções nas refinarias às bombas.
Para Zylbersztajn, no lugar de
sugerir preços, o governo deveria
ampliar as sanções e a fiscalização
aos revendedores que praticam
irregularidades e que operam
com liminares.
Segundo o diretor jurídico do
Sindicom (sindicato das distribuidoras), Guido Silveira, houve
um recrudescimento na concessão de liminares contrárias à cobrança da Cide (contribuição sobre o valor dos combustíveis) neste ano. O Sindicom calcula perda
de R$ 1,5 bilhão na arrecadação da
União só nos cinco primeiros meses de 2003. Em todo 2002, a cifra
foi menor: R$ 150 milhões.
Desde que a Cide foi criada, em
janeiro de 2002, cerca de 70 liminares contestando sua constitucionalidade foram concedidas.
Hoje, 21 estão em vigor, pelas contas do Sindicom. Segundo Silveira, uma solução em estudo pelo
governo é pedir ao Supremo, pela
Advocacia Geral da União ou pela
Procuradoria Geral da República,
uma declaração de constitucionalidade para a Cide. Com o aval do
Supremo, não haveria brechas para novas contestações.
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