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Comércio de carne bovina omite origem do produto
Supermercados dizem que consumidor não tem como saber procedência exata
Redes suspenderam compra de fazendas do Pará, mas a Folha encontrou carne de frigorífico do Estado à venda em loja na capital paulista
AFRA BALAZINA
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Na prateleira, picanha com
selo de frigorífico de Marabá
(PA), fraldinha e maminha de
frigorífico de Tangará da Serra
(MT). Outras carnes vistas na
gôndola vêm de frigoríficos das
cidades paulistas de Promissão,
Bauru e Andradina.
Mas por quais fazendas passou esse gado agora exposto
nos supermercados? Vieram de
áreas que desmataram a floresta amazônica ilegalmente? O
consumidor que se depara com
os produtos e lê os rótulos não
consegue responder.
A Folha esteve em lojas do
Wal-Mart, do Carrefour e do
Pão de Açúcar, e em todas a situação é recorrente. A Apas
(Associação Paulista de Supermercados) e os supermercados
admitem que os consumidores
não têm como saber de forma
exata a procedência das carnes
que compram. Em outros países, a situação é parecida.
Segundo Daniela de Fiori, vice-presidente de sustentabilidade do Wal-Mart Brasil, a única forma, hoje, de os consumidores terem garantia de não
compactuar com o desflorestamento da Amazônia é frequentar mercados em que confiam.
Após denúncias da ONG
Greenpeace que relacionaram
a pecuária com a derrubada da
floresta e de o Ministério Público Federal no Pará mover
ações civis públicas pedindo indenização de R$ 2,1 bilhões de
pecuaristas e frigoríficos, três
grandes redes -Wal-Mart,
Carrefour e Pão de Açúcar-
suspenderam a compra de carne de fazendas do Estado.
No entanto a reportagem encontrou carne de frigorífico do
Pará no Wal-Mart do Morumbi
(zona oeste da capital paulista).
As peças foram embaladas em
maio (antes das denúncias).
Também havia carne de frigoríficos de outros Estados da
Amazônia Legal.
Para Marcio Astrini, do
Greenpeace, os supermercados
têm de estender o embargo para toda a região amazônica.
Além do embargo ao Pará, a
representante do Wal-Mart diz
que as três redes exigem, agora,
que os frigoríficos contratem
auditorias. "Dada a gravidade
das denúncias, entendemos
que não há outro caminho,
mesmo que isso custe para o
setor. As outras medidas [como
a suspensão da compra de carne do Pará] são paliativas."
Rastreamento
Na visita da reportagem da
Folha a uma loja do Carrefour
em Santo Amaro (zona sul da
capital), além da falta de informação, houve um diálogo inusitado com um dos atendentes.
"Como assim, o boi come a floresta?", disse o funcionário ao
repórter quando ele quis saber
se aquela carne em específico
vinha de uma área de desmatamento ilegal. Na prática, os fazendeiros amazônicos transformam a floresta em pasto.
O Carrefour, por meio de assessoria de imprensa, disse que
40% da carne comercializada
por ela tem um selo de origem
na embalagem. Essas carnes,
diz a empresa, são totalmente
garantidas, inclusive do ponto
de vista ambiental.
Em outros produtos, como os
embalados a vácuo, existe normalmente apenas o nome da cidade onde o frigorífico fornecedor opera. Ou seja, mesmo conhecendo muito a geografia
brasileira, é complicado saber
se determinada cidade está localizada na Amazônia ou não.
"Nós não suspendemos a
compra pelo CNPJ dos fornecedores. O controle é feito pelo
número do SIF (Serviço de Inspeção Federal), ele que é importante [para rastrear o animal desde o local onde nasceu]", diz Nelson Raymundi,
gerente de comercialização de
carnes do Grupo Pão de Açúcar.
Ele afirma que a maior parte
da carne da rede vem de Mato
Grosso (que faz parte da Amazônia Legal), Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Segundo o Pão de Açúcar, sua
etiqueta Taeq, que representa
3% das carnes vendidas, é a única que tem 100% de controle.
Direito à informação
João Sanzovo Neto, presidente da Apas, defende a rastreabilidade para o setor.
Enquanto isso não ocorre,
porém, afirma que os supermercados devem pedir aos fornecedores, em especial os citados em denúncias, a lista das fazendas. E devem repassar a informação para o consumidor.
ONGs e entidades de defesa
do consumidor ressaltam a corresponsabilidade entre governo, empresas e consumidores
na manutenção do problema
-e a pressão de quem compra
carne, de acordo com eles, poderá ser essencial para mudar a
realidade.
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