São Paulo, sábado, 04 de julho de 2009

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Empresas de cartões admitem mudanças para evitar punição

Associação do setor, porém, não dá prazo para fim de exclusividade sobre exploração de bandeiras

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Três meses após o governo divulgar estudo apontando que o mercado nacional de cartões de pagamento é concentrado, impede a entrada de novos participantes e precisa passar por uma ampla reforma para beneficiar os lojistas, a associação do setor admitiu mudanças.
A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) divulgou ontem seu próprio estudo sobre o tema. Nele, a entidade critica a metodologia e as medidas de força sugeridas pelo governo. Mas admite o fim da exclusividade que as duas principais companhias do setor, a VisaNet e a Redecard, possuem na exploração das bandeiras Visa e MasterCard, respectivamente. A Abecs, no entanto, não menciona datas nem condições.
"Sabemos que o mercado pode ser aperfeiçoado e queremos contribuir nesse processo", disse à Folha Roberto Medeiros, diretor da Abecs.
Além de aceitar o fim da exclusividade, a entidade admite que as empresas prestadoras de serviços de rede tenham a opção (e não a obrigação, como sugere o governo) de oferecer aos lojistas terminais que capturem bandeiras diferentes.
"A indústria acredita que, com essas duas sugestões, o mercado de cartões se torne mais competitivo e os lojistas brasileiros, por um processo de seleção natural, não precisem mais alugar várias máquinas leitoras de cartões para trabalhar com bandeiras diferentes", disse Medeiros.
Essa hipótese não é aceita integralmente por alguns órgãos do governo, para os quais é necessário tornar obrigatório o compartilhamento dos terminais -assim como um mesmo telefone celular pode fazer ligações de longa distância usando operadoras diferentes.

Captura
Essa não é a única divergência entre o governo e a Abecs. Alguns órgãos de defesa da concorrência também acham que será preciso exigir das empresas do setor que vendam seus negócios de captura, compensação e liquidação, ficando apenas com o credenciamento de lojistas. Só assim o mercado se tornaria mais competitivo.
Outro ponto de divergência entre a Abecs e o governo diz respeito à ideia, contida no estudo oficial, de permitir aos lojistas que cobrem preços diferenciados para os diversos meios de pagamento: dinheiro, cheque ou cartão.
Essa cobrança é proibida por portaria do Ministério da Fazenda de 1994. O governo acha que, se preços diferenciados pudessem ser cobrados, os lojistas dariam desconto sobre compras em dinheiro para fugir das altas taxas cobradas pelas empresas de cartões.
Para demovê-los, empresas como VisaNet e Redecard cobrariam taxas menores. A Abecs discorda. Segundo a entidade, tal medida só elevaria a informalidade e a sonegação.

Exclusivos
A VisaNet hoje tem a exclusividade contratual para credenciar a bandeira Visa com lojistas. A empresa pertence ao Bradesco (com 39,5% do capital), ao Banco do Brasil (32%) e ao Santander (14,4%).
Já a Redecard é controlada pelo Itaú Unibanco (50,1%). A rigor, a empresa não tem a exclusividade formal no credenciamento da bandeira MasterCard, mas é a única, pois as outras quatro instituições financeiras que obtiveram a mesma licença praticamente nunca exerceram esse direito.
Para o governo, a falta da concorrência resulta do domínio que essas duas empresas têm sobre toda a cadeia desse mercado. Beneficiadas pela exclusividade, elas controlam o credenciamento de lojistas e as redes de pagamento e manutenção de terminais.

Sugestões
Nos últimos três meses, o Banco Central recebeu 57 sugestões sobre como deve funcionar a nova regulamentação que o governo pretende adotar para o mercado de cartões de crédito e de débito no Brasil. Desse total, 12 foram consideradas mais relevantes e serão analisadas até setembro, quando deve ser publicado um relatório final.
O BC não informou o conteúdo dessas sugestões. A consulta, encerrada anteontem, foi aberta após a publicação de um estudo feito em conjunto por três órgãos do governo -BC e ministérios da Justiça e da Fazenda- sobre a situação atual desse mercado.


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