São Paulo, sábado, 04 de julho de 2009

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Reduzir jornada não é garantia de mais empregos, diz OIT

Diminuição de 44 para 40 horas semanais, aprovada na terça por comissão da Câmara, reacende debate sobre reforma

Experiência de redução de jornada em países europeus aponta para a deterioração das condições de trabalho, afirma especialista francesa


ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

A redução da jornada semanal de trabalho não deve necessariamente levar à criação de empregos, na opinião de John Messenger, da OIT (Organização Internacional do Trabalho). O especialista considera difícil prever os resultados de políticas que têm o objetivo de reduzir de maneira permanente o tempo de trabalho e afirma que as compensações, tanto para empresas quanto para empregados, dependem da forma como for conduzida.
No Brasil, na terça passada, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais e o aumento do valor da hora extra trabalhada, de 50% para 75% do valor da hora normal, foram aprovados por unanimidade por uma comissão especial da Câmara dos Deputados. A PEC (proposta de emenda constitucional) deve ser votada no plenário da Câmara e do Senado, antes de ser promulgada.
Na França, um dos exemplos mais contundentes, a jornada semanal de trabalho foi reduzida de 39 para 35 horas em 1997, e o balanço da mudança é controverso (leia texto abaixo).
"No caso da França, os números são contraditórios, mas o exemplo francês parece indicar que o aumento da competitividade foi bem mais forte do que a criação de empregos", disse Messenger à Folha. Segundo ele, o risco de perda de competitividade pode ser compensado por medidas como redução de salários, subvenções do governo ou reorganização interna da produção.
A redução da jornada de trabalho em países europeus também não teve o impacto esperado na opinião da chefe da unidade de análises da Eurofund (Fundação Europeia para Melhoria das Condições de Vida e Trabalho), Agnès Parent-Thirion. "Quando a França adotou as 35 horas, a redução da jornada era reivindicação dos sindicatos europeus para reduzir o desemprego. Só que isso não aconteceu. As estatísticas não comprovaram efeito real sobre o emprego."
A redução da jornada também acarretou uma deterioração das condições de trabalho, afirma Parent-Thirion.

Flexibilização
"As empresas reorganizaram a produção para tentar aumentar a produtividade individual de cada trabalhador, o que levou a uma degradação das condições de trabalho, com a supressão das pausas ou do tempo para café, por exemplo."
Na análise da especialista, o debate sobre a redução da jornada de trabalho na Europa perdeu terreno com o entrada de novos países no bloco, a partir de 2004. A tendência atual, segundo ela, não é reduzir a duração legal do trabalho, mas adotar medidas de flexibilização que permitam, por exemplo, turnos fora dos horários convencionais, como à noite ou nos fins de semana.
Cada país da União Europeia é livre para determinar a duração e a organização do tempo de trabalho, desde que respeite diretiva que estipula que a média semanal de horas trabalhadas não deve ultrapassar 48 horas. De acordo com estatísticas da Eurostat, a jornada média efetiva semanal para os 27 países do bloco é de 37,8 horas (veja quadro).
O economista Messenger chama atenção para a diferença entre jornada legal e efetiva. Segundo ele, a jornada francesa semanal de 35 horas é menor do que a holandesa, mas o número de horas efetivas trabalhadas na França é maior, já que os holandeses recorrem muito ao tempo parcial.
"É difícil traçar uma tendência geral na Europa. Cada país é diferente. Alguns são bem enquadrados pela lei, como a França. Outros, como Alemanha e Suécia, são mais orientados por acordos coletivos. E há países, como Irlanda ou Inglaterra, em que as leis trabalhistas são menos rígidas."


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