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Reduzir jornada não é garantia de mais empregos, diz OIT
Diminuição de 44 para 40 horas semanais, aprovada na terça por comissão da Câmara, reacende debate sobre reforma
Experiência de redução de jornada em países europeus aponta para a deterioração das condições de trabalho, afirma especialista francesa
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A redução da jornada semanal de trabalho não deve necessariamente levar à criação de
empregos, na opinião de John
Messenger, da OIT (Organização Internacional do Trabalho). O especialista considera
difícil prever os resultados de
políticas que têm o objetivo de
reduzir de maneira permanente o tempo de trabalho e afirma
que as compensações, tanto para empresas quanto para empregados, dependem da forma
como for conduzida.
No Brasil, na terça passada, a
redução da jornada de trabalho
de 44 para 40 horas semanais e
o aumento do valor da hora extra trabalhada, de 50% para
75% do valor da hora normal,
foram aprovados por unanimidade por uma comissão especial da Câmara dos Deputados.
A PEC (proposta de emenda
constitucional) deve ser votada
no plenário da Câmara e do Senado, antes de ser promulgada.
Na França, um dos exemplos
mais contundentes, a jornada
semanal de trabalho foi reduzida de 39 para 35 horas em 1997,
e o balanço da mudança é controverso (leia texto abaixo).
"No caso da França, os números são contraditórios, mas
o exemplo francês parece indicar que o aumento da competitividade foi bem mais forte do
que a criação de empregos",
disse Messenger à Folha. Segundo ele, o risco de perda de
competitividade pode ser compensado por medidas como redução de salários, subvenções
do governo ou reorganização
interna da produção.
A redução da jornada de trabalho em países europeus também não teve o impacto esperado na opinião da chefe da
unidade de análises da Eurofund (Fundação Europeia para
Melhoria das Condições de Vida e Trabalho), Agnès Parent-Thirion. "Quando a França
adotou as 35 horas, a redução
da jornada era reivindicação
dos sindicatos europeus para
reduzir o desemprego. Só que
isso não aconteceu. As estatísticas não comprovaram efeito
real sobre o emprego."
A redução da jornada também acarretou uma deterioração das condições de trabalho,
afirma Parent-Thirion.
Flexibilização
"As empresas reorganizaram
a produção para tentar aumentar a produtividade individual
de cada trabalhador, o que levou a uma degradação das condições de trabalho, com a supressão das pausas ou do tempo para café, por exemplo."
Na análise da especialista, o
debate sobre a redução da jornada de trabalho na Europa
perdeu terreno com o entrada
de novos países no bloco, a partir de 2004. A tendência atual,
segundo ela, não é reduzir a duração legal do trabalho, mas
adotar medidas de flexibilização que permitam, por exemplo, turnos fora dos horários
convencionais, como à noite ou
nos fins de semana.
Cada país da União Europeia
é livre para determinar a duração e a organização do tempo
de trabalho, desde que respeite
diretiva que estipula que a média semanal de horas trabalhadas não deve ultrapassar 48 horas. De acordo com estatísticas
da Eurostat, a jornada média
efetiva semanal para os 27 países do bloco é de 37,8 horas (veja quadro).
O economista Messenger
chama atenção para a diferença
entre jornada legal e efetiva.
Segundo ele, a jornada francesa
semanal de 35 horas é menor
do que a holandesa, mas o número de horas efetivas trabalhadas na França é maior, já
que os holandeses recorrem
muito ao tempo parcial.
"É difícil traçar uma tendência geral na Europa. Cada país é
diferente. Alguns são bem enquadrados pela lei, como a
França. Outros, como Alemanha e Suécia, são mais orientados por acordos coletivos. E há
países, como Irlanda ou Inglaterra, em que as leis trabalhistas são menos rígidas."
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