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Empresas de cartões admitem mudanças para evitar punição
Associação do setor, porém, não dá prazo para fim de exclusividade sobre exploração de bandeiras
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Três meses após o governo
divulgar estudo apontando que
o mercado nacional de cartões
de pagamento é concentrado,
impede a entrada de novos participantes e precisa passar por
uma ampla reforma para beneficiar os lojistas, a associação do
setor admitiu mudanças.
A Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de
Crédito e Serviços) divulgou
ontem seu próprio estudo sobre o tema. Nele, a entidade critica a metodologia e as medidas
de força sugeridas pelo governo. Mas admite o fim da exclusividade que as duas principais
companhias do setor, a VisaNet
e a Redecard, possuem na exploração das bandeiras Visa e
MasterCard, respectivamente.
A Abecs, no entanto, não menciona datas nem condições.
"Sabemos que o mercado pode ser aperfeiçoado e queremos
contribuir nesse processo", disse à Folha Roberto Medeiros,
diretor da Abecs.
Além de aceitar o fim da exclusividade, a entidade admite
que as empresas prestadoras
de serviços de rede tenham a
opção (e não a obrigação, como
sugere o governo) de oferecer
aos lojistas terminais que capturem bandeiras diferentes.
"A indústria acredita que,
com essas duas sugestões, o
mercado de cartões se torne
mais competitivo e os lojistas
brasileiros, por um processo de
seleção natural, não precisem
mais alugar várias máquinas
leitoras de cartões para trabalhar com bandeiras diferentes", disse Medeiros.
Essa hipótese não é aceita integralmente por alguns órgãos
do governo, para os quais é necessário tornar obrigatório o
compartilhamento dos terminais -assim como um mesmo
telefone celular pode fazer ligações de longa distância usando
operadoras diferentes.
Captura
Essa não é a única divergência entre o governo e a Abecs.
Alguns órgãos de defesa da concorrência também acham que
será preciso exigir das empresas do setor que vendam seus
negócios de captura, compensação e liquidação, ficando apenas com o credenciamento de
lojistas. Só assim o mercado se
tornaria mais competitivo.
Outro ponto de divergência
entre a Abecs e o governo diz
respeito à ideia, contida no estudo oficial, de permitir aos lojistas que cobrem preços diferenciados para os diversos
meios de pagamento: dinheiro,
cheque ou cartão.
Essa cobrança é proibida por
portaria do Ministério da Fazenda de 1994. O governo acha
que, se preços diferenciados
pudessem ser cobrados, os lojistas dariam desconto sobre
compras em dinheiro para fugir das altas taxas cobradas pelas empresas de cartões.
Para demovê-los, empresas
como VisaNet e Redecard cobrariam taxas menores. A
Abecs discorda. Segundo a entidade, tal medida só elevaria a
informalidade e a sonegação.
Exclusivos
A VisaNet hoje tem a exclusividade contratual para credenciar a bandeira Visa com lojistas. A empresa pertence ao Bradesco (com 39,5% do capital),
ao Banco do Brasil (32%) e ao
Santander (14,4%).
Já a Redecard é controlada
pelo Itaú Unibanco (50,1%). A
rigor, a empresa não tem a exclusividade formal no credenciamento da bandeira MasterCard, mas é a única, pois as outras quatro instituições financeiras que obtiveram a mesma
licença praticamente nunca
exerceram esse direito.
Para o governo, a falta da
concorrência resulta do domínio que essas duas empresas
têm sobre toda a cadeia desse
mercado. Beneficiadas pela exclusividade, elas controlam o
credenciamento de lojistas e as
redes de pagamento e manutenção de terminais.
Sugestões
Nos últimos três meses, o
Banco Central recebeu 57 sugestões sobre como deve funcionar a nova regulamentação
que o governo pretende adotar
para o mercado de cartões de
crédito e de débito no Brasil.
Desse total, 12 foram consideradas mais relevantes e serão
analisadas até setembro, quando deve ser publicado um relatório final.
O BC não informou o conteúdo dessas sugestões. A consulta, encerrada anteontem, foi
aberta após a publicação de um
estudo feito em conjunto por
três órgãos do governo -BC e
ministérios da Justiça e da Fazenda- sobre a situação atual
desse mercado.
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