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Experiência da França causa controvérsia
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A França costuma ser apontada como um caso único na
Europa -um dos exemplos
mais contundentes de redução
legal da jornada semanal de trabalho. Em 1997, o país adotou a
Lei Aubry, reduzindo a jornada
de 39 para 35 horas, mas, hoje,
o balanço da legislação é controverso e divide classe política,
empresários e economistas.
O Medef, o maior sindicato
patronal do país, é categórico.
Para ele, a redução da jornada
teve efeitos catastróficos. Segundo balanço do sindicato, a
diminuição da jornada reduziu
a capacidade de produção da
indústria, com efeitos negativos para a economia francesa.
Em 2002, o Medef estimava a
perda do crescimento ligada às
35 horas em 3% do PIB, o equivalente a cerca de 50 bilhões.
Na mesma época, o custo anual
da redução para os cofres públicos foi avaliado pelo sindicato patronal em 35 mil por ano
e por emprego criado, totalizando 15 bilhões anuais.
O balanço contesta um dos
principais argumentos da esquerda -o de que a Lei Aubry
teria criado 400 mil empregos
de 1997 a 2000. Para o sindicato, o número de empregos criados na França é idêntico à média europeia, o que provaria "a
ineficiência das 35 horas".
Segundo o economista Thomas Coutrot, especialista em
questões trabalhistas do Ministério da Economia da França, o
argumento da perda de competitividade não é utilizado pelos
dirigentes de empresas, mas
sim pelos representantes das
organizações patronais e pelos
partidos de direita. "As empresas negociaram acordos bastante convenientes, com reorganização e maior flexibilidade
do tempo de trabalho. Poucos
empresários hoje querem jogar
por terra as 35 horas", diz.
Competitividade
Para Coutrot, não houve perda de competitividade. "Não há
evidência de que o custo salarial por unidade produzida tenha aumentado. A redução se
fez com ganhos de produtividade. Houve reorganização do
trabalho. Os salários ficaram
praticamente bloqueados por
dois anos, o que possibilitou
manter os custos de produção."
Em um estudo comparativo
publicado em 2003 sobre as 35
horas na França, a OCDE (Organização para a Cooperação e
o Desenvolvimento Econômico) notava que a reorganização
interna do trabalho teria levado
a ganhos de produtividade por
hora trabalhada. A OCDE afirmava, entretanto, que foram
principalmente as vantagens financeiras oferecidas pelo governo que puderam garantir o
equilíbrio das empresas.
Para os principais sindicatos
de trabalhadores franceses, as
35 horas devem ser preservadas. Em junho do ano passado,
quando o governo francês discutia uma polêmica reforma
com o objetivo de flexibilizar o
tempo de trabalho, a CFDT e a
CGT, as duas principais centrais sindicais do país, convocaram manifestação nacional
contra a "desregulamentação
do código do trabalho".
Na reforma do governo, a duração legal de trabalho foi mantida, mas uma série de medidas
deu mais autonomia às empresas para fixar as regras do jogo
diretamente com sindicatos ou
empregados. Um dos objetivos
do governo era melhor remunerar as horas extras, para que
quem quisesse pudesse "trabalhar mais para ganhar mais".
Uma medida que, segundo
Coutrot, não teve efeito.
A média semanal efetiva de
horas trabalhadas na França
está em 38 horas.
"Estamos na média europeia.
Não é justo dizer que a França é
o país onde menos se trabalha
na Europa."
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